Neste fim de semana, 30 de abril e 1º de maio, o autódromo de Interlagos, na capital paulista, será palco da terceira etapa da edição de 2022 da Copa Truck. Os treinos ocorreram ao longo desta semana. A convite da Mercedes-Benz, o Estradão pegou carona em um dos Actros da equipe ASG Motorsport.
Vale ressaltar que a ASG conquistou três vitórias nas quatro corridas que disputou. Os pilotos principais são Wellington Cirino, com duas vitórias, e o dono da equipe, Roberval Andrade. Ele está na oitava colocação após perder pontos depois de sofrer um acidente na etapa de Santa Cruz do Sul (RS).
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Completam a equipe os pilotos Daniel Kelemen, Glauco Barros e Jaidson Zini. Eles chegam a Interlagos de olho na liderança da Copa Truck. Ou seja, tanto na categoria de pilotos quanto na de marcas. A Mercedes-Benz está na segunda posição entre as marcas, com 126 pontos. A VW/Man lidera o campeonato deste ano, com 135 pontos.
De acordo com o pessoal da ASG, o time está bem preparado. Nesse sentido, a equipe conta com 19 profissionais, entre engenheiros e mecânicos. Como resultado, Andrade afirma que a equipe vai dar trabalho neste fim de semana. Seja como for, o calendário deste ano terá nove etapas.
Da estrada para pista
Os Actros da equipe ASG que disputarão o topo do são bem diferentes dos modelos que andam nas estradas. Afinal, um caminhão original pode rodar mais de 1 milhão de quilômetros sem que o motor seja aberto. Porém, o da Copa Truck pode durar apenas um fim de semana.
Foi o que aconteceu com o caminhão de Andrade durante os treinos em Interlagos. Assim, ele vai correr neste fim de semana com um novo motor. “Além dos cinco caminhões da equipe temos outros três com peças reservas, como cabine, rodas, pneus, câmbio, diferencial etc", afirma o piloto. Segundo ele, esses sistemas podem quebrar ou apresentar desgaste severo de forma repentina.
Seja como for, considerando o preço por unidade o caminhão de corrida é mais barato que o de rua. Ou seja, um modelo preparado para a Copa Truck custa, em média, R$ 800 mil. Por sua vez, o Actros 2653 6x4, de topo de linha, tem preço sugerido em torno de R$ 980 mil.
O Actros ao extremo
Assim como o Actros convencional, o da Copa Truck tem motor OM 457 LA de 12,8 litros. Porém, o modelo para as pistas tem muito mais potência e torque. Enquanto no primeiro o seis-cilindros em linha gera 530 cv a 2.600 rpm e 265 mkg a 1.100 rpm, no de competição os números são de, respectivamente, 1.250 cv a 3.500 rpm e 561,2 mkgf a 2.200 rpm. Como resultado, a velocidade máxima é de até 249 km/l.
Para isso, o caminhão para as pistas recebe vários reforços. Para suportar a maior pressão e velocidade, por exemplo, a biela e pistão é forjada com aço de 132 mm. No caminhão convencional, são 128 mm.
Transmissão de ônibus
Do mesmo modo, o câmbio do Actros da competição é o GO 210. Trata-se da transmissão manual de seis velocidades utilizada nos ônibus da Mercedes-Benz. Ou seja, essa caixa atende as regras da Copa Truck, que determina que o câmbio deve ser manual em modo "H". As relações são de 3,90:1 e 3,73:1.
Aliás, as relações de marcha pode mudar conforme a pista. Em outras palavras, em circuitos com mais curvas, o melhor é usar uma caixa mais curta. No mesmo sentido, o diferencial é bloqueado para que as rodas girem juntas e na mesma velocidade. Segundo a ASG, isso garante melhor performance.
Conforme o gerente de desenvolvimento de motores da Mercedes-Benz, Nilton Shiraiwa o modelo de pista compartilha componentes com o de rua. Assim, atende as normas de emissões P6, equivalentes ao Euro 5 e válidas no País.
De acordo com ele, a similaridade não é por acaso. Afinal, os caminhões da Copa Truck servem como laboratório para o desenvolvimento de novas tecnologias.
Mesma cabine, porém, diferente
Apesar de haver várias diferenças, o Actros de pista é bem mais leve que o original. Nesse sentido, a cabine, por exemplo, é igual. Porém, enquanto o caminhão de corrida pesa 5 toneladas, no mesmo modelo rodoviário o peso é de 10 t.
Da mesma forma, o modelo da Copa Truck é 135 mm mais baixo que o convencional e tem 235 mm de altura. Além disso, a distância entre os eixos é mais curta. Ou seja, estamos falando de 3.200 mm, ante os 3.550+1.350 mm do modelo para as estradas.
Ademais, o caminhão de corrida só traz o essencial. Assim, os bancos são do tipo concha e ficam bem próximos do assoalho. No mesmo sentido, os cintos de segurança têm quatro pontos. Além disso, há reforços estruturais para aumentar a segurança, como um gaiola interna.
O sistema de freio é a disco nas quatro rodas, com sistema de refrigeração. Segundo a ASG, o sistema precisa de, em média, 200 litros de água ao longo de 50 minutos de prova. O objetivo é evitar a perda de eficiência.
Na pista
Eu já dirigi e andei de carona em praticamente todas as versões do Actros. Atrelados a implementos do tipo três eixos tradicionais ao rodotrem. Mas nenhum modelo rodoviários se compara ao Actros de corrida.
Peguei carona no caminhão de Kelemen. Ele mostrou, mesmo que em uma única volta, do que o caminhão é capaz. O ronco do motor impressiona. Aliás, isso também tem a ver com o fato de o modelo não ter nenhum tipo de isolamento acústico e térmico.
Segundo Kelemen, a cada corrida ele chega a perder 3 kg. Isso porque, durante a corrida, a temperatura no interior da cabine chega a 60 °C.
Na pista, o caminhão chega aos 230 km/h com o motor girando a cerca de 3.500 rpm. Para comparação, no caminhão convencional, rodando a 80 km/h, o giro do motor fica entre 1.000 e 1.500 rpm. Seja como for, o modelo de pista é firme em curvas.
Isso tem a ver com itens como os pneus e a suspensão, que é formada por um conjunto rígido, com feixe de molas. Assim, o modelo de competição é duro e responde prontamente aos comandos do piloto. Ou seja, trata-se de uma sensação bem diferente da oferecida pela suspensão pneumática com quatro bolsões de ar da versão rodoviária.