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Para Roberto Cortes, da VWCO, renovação de frota está atrasada

Roberto Cortes, CEO da VWCO, diz que um programa de renovação de trota ajudaria a reduzir as emissões de poluentes e o custo de logística no Brasil

Andrea Ramos

16 de set, 2020 · 12 minutos de leitura.

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Crédito:VWCO/Divulgação
Para Roberto Cortes, da Volkswagen Caminhões e Ônibus, renovação de frota já deveria estar ocorrendo no País

CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), Roberto Cortes diz que, apesar da imprevisibilidade da política e da economia, o Brasil é um ótimo lugar para o negócio de veículos comerciais. Tanto é que o País é o "número 1" nas operações do Grupo Traton, dono das marcas VWCO, MAN e Scania.

Nesta entrevista exclusiva ao Estradão, Cortes afirma que no Brasil o retorno de investimentos é no longo prazo. E que, para ser saudável, o negócio dever ser autossustentável, como, segundo ele, o da VWCO no País.

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O brasileiro diz ainda que o País está atrasado na agenda de renovação de frota. Ele lembra que, como a frota é velha, os custos logísticos são altos. Ele também celebra a marca de 230 mil Constellation vendidos no mundo. A linha, lançada há 15 anos, responde por 16% de participação da marca no mercado de caminhões no País. Confira a íntegra da entrevista.

Brasil: o número 1 do Traton

O sr. é brasileiro e comanda uma subsidiária do tamanho da VWCO há anos. Isso ajuda a trazer investimentos?
Eu tenho 40 anos de Volkswagen, sendo 20 cuidando de automóveis e outros 20 no setor de caminhões. Sempre digo que uma das vantagens de trabalhar em uma empresa como a Volkswagen é que nós olhamos o nosso negócio de acordo com o período vivido pelo País. Há anos que não são bons, mas outros são muito bons. Mesmo assim o Brasil é um lugar bem interessante para se fazer negócio. Mesmo porque o País depende de caminhões. É isso que eu passo para a matriz.

Essa grande dependência do caminhão é uma vantagem?
A matriz sabe que o Brasil é um país emergente. Por isso, nem todos os anos serão bons. E, como a dependência de veículos comerciais é grande, vamos consolidando nossa credibilidade. Todos os produtos que lançamos foram bem aceitos. Além disso, nossa política é o autofinanciamento. Se o investimento foi feito aqui, tem de gerar dinheiro aqui. Obviamente, tudo isso é feito com o aval do Grupo Traton. Estarmos entre os líderes de mercado é resultado de um trabalho que comprova para a matriz que temos credibilidade.


Credibilidade da VWCO no Brasil

Imagino que a matriz tenha muitas dúvidas por causa da imprevisibilidade política e econômica no Brasil.
Sim, exatamente. É aí que a minha experiência pode ajudar. Os investimentos são embasados em uma visão de longo prazo e em resultados alcançados. Fico triste quando algum competidor sai do mercado. No Brasil, ter visão de curto prazo é um erro. Estamos saindo de uma crise em que a produção da indústria caiu 70%. Há obrigações regulatórias, ligadas à novas tecnologias e emissões, que requerem investimentos. Mas, ainda assim, acreditamos no Brasil. Tanto que, mesmo em meio à crise, lançamos o Meteor e o novo Constellation. E no ano que vem vamos apresentar o caminhão elétrico (e-Delivery). O Brasil é o número 1 para os negócios do Grupo Traton.

Retomada do mercado

A VWCO e outras fabricantes vêm anunciando grandes vendas pontuais no Brasil. É sinal de retomada?
Da segunda quinzena de março até o início de junho, a queda nas vendas foi brutal. Se você comparar as vendas de caminhões no primeiro semestre de 2020 com as do segundo semestre de 2019, a retração foi de 85%. Portanto, é natural que haja uma recuperação no segundo semestre de 2020. O Brasil ficou parado por quase três meses, com interrupção das linhas de produção e fechamento de fronteiras. Então esse retorno é normal. A questão é quanto dessas vendas está ligada à recuperação da economia e o quanto se refere à compensação do tempo que ficamos parados. Creio que é um pouco das duas coisas. Mas posso afirmar que o que faz vender caminhão mesmo é o crescimento do PIB. E o PIB do Brasil não vai crescer neste ano.

