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Gás ganha força como alternativa à alta do preço do diesel

Criação de um comitê focado na disseminação de tecnologias e na ampliação da oferta de gás para veículos é apoiada por marcas como Scania e Iveco

Andrea Ramos

01 de out, 2021 · 10 minutos de leitura.

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Comitê Nacional do GNV quer desenvolver a tecnologia no País
Comitê Nacional do GNV quer desenvolver a tecnologia no País
Crédito:Scania/Divulgação
Comitê Nacional do GNV quer desenvolver a tecnologia no País

O gás está se tornando uma importante alternativa ao diesel, inclusive no setor de transportes. Apenas nos últimos 15 meses, o preço do óleo aumentou 49,7%. Segundo a NTC&Logística, que informa que o combustível representa 46,08% do custo de operação de um caminhão. Porém, há grandes desafios pela frente. Primeiramente, apenas a Scania vende caminhões a gás no Brasil. Em breve, a Iveco deve lançar um modelo do tipo. Além disso, a oferta do produto está concentrada as regiões Sul e Sudeste.

Nesse sentido, foi criado o Comitê Nacional do GNV. A iniciativa é resultado do acordo de cooperação técnica. Assim, reúne a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e o Senai. Bem como o Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios (Sindirepa) e a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP).

Segundo o presidente do Comitê, Celso Mattos (abaixo), o objetivo é fortalecer setor. Portanto, isso inclui o desenvolvimento da infraestrutura de reabastecimento de veículos a gás. Isso, evidentemente, inclui os novos caminhões. Seja como for, ele cita o crescente número de conversões no segmento de automóveis. De acordo com ele, as ações incluem disseminar informações sobre normas técnicas. Além de apoiar os órgãos de fiscalização.


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Novas tecnologias no setor de gás

Assim também, o Comitê quer trabalhar para disseminar conhecimento sobre o gás para veículos e seus benefícios. De acordo com Mattos, a tecnologia está evoluindo rapidamente. “Queremos promover seminários. E envolver as fabricantes de veículos, bem como a indústria do gás, com