As perspectivas indicam que em 2021 serão vendidos 100 mil caminhões novos no Brasil. Ainda assim, o transporte rodoviário de cargas foi um dos setores mais afetados pela crise causada pela covid-19. Especialmente no segundo trimestre de 2020.
Contudo, os profissionais do mercado dizem que essa projeção deve ser vista com cautela. Por um lado, há sinais claros de reaquecimento da economia. Mas a indefinição acerca dos rumos da pandemia dificulta a tarefa de desenhar perspectivas para 2021.
Seja como for, na sexta-feira (8). a Anfavea vai divulgar os dados de produção em 2020. E deve anunciar as perspectivas para 2021.
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Vice-presidente da associação das montadoras para o segmento de pesados, Marco Antonio Saltini (foto abaixo) diz que as perspectivas indicam que 2021 será um ano de incertezas. Para o executivo, além da pandemia, que deverá se arrastar por mais tempo até a chegada da vacina, a situação econômica ainda é uma incógnita.
Economia ainda sofre com o novo coronavírus
"Há um novo aumento do nível de contaminação pelo novo coronavírus. E isso já está levando algumas cidades a voltarem atrás na flexibilização", diz Saltini.
Segundo ele, mesmo com o início da vacinação levará tempo para que toda a população seja imunizada. E a economia poderá ser impactada com isso.
Para Saltini, o agronegócio continuará indo bem. "Mas outros setores, como o de bares e restaurantes, shoppings e comércio em geral, poderão sofrer algum retrocesso."
Para o vice-presidente da Anfavea, isso deverá impactar diretamente a indústria. Inclusive o negócio de caminhões, segundo as perspectivas.
Perspectivas indicam melhora em 2021
Saltini ainda coloca na conta a redução da oferta de recursos do governo federal. Ele lembra que em 2020 foram injetados R$ 600 bilhões no enfrentamento da pandemia.
O executivo também está preocupado com a alta taxa de desemprego no País. Assim, ele diz que a indústria de caminhões não enxerga com clareza como será 2021.
"O ano ainda é incerto. Mas imagino que não será pior do que foi 2020", afirma Saltini.
Em 2019, a economia voltou a crescer. E a média mensal de vendas de caminhões era de 8 mil unidades.
Em dezembro de 2020, foram emplacadas 9,6 mil unidades. Para Santini, esse é um sinal de que 2021 será melhor.
Pontos de atenção em 2021
Da mesma forma, segmentos que estavam em alta em 2020 devem repetir o bom resultado em 2021. Ou seja, as perspectivas são de que o agronegócio e a mineração vão continuar acelerando.
Mas o vice-presidente da Anfavea lembra que há desafios a enfrentar. Entre eles está o atendimento à alta na demanda, que deverá se estender ao longo do ano.
No segmento de pesados, a participação nas vendas em 2020 foi a mais expressiva dos últimos anos. Ou seja, os caminhões pesados responderam por quase 50% das vendas.
E a procura aumentou ainda mais nos últimos meses de 2020. E essa categoria é um importante termômetro da economia. Além disso, indica que vários setores vão demandar caminhões em 2021.
Falta de matéria-prima preocupa
Do mesmo modo, somando as vendas dos segmentos de pesados e semipesados dá 75,6% de participação do mercado em 2020. Esse número é muito próximo dos 76,3% registados em 2019. .
No entanto, a falta de de matérias-primas para a produção de caminhões está provocando impactos no setor. Por isso, Saltini não descarta a possibilidade de algumas linhas chegarem a parar.
Além disso, o preço dos insumos disparou. "Essas são variáveis que vão nortear o início de 2021. E nas quais deveremos prestar atenção.".
Vendas de caminhões chegarão a 100 mil unidades
Seja como for, profissionais do setor acreditam que as vendas em 2021 devem ficar próximas das de 2019. Ou seja, as perspectivas apontam para em torno de 100 mil unidades.
Esse número considera a projeção de crescimento de importantes segmentos da economia. É o caso do comércio eletrônico e da construção civil, que deslancharam em 2020.
No segundo caso, é preciso haver um empurrão do poder público. "O governo precisa voltar a investir em infraestrutura", diz Saltini.
Vendas de caminhões em 2021 chegarão a 100 mil unidades
Ainda assim, ele lembra que à medida que as taxas de juros caem, o consumidor volta a ficar de olho na compra da casa própria. E isso atrai investimentos.
"Mas estamos observando um ligeiro aumento da inflação. E esse é um ponto de atenção", afirma o executivo. Mesmo assim, ele diz que as perspectivas são positivas.
Para Saltini, o comércio eletrônico crescerá ainda mais. Com isso, deverá impulsionar as vendas de caminhões em 2021. Sobretudo dos segmentos de leves semi-leves e médios.
2021: continuidade da retomada de 2019
Sócio-gestor da consultoria MA8 Management Consulting Group, Orlando Merluzzi (foto abaixo) diz que em 2021 o Brasil verá a retomada do crescimento iniciada em 2019. Mas o avanço foi interrompido pela pandemia.
