A DAF focará a venda de caminhões rodoviários no Brasil e lançará, em 2021, um modelo 8x2 e a família CF renovada. Para depois focar nos caminhões médios LF e nos fora de estrada. As informações foram reveladas pelo diretor-comercial da empresa, Luis Gambim, em entrevista exclusiva ao Estradão. O executivo também contou que a Paccar Financial, braço financeiro da DAF, oferecerá em breve planos especiais para a aquisição dos novos caminhões XF. A linha acaba de ser lançada no País.
Segundo Gambim, agora o objetivo da DAF é se estabelecer no Brasil com uma ampla linha de caminhões rodoviários. O início desta fase contempla os caminhões pesados, segmento no qual a marca tem forte atuação. Em 2021 virão os novos CF e modelos rodoviários rígidos, com destaque para o bitruck com tração 8x2.
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Gambim diz que o novo XF, que acaba de ser lançado no Brasil (acima), é mais moderno que o Volvo FH. E que considera a Scania como uma rival mais à altura da DAF. Com as atualizações, o pesado da marca holandesa vendido no País ficou em pé de igualdade com o oferecido na Europa. A diferença são os sistemas de controle de emissões. Aqui vigora a P7 (norma equivalente à Euro 5) e na Europa está valendo o Euro 6.
Briga de pesados
Em fevereiro, a Volvo apresentou na Europa a nova família FH. O destaque são atualizações nos sistemas eletrônicos, na cabine e em dispositivos de segurança. No Brasil, a marca acaba de lançar a linha 2021 do FH. Há novas opções de distância entre os eixos e itens de segurança ativa, como luzes de alerta de frenagem de emergência. Mesmo com essas inovações, o caminhão vendido no mercado brasileiro está distante do comercializado na Europa.
O fato é que o FH 540 continua sendo o calcanhar de Aquiles para todas as demais fabricantes. O modelo da Volvo é o caminhão mais vendido do País no acumulado de janeiro a agosto de 2020. O XF está na segunda posição no ranking. Em seguida vêm o Volvo FH 460 e o Mercedes-Benz Actros 2651. O Scania R 450 aparece na quinta colocação.
A briga promete ser boa. No ranking de participação de mercado por marca, a DAF aparece na sexta posição. A holandesa está atrás de Mercedes-Benz, Volkswagen, Volvo, Scania e Iveco. Veja aqui a lista dos caminhões mais emplacados no Brasil, na soma total e por segmento. Confira a íntegra da entrevista abaixo.
Caminhão XF
Com a nova linha XF a DAF está mais competitiva. O objetivo é chegar à liderança de vendas?
O novo XF compete com todas as marcas na Europa. Mas, no Brasil, eu considero a Scania como nosso maior competidor quando se trata de tecnologia embarcada e inovações. Com o novo XF, estamos um passo à frente da Volvo em relação ao consumo de combustível. Posso citar vários exemplos que deixaram o DAF mais econômico que o Volvo.
Quais são?
A nova caixa de câmbio ZF Traxon traz um software que mapeia a rodovia por GPS. O sistema faz a leitura da topografia e "sabe" como é rodovia à frente com 2 km de antecedência. O Volvo FH tem o mesmo sistema, porém, tem de passar ao menos uma vez pelo trecho para só depois a ferramenta fazer a leitura. No XF a leitura está disponível já na primeira viagem. Ou seja, o nosso caminhão está uma geração à frente do da Volvo. O Scania é o que mais se assemelha ao DAF nessa tecnologia e também no consumo de combustível.
Mercado de pesados
No Brasil, o DAF XF já vende mais que o Scania R 450.
A Scania caiu bastante em participação de mercado, mas a DAF ainda não a ultrapassou em volume de vendas. Se somar todos os caminhões pesados vendidos pela Scania e pela DAF, a conta é outra. A Volvo está na frente. Depois vem a Mercedes e em seguida, a Scania. A DAF está na quarta colocação. Eu enxergo que o crescimento de market share da DAF será uma consequência natural da aceitação do nosso produto. Muitos clientes estão dando retorno positivo sobre o novo XF. E são clientes que tiveram o primeiro contato com o caminhão em testes. O crescimento de participação já está ocorrendo. Não vamos precisar fazer nenhum esforço para conquistar o mercado. E não estamos preocupados com a liderança de vendas neste momento.
Mas a DAF quer aumentar seus volumes de venda e participação...
