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São Paulo e Rio de Janeiro concentram 80% dos roubos de carga no País

São Paulo tem aumento nos roubos de carga em 2021, mas ocorrências estão caindo desde 2017; crime está em queda no Brasil

Andrea Ramos

05 de out, 2021 · 12 minutos de leitura.

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São Paulo e Rio de Janeiro representam 80% dos roubos de carga no País
São Paulo e Rio de Janeiro representam 80% dos roubos de carga no País
Crédito:Buonny/Divulgação
São Paulo e Rio de Janeiro representam 80% dos roubos de carga no País

Dados da Secretária de Segurança Pública do Estado de São Paulo mostram que os roubos de carga aumentaram. Ou seja, de janeiro a agosto ocorreram 4.131 crimes do tipo no Estado. Alta de 4,71% em relação a igual período de 2020.

Do total de casos, 1.909 foram registrados na Capital, representando 46,21% das ocorrências. Enquanto que a região metropolitana, que compreende 39 municípios, respondeu por 1.273 dos roubos e furtos. Desse modo, representou 30,82% das ocorrências. Os 949 registros restantes correspondem aos crimes do gênero praticados no interior do Estado. E representam 22,97% do total.

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Entretanto, os crimes relacionados aos roubos de carga no Brasil estão em queda. Mesmo com a alta em São Paulo.

E isso ocorre, porque os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, que juntos representam cerca de 80% desses crimes em todo País, intensificaram suas ações de combate ao crime nos últimos anos. Segundo o assessor de segurança da NTC&Logística, Paulo Roberto de Souza.

Souza explica que pode parecer contraditório os roubos de carga estarem em queda no País. Ainda mais puxados por Rio de Janeiro e São Paulo, este, que neste ano apresentou aumento de ocorrências. Porém, a base de comparação vem desde 2017. Ano considerado o ápice dos crimes relacionados aos roubos de carga no Brasil.


Números de ocorrências

Naquele ano ocorreram 25.970 roubos de carga em todo o território nacional. O que significou R$ 1,5 bilhão de prejuízos. O estado de São Paulo foi responsável por 10.584 dos crimes, ou 40,75%. Enquanto que o Rio de Janeiro respondeu por 10.599 roubos a carga cometidos naquele ano. Assim, representando 40,81%.

Em 2018, o Brasil encerrou com 22,183 roubos. Sendo São Paulo responsável por 8.738 ocorrências e Rio de Janeiro por 9.182. De mesmo modo, em 2019, os crimes continuaram a cair. Registrando 18.383 roubos de carga em todo o País. Sendo que o Rio de Janeiro respondeu por 7.455 dos crimes e São Paulo por 7.325.

Contudo, em 2020 o número de crimes do tipo chegou a 14,2 mil no Brasil. Ou seja, queda de 54,67% em relação ao ano de 2017.


No ano passado, São Paulo respondeu por 5.918, enquanto que o Rio de Janeiro apresentou 4.986. Contudo, neste ano, o Ministério da Justiça divulgou os dados até maio. Porque nem todas as secretárias de segurança dos estados atualizaram os dados. Seja como for, até os cinco primeiros meses do ano 5.628 roubos de cargas ocorreram no País.

Resposta ao crime organizado

De acordo com o coronel Souza, quando ocorre o mesmo tipo de crime em uma determinada região, e com frequência, é natural que a polícia concentre suas ações no mesmo lugar. Assim com os bandidos também migram para outros locais. Porém, diante das altas incidências, sobretudo nas estradas próximas às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, a polícia intensificou suas ações. O que, segundo o assessor de segurança da NTC, não deixou muita opção para os criminosos.

Ademais, Souza afirma que até o primeiro semestre deste ano, o índice de roubos de carga em São Paulo estava ainda maior. Representava 7,61% em relação ao primeiro semestre de 2020. “Por causa do policiamento mais enérgico nos locais de maior concentração de caminhões, os meses de julho e agosto mostraram redução de ocorrências”, diz Souza.


Seja como for, o coronel ainda lembrou que desde 1997, São Paulo mantém o programa de prevenção e redução de furtos, roubos e desvios de carga (Procarga). Programa que visa patrulhar de maneira mais assertiva as regiões consideradas críticas para esse tipo de crime. E por causa da crescente nos números até 2017, o programa se tornou mais efetivo.