"Se não fosse a covid-19, a queda não teria acontecido. E haveria um aumento de 14% a 15% nas vendas do setor. Tanto que começou a faltar caminhão no mercado."
Mas Merluzzi lembra que isso só será possível se houver previsibilidade econômica. Além disso, será necessário tranquilidade política e que as reformas previstas pelo governo saiam do papel.
"Só dessa forma os setores de produção e varejo terão confiança. Isso refletirá na alta do movimento econômico e nas vendas de caminhão", afirma.
Contudo, se não houver imprevistos, Merluzzi, que é especializado no segmento de pesados, projeta alta nas vendas de 15 mil unidades ante 2020. Com isso, as perspectivas apontam para um mercado com os mesmos níveis de 2019.
Resoluções do Contran são desafio para a indústria
Outro desafio para a indústria de caminhões diz respeito à legislação. E implica resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que passam a vigorar entre 2022 e 2023.
A norma do Contran 799, de 22 de outubro de 2020, por exemplo, trata da segurança veicular. Algumas resoluções foram postergadas e outras, mantidas.
São normas relacionadas à segurança na cabine e introdução de controle eletrônico de estabilidade. Além da redução de ruído e das emissões de poluentes. As duas últimas entrarão em vigor em 2023.
"Essas normas trazem uma série de complexidades. Tanto que essa é a real razão de a Ford ter saído do mercado de caminhões no Brasil", afirma Merluzzi.
"Em outras palavras, quem não começou a trabalhar no desenvolvimento de novas tecnologias há dois ou três anos não vai conseguir atender as normas nas datas previstas. E por isso que há montadoras que estão, em conjunto com a Anfavea, pedindo para postergar a entrada em vigor do Proconve 8 (equivalente ao Euro 6)", diz.
Proconve 8 e novas leis voltadas à segurança
Outra incógnita é com relação ao mercado. Em 2011, na véspera da entrada em vigor do P7 (Euro 5), a economia brasileira e as vendas de caminhões estavam bem.
Com isso, muitos frotistas anteciparam a compra de caminhões novos. Sobretudo os que tinham receio da introdução das novas tecnologias.
Então, eles optaram por comprar os caminhões que estavam em estoque. Esses modelos ainda atendiam o P5 (Euro 3).
"Mas agora estamos saindo de uma crise. E, mesmo que a tecnologia seja conhecida, vai ser cara. O transportador estará disposto a pagar por isso?", diz.
Para consultor, indústria deve focar 2022
Há muitas normas de segurança entrando em vigor. "E os preços dos novos caminhões serão cerca de 20% mais altos que os dos atuais", explica Merluzzi.
Assim, ele acredita que a indústria deverá se preparar para 2023. "Em 2021, o crescimento das vendas será orgânico", afirma.
Segundo o consultor, o Brasil vai sair da crise pandêmica depois da vacina. Com isso, naturalmente a economia vai voltar a crescer.
"A perspectiva é que o empresário voltará a comprar caminhão. E haverá promoções, porque tem montadora que precisa vender. Além disso, o agronegócio está muito bem. O desafio é olhar o movimento de 2022".
Mais investimentos e inovações
Embora haja incertezas, as fabricantes de caminhões estão otimistas com relação a 2021. E a maioria informa estar preparada para encarar as novas demandas.
Presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes, (foto abaixo) anunciou que a empresa vai investir R$ 2 bilhões entre 2021 e 2025 no Brasil.
Trata-se de um montante sem precedentes. “Temos orgulho em dizer que esse é o maior valor depois de cinco ciclos de investimentos. Sendo quatro deles da ordem de R$ 1 bilhão e o quinto, de R$ 1,5 bilhão”, disse Cortes durante o anúncio.
Os recursos serão direcionados ao desenvolvimento de novas tecnologias, como eletrificação e redução de emissões. Isso inclui atender as normas do Proconve P8, que devem entrar em vigor no País em 2023.
No caso da eletrificação, a VWCO lançará, no primeiro semestre, o caminhão médio e-Delivery. Mas a empresa pretende estender a tecnologia a outros segmentos. Isso inclui caminhões leves.
DAF e Iveco apostam no pós-venda
Ainda sem revelar quantas concessionárias devem inaugurar no País, DAF e Iveco confirmam que em 2020 vão repetir o que fizeram em 2020. Ou seja, investir no atendimento e na ampliação da rede.
A Iveco encerrou 2020 com 77 pontos de atendimento no País. Incluindo concessionárias plenas e unidades de assistência técnica.
Em 2020, a marca abriu 12 unidades de atendimento. Já a DAF, inaugurou oito novas unidades. Com isso, soma 44 pontos no Brasil.
Responsável pela rede da Iveco na América do Sul, Marcelo Assis afirma que a expansão continuará em 2021. “Nosso trabalho será para continuar a ampliação da capilaridade de atendimento."
De acordo com ele, um dos desafios é padronizar a rede. "Tudo para que tenhamos, ainda mais, um atendimento ágil e que proporcione maior disponibilidade do veículo ao cliente.”