Sim. Queremos crescer em volume de vendas, gerar mais empregos e melhorar a nossa participação. Mas a liderança neste momento não é o ponto principal. Queremos, sim, oferecer um produto robusto como era o XF anterior, com conforto e baixo custo operacional. Isso aliado aos novos sistemas de segurança e à cabine com desenho arrojado e em linha com o caminhão vendido na Europa.
Inovações
Que outros aspectos técnicos do DAF XF são mais modernos que os da concorrência?
O XF é totalmente novo e compartilha os mesmos atributos do caminhão vendido na Europa. Além disso, foi ajustado para o mercado brasileiro. Um dos destaques é a nova relação de diferencial, que permite que a entrega de torque ocorra a partir das 900 rpm. Isso se traduz em baixo consumo de combustível. Outra novidade é o multi torque, que garante força extra em última marcha. A transmissão Traxon também é totalmente nova e até 35% mais silenciosa que a antecessora, que também é da ZF. Além disso, é ainda mais moderna e rápida. Sem falar do Eco Roll (direção no modo econômico), do Controle de Cruzeiro Preditivo e do Eco Mode (quando há demanda de torque em subidas e ultrapassagens, por exemplo). A Traxon também é mais compacta e os intervalos para manutenção são maiores.
Pós-venda
Com toda essa eletrônica embarcada, haverá mudanças na oferta de serviços de pós-venda? Ou seja, novos planos de manutenção exclusivos para a nova linha?
Toda a rede de concessionárias da DAF foi treinada por meio de plataforma online. Também fizemos uma convenção de vendas virtual, preparando o vendedor para se tornar um consultor. O objetivo é deixá-lo preparado para detalhar o novo produto. Com relação aos planos de manutenção, não haverá mudanças. Mesmo o veículo sendo repleto de inovações, a manutenção permanece muito simples. A transmissão dispensa itens como garfos de embreagem, por exemplo. Essas peças deram lugar ao atuador concêntrico. O novo item é mais robusto e contribuirá para reduzir o índice de danos da caixa. A tecnologia que a gente está usando no produto traz simplicidade operacional e de manutenção.
Qual é o tamanho da rede da DAF no Brasil e como estão os planos de expansão?
Vamos terminar 2020 com 44 pontos de atendimento. Esse número inclui concessionárias, lojas multimarcas e postos de serviços autorizado. Vamos inaugurar duas concessionárias até o fim do ano, e mais duas lojas TRP (de peças multimarcas). Hoje temos uma loja do tipo no País.
TRP e novos clientes
A TRP ajuda a DAF a avançar no pós-venda e a conquistar clientes que não têm um caminhão da marca?
Sem dúvida. É o nosso cartão de visitas. Enquanto outras marcas só atendem os caminhões delas, a DAF está de portas abertas para atendimento de clientes de qualquer fabricante. É um cartão de visitas porque, no momento em que o cliente entra na nossa oficina, logo percebe a qualidade do atendimento. Além do bom serviço, temos peças com um ano de garantia e por preços competitivos em relação aos da marca original. Com isso, esse cliente certamente acaba se interessando pelos caminhões da DAF.
Preços
O preço do XF será competitivo em relação aos concorrentes?
Nossa política de preços é condizente com todas as inovações presentes no novo caminhão. E será equivalente em relação aos nossos concorrentes, principalmente Volvo e Scania. Quando você olha os valores praticados no mercado, a Scania tem o maior preço, seguida da Volvo e só depois da DAF. Com as inovações implementadas no novo modelo, nosso preço talvez fique superior ao da Volvo. Mas nosso produto também é superior. Os preços dos novos caminhões estão cerca de 20% mais altos que os da geração anterior.
Há alguma facilidade para incentivar a compra do novo modelo?
O banco está preparando uma ação especial com ofertas exclusivas para nossos clientes. Esses planos devem começar a valer até o fim de setembro. Será uma proposta bem agressiva. Até mesmo para dar suporte à chegada do novo caminhão. Essas condições deverão ser mantidas até o fim do ano.
Novos produtos
A DAF ampliará a oferta da linha de caminhões rodoviários no Brasil?
A gente quer manter essas potências de 480 cv e 530 cv no XF. No próximo ano, vamos trazer o CF com duas potências menores. Com isso, vamos entregar um portfólio completo de caminhões pesados.
O segmento de caminhões 8x2 começou como um nicho e já representa 18% das vendas de semi-pesados. A DAF terá algum modelo do tipo no País?