No Rio, combate ao roubo de carga é prioridade

Em razão da escalada da criminalidade, principalmente entre os anos de 2013 e 2017, o Estado do Rio de Janeiro posicionou o roubo de carga como o sexto principal crime. Integrando o chamado Indicadores de Criminalidade. Ou seja, quando ocorre o roubo de carga no Rio, a polícia tem que atender com a mesma prioridade que atende a crimes como latrocínio, homicídio ou estupro, por exemplo.


“Por essa razão, quando Rio de Janeiro e de São Paulo começaram a criar mecanismos de combate ao roubo de carga, estatisticamente, as ocorrências caíram em todo o País. Mas eu também vejo que a tecnologia evoluiu muito. Os sistemas de segurança como rastreamento e monitoramento de veículos dificultam cada vez mais as ações dos criminosos”, avalia Souza.

Onde o roubo de carga mais se concentra

Souza explica que regiões localizadas perto das rodovias e que ficam até 30 km distantes da Capital são as mais sensíveis aos roubos de carga. Geralmente são locais que concentram mais centros de distribuição. Assim como empresas de transporte. O que atrai quadrilhas especializadas atraídas por mercadorias de alto valor agregado. Como combustíveis, eletrônicos, medicamentos etc.

Por essa razão, os roubos que mais preocupam os transportadores são os que ocorrem nas rodovias. “Porque nas estradas estão as cargas de maior valor agregado. Por isso os bairros que passam pela Dutra ou Fernão Dias, em São Paulo. Ou mesmo na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, concentram as maiores ocorrências”, explica Souza.


Mas há ainda um outro perfil de ocorrência. As que acontecem dentro das cidades. Por concentrarem grande movimentação de mercadorias de entregas, bandidos, nesse caso, alguns de oportunidade, se aproveitam.

“O roubo de cargas atrai dois perfis de criminosos. Aqueles de oportunidade que chegam na hora que a mercadoria está sendo entregue no estabelecimento. Geralmente são marginais especializados em roubos de perecíveis. Ou seja, cuja prova do crime desaparece horas depois. Como alimentos, cigarros e bebidas, por exemplo. Enquanto na rodovia age o crime organizado”, explica o assessor técnico da NTC.

Levantamento revela comportamento dos criminosos

Segundo o Grupo Tracker, empresa especializada em rastreamento de veículos, os bandidos preferem produtos alimentícios, combustíveis, têxteis. Assim como eletrônicos, bebidas, cigarros, defensivos agrícolas e itens farmacêuticos.


Ainda de acordo com a companhia, estima-se que uma carga roubada seja vendida por “meia nota”. Ou seja, 50% do valor total da nota fiscal da mercadoria em questão.

Os delitos geralmente são praticados pela manhã. Momento em que os veículos de carga saem dos embarcadores totalmente carregados. Assim, as quadrilhas especializadas mantêm o motorista em cárcere privado até que seus objetivos sejam concluídos.

Os dados são com base no Boletim Econômico Tracker com o Departamento de Pesquisas em Economia do Crime (FECAP). A partir da análise dos boletins de ocorrência registrados pela Secretaria de Segurança Pública.


Locais de roubos em São Paulo no primeiro semestre

Ainda de acordo com o levantamento da Tracker, Cubatão, Cajamar, Itaquaquecetuba, Osasco, São Bernardo do Campo, Embu das Artes subiram no ranking de roubo. No entanto, o topo da lista continua ocupado por São Paulo, Guarulhos e Jundiaí, sendo que estes dois últimos municípios concentram muitas empresas de transporte e centros de distribuição de mercadorias.

Para o coordenador do estudo do Grupo Tracker e professor do Departamento de Pesquisas em Economia do Crime (FECAP), Erivaldo Costa Vieira, a retomada econômica do setor de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios contribuiu para o aumento das ocorrências este ano, em relação a 2020.

“Em junho de 2021, o número de roubos e furtos a caminhões e reboques aumentou de 7,22%, na comparação com junho de 2020. No mesmo período, o setor cresceu 25,1%. Analisando o ano de 2020, os roubos e furtos a caminhões e reboques caíram 23,57%, quando comparado a 2019. No acumulado do ano passado, o setor de transportes registrou recuo de 9,3%, no estado de São Paulo, de acordo com dados do IBGE”.


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