A Iveco, a FPT (empresa da CNH Industrial) e a Nikola Motor Company anunciaram a produção em série do caminhão Nikola Tre. O cavalo-mecânico com motor elétrico será feito na fábrica da Iveco em Ulm, na Alemanha. O Nikola Tre é baseado no Iveco S-Way, tem motor a eletricidade alimentado por célula a combustível e será lançado em 2023.
Trata-se de uma evolução e tanto. O Nikola Tre é um Fuel Cell Electric Vehicle (FCEV), ou veículo elétrico a célula a combustível. Esse tipo de modelo é raro até em países como Japão e Coreia. E, diferentemente dos elétricos convencionais, os FCEV não precisam ser recarregados na tomada.
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No Nikola Tre, a pilha a combustível transforma hidrogênio em eletricidade. O sistema é baseado em uma reação química. Não há combustão, tampouco emissão de poluentes. Pelo escapamento, sai apenas água.
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Com a parceria, firmada em setembro de 2019, a CNH Industrial investiu US$ 250 milhões (mais de R$ 1 bilhão) na Nikola Motor. A empresa norte-americana é uma startup. O termo designa as companhias que tem como principal objetivo criar e/ou desenvolver ideias e modelos de negócio que possam ser feitos em série.
A Nikola Motor Company projeta picapes e caminhões elétricos. Sua sede fica em Phoenix, no Arizona, mas a companhia foi fundada em 2014 em Salt Lake City, no Estado de Utah. O nome é uma homenagem ao cientista austríaco Nikola Tesla, cujo sobrenome também batiza a maior fabricante de carros elétricos do mundo.
A fábrica de Ulm é o núcleo de engenharia de chassi da Iveco. Na planta estão concentrados os laboratórios de pesquisa de marca italiana. A região é um polo de pesquisa e produção de células a combustível. Isso significa que a unidade da Iveco se beneficia da proximidade com os principais fornecedores.
Outro motivo para a escolha da Alemanha é o interesse do governo em financiar programas voltados ao desenvolvimento de tecnologias "limpas" de produção. A país investirá € 2 bilhões (cerca de R$ 9,4 bilhões) em pesquisa e infraestrutura para reabastecimento de veículos a célula a hidrogênio.
“A parceria com a Nikola prova que o transporte de longa distância com emissão zero (de poluentes) está se tornando realidade. Isso vai resultar em benefícios ambientais tangíveis para os transportadores”, diz Hubertus Mühlhäuser, CEO da CNH Industrial.
Iveco vai produzir caminhão a célula de hidrogênio
No primeiro estágio do projeto, as empresas parceiras investirão € 40 milhões de euros para aprimorar as instalações de manufatura. A previsão é que o início da produção ocorra no primeiro trimestre de 2021.
“O Nikola Tre está provando ser o caminhão articulado mais moderno do mundo e vai continuar definindo o padrão de veículos com emissão zero hoje e no futuro”, afirma Trevor Milton, CEO da Nikola Motor Company.
Os primeiros caminhões a sair da fábrica terão tração 4x2 e 6x2. Os cavalos-mecânicos têm baterias modulares com capacidade de até 720 kWh. A potência do motor elétrico é de 653 cv.
A fábrica de Ulm receberá as partes do caminhão das plantas da Iveco em Valladolid e Madri, na Espanha. A nova plataforma do Iveco S-Way inclui evoluções no sistema de infotainment (informação, conectividade e entretenimento) da Nikola.
O testes com o Nikola Tre devem começar em meados deste ano. O protótipo do cavalo-mecânico com motor elétrico será mostrado ao público durante o Salão do Hannover. O IAA Commercial Vehicles), na Alemanha, ocorrerá de 24 a 30 de setembro.
Caminhões a hidrogênio pelo mundo
Os veículos elétricos com célula a combustível não emitem poluentes e não precisam ficar parados por horas para recarregar as baterias. O reabastecimento é semelhante ao de um modelo com motor a combustão. Outra vantagem é que os motores elétricos oferecem muito torque. E a entrega de força é instantânea.
O Nikola Tre não é o primeiro caminhão com essa tecnologia. Em janeiro, a Scania iniciou os testes na Suécia com modelos elétricos com células de hidrogênio. Os veículos têm tração 6x2 e peso bruto total (PBT) de 27 toneladas. O motor elétrico gera o equivalente a 395 cv de potência e 224,5 mkgf de torque.