Vamos lançar, sim. E será o melhor caminhão 8x2 do mercado. Esse tipo de caminhão já está partindo para um segmento premium dentro da categoria. Quando eu digo que o nosso 8x2 será o melhor do segmento, me refiro ao conforto na cabine e à potência do motor. Quem opera com esses veículos faz longas viagens rodoviárias. Tecnicamente, nosso caminhão é superior ao líder de vendas desse mercado. Nosso novo caminhão tem oito bolsões de ar. O modelo já está em testes no Brasil e chegará juntamente com a nova linha CF.
Fora de estrada e leves
A DAF apresentou na Fenatran, em 2019, o CF rígido 8x4. Quando o CF for renovado, em 2021, terá essa opção?
O rígido 8x4 vai demorar um pouco para chegar ao mercado brasileiro. Optamos por postergar o lançamento desse modelo porque queremos dar total foco ao segmento rodoviário. O 8x4 virá, mas isso será em uma segunda etapa.
Há planos para o lançamento do LF?
Queremos trazer o LF, sim, ao Brasil. Temos um projeto em andamento e estamos trabalhando. Mas ainda não há uma data prevista para o lançamento deste caminhão no mercado brasileiro. Parte da nossa estratégia será entrar no segmento de rígidos com o novo caminhão 8x2.
Compra online
O showroom virtual DAF chega em meio á pandemia. É o primeiro passo da DAF nas operações online de compra e venda de caminhões e na oferta de outros serviços, como financiamento?
O showroom virtual já está no ar. O cliente consegue navegar e interagir com todas as áreas de serviços oferecidos pela DAF. Isso inclui a Paccar Parts, a Paccar Financial e o Consórcio Nacional DAF. É possível fazer um tour de 360° pela cabine do novo XF, além de ver todos os detalhes e novidades, como o motor, o chassi, etc. É uma plataforma que oferece muita interatividade. Trata-se de uma ferramenta para auxiliar nossa equipe de vendas nesse momento de distanciamento social. E também ajuda aquele cliente que é mais ligado no visual. Há um link que direciona o cliente para a concessionária mais próxima. Mas, sim, há uma tendência de essa plataforma ser explorada de forma mais intensa no futuro.
Sete anos da DAF no Brasil
Que balanço o sr faz desses 7 anos da DAF no mercado brasileiro? A marca chegou juntamente com outras que não vingaram. E ultrapassou empresas tradicionais em números de vendas. Qual é a receita?
Nossa receita é fazer produtos com alta qualidade e tecnologia. E mostrar ao mercado que não somos aventureiros. Que a DAF chegou para ficar e que nossa visão é de longo prazo. Basta olhar nossos investimentos e a estrutura da fábrica. O banco acaba de celebrar um ano de atividade. E o centro de distribuição de peças foi ampliado. São coisas que projetam credibilidade. Também desenvolvemos a estratégia certeira de trazer um produto consagrado.
Brasil e Holanda
Como é lidar com as reviravoltas do mercado brasileiro?
A DAF está inserida em um mercado que já passou por várias crises. Quando chegamos, em 2013, as vendas de caminhões eram de 170 mil unidades por ano. Logo depois que lançamos o primeiro caminhão, o mercado despencou. Dois anos depois, em 2015, apenas a DAF e um concorrente (Volvo) participaram da Fenatran. E agora, lançamos o novo XF em meio à pandemia. A receita é mostrar credibilidade e respeito ao cliente. Os holandeses têm uma cultura evoluída. Trabalham com base no planejamento. No começo foi difícil para o pessoal da matriz entender esses altos e baixos do Brasil. Mas o mundo sabe do potencial do País. Desde então, houve um processo de absorção da cultura brasileira pelos holandeses. Da mesma forma que nós tentamos absorver a cultura dos holandeses aqui no Brasil.
DAF e América Latina
Qual é a representatividade da DAF do Brasil em relação à América Latina?
A matriz sabe que o Brasil é estratégico para o desenvolvimento da marca na América Latina. Temos concessionárias DAF em outros quatro países da América Latina: Equador, Peru, Chile e Colômbia. E nesses mercados são vendidos modelos da Kenworth feitos no México e da DAF produzidos na Holanda. Queremos aproveitar a capacidade da fábrica no Paraná para, nos próximos anos, exportar caminhões para toda a América Latina. Nosso centro de distribuição de peças, que foi inaugurado recentemente, está ocioso. Mas já está preparado para suportar a operação da América Latina.
Quando a DAF pretende entrar em outros mercados da região?
Isso depende muito mais do cenário econômico. Como entrar agora, por exemplo, na Argentina? No momento não vale a pena. É mais uma questão financeira do que técnica. Porque preparados, do ponto de vista de estrutura, nó estamos.