VolksConfia

A VWCO lançará uma loja de seminovos em outubro. Qual é a expectativa em relação a essa unidade de negócio?
Estamos diversificando nossa atuação e indo muito em direção à prestação de serviços. E a cada momento a gente quer lançar novos serviços porque o mercado está demandando. Como nossos revendedores também trabalham com usados, vamos oferecer esse serviço "de fábrica". Com a vantagem de a loja ser multimarca. Essa é uma operação que vai nos ajudar também no negócio de caminhão zero-km, porque o usado acaba entrando como parte de pagamento. É uma visão estratégica de serviços e uma forma de valorizar a marca. E, obviamente, quem comprar um usado conosco terá várias garantias asseguradas pela marca.


Já há planos para expandir esse negócio?
Estamos começando com uma unidade no interior de São Paulo. Ela vai servir de central para todos os demais negócios no País. Mas não descartamos a abertura de mais unidades pelo Brasil.

Renovação de frota

A renovação de frota é uma bandeira defendida pelo setor. O sr. acredita que o plano será colocado em prática?
A questão da idade da frota brasileira é algo que não faz sentido. Além de ser insegura, essa frota custa e polui muito. É também uma das razões do alto custo logístico no País. Caminhão velho não é produtivo. A gente pode conseguir alinhar os benefícios ambientais gerados pela renovação da frota com a necessidade de reativar a produção e a economia.As taxas de juros estão baixas e o consumidor tem vontade de renovar. Estamos conversando com o governo, bancos de montadoras e entre nós da indústria e as conversas estão progredindo. Estou esperançoso, mas creio que ainda é muito cedo para falar de um plano efetivo. Porque as prioridades de alguns nem sempre são as mesmas de outros.


Uma política efetiva de renovação de frota seria mais eficaz do que uma nova legislação para reduzir emissões?
A tecnologia equivalente à Euro 5 polui algo como 25 vezes menos que a anterior. Como indústria buscamos ajudar a melhorar as condições climáticas. Isso independentemente de outras medidas, sobre as quais eu não gostaria de falar. A renovação de frota seria um grande avanço na questão ambiental. E ajudaria a reduzir os custos de logística no Brasil.

Volkswagen Caminhões

A Volkswagen Caminhões está celebrando os 15 anos do lançamento do Constellation e 230 mil unidades vendidas. Que balanço o sr. faz do modelo e dessa história?
A linha Constellation é best-seller no mercado e nos ajudou a ter uma grande presença no segmento. Com o Constellation temos 16% de participação nesse mercado. Se a gente somar os 14% representados por outra linha best-seller, que é a Delivery, temos 30% de participação do leve ao pesado. O Constellation representa um pouco mais da metade da nossa participação de vendas no Brasil. É um sucesso que deve ser comemorado. Agora, com o lançamento do Constellation 33.460, estamos entrando no segmento de fora de estrada. Esse caminhão já nasceu robusto e tem motor MAN, o mesmo do novo Meteor. Acredito plenamente que se trata de um caminhão na medida certa para o mercado.

Consórcio Modular

O consórcio modular para veículos elétricos vai impulsionar o desenvolvimento dessa tecnologia no País?
Não tenho dúvidas de que o consórcio modular (operação em que os fornecedores montam peças e ou conjuntos inteiros dentro da fabrica da montadora) é inovador. Com isso conseguimos fazer, em média, 300 variações de um mesmo produto. A produção flexibilizada permite entregar o caminhão que o cliente precisa no menor tempo possível. Algumas fabricantes levam até dois meses para entregar um caminhão que, nós, por meio do consórcio, entregamos em poucos dias. É uma grande vantagem. Com o e-Consórcio para a produção de elétricos, estamos montando um parque de inovação. Não tenho dúvidas de que isso vai impulsionar a chegada da eletromobilidade ao País.


Atualizada às 18h21

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