No fim do ano passado a Hyundai apresentou nos Estados Unidos um protótipo de caminhão com motor elétrico a célula a hidrogênio. O modelo, batizado de HDC-6 Neptune tem peso bruto total (PBT) de 15 toneladas e visual futurista. Segundo informações da marca sul-coreana, a produção em série do novo veículo deve começar antes de 2030.
A Toyota também desenvolveu em 2017 um caminhão com esse tipo de sistema. O protótipo utilizava a plataforma do norte-americano Kenworth T660. O objetivo da empresa japonesa era mostrar que essa tecnologia é viável para caminhões que atuam em operações rodoviárias. O modelo tinha motor com potência equivalente a 670 cv e torque de 135,1 mkgf.
A fabricante de motores a combustão Cummins também mostrou sua versão de caminhão pesado elétrico com célula a hidrogênio. O protótipo foi projetado para desenvolver o equivalente a 123 cv de potência.
A capacidade da bateria de íons de lítio é de 100 kWh. A autonomia do caminhão conceitual varia de 250 a 400 km, dependendo do tipo de uso e peso da carga, de acordo com informações da empresa.
Célula a combustível tem quase 200 anos
A célula a combustível foi criada na Inglaterra em 1839 por Sir William Grove. A tecnologia não decolou porque naquela época as fontes de energia eram abundantes. E a preocupação com a poluição ambiental simplesmente não existia.
Grosso modo, o sistema transforma energia química em elétrica. Entre as vantagens em relação à energia gerada pela queima de combustíveis fósseis é que não há perdas.
O sistema produz baixíssimo impacto ambiental. Não há vibrações, ruídos, combustão, emissão de material particulado ou gases poluentes.
O principal elemento utilizado nas pilhas a combustível é o alumínio. A vantagem é que esse metal é 100% reciclável. Isso resolve um dos grandes problemas dos elétricos convencionais. A produção das baterias geram muita poluição. E sua reciclagem é complicada e cara.
Etanol é opção ao hidrogênio
Atualmente, o combustível mais viável para uso no sistema de célula a combustível é o hidrogênio. Entre os pontos negativos estão o alto risco de explosão.
A principal aposta de produto alternativo ao hidrogênio é o etanol. A Nissan, por exemplo, já fez vários testes com o combustível de origem vegetal.
O sistema foi adaptado a uma van NV200. O protótipo foi testado primeiro no Brasil e abastecido com 100% de etanol. Com o tanque de 30 litros e as baterias de 24kWh, o carro tinha autonomia superior a 600 km.
A escolha do País teve a ver com liderança na produção mundial de etanol. Além disso, o Brasil tem uma ampla rede de postos de abastecimento que oferecem o derivado da cana-de-açúcar.
Os testes mostraram que a tecnologia é viável. E poderia ser utilizada sem restrições em todo o território brasileiro.
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Nissan tem projeto com a Unicamp
A Nissan deu um importante passo nessa direção. Em abril de 2019 a marca assinou um acordo com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo é financiar pesquisas para utilização de etanol em veículos eletrificados.
A área de Genômica e Bioenergia da Unicamp está diretamente ligada ao projeto. O laboratório estuda formas de produção do chamado etanol de segunda geração. Esse combustível pode ser obtido a partir de celulose, como o bagaço e a palha de cana-de-açúcar, entre outros vegetais.
Entre eles está a cana-energia. A planta tem alta concentração de açúcar celulósico (que não é solúvel) no caule. Outra vantagem é sua elevada produtividade. A média é três vezes superior à da cana-de-açúcar.
NV 200 pode voltar ao Brasil
Gerente de engenharia da Nissan do Brasil, Ricardo Abe diz que a cana-energia é o futuro. “Ela não vai gerar conflitos, pois não é utilizada como alimento”, afirma. Além disso, é bem mais resistente que a cana-de-açúcar. “Essa planta pode ser cultivada inclusive em locais áridos, como algumas regiões do nordeste brasileiro”, afirma.
Embora a Nissan não confirme, o NV 200 a pilha a combustível pode voltar ao País. Nesse caso, para testar a utilização de etanol de segunda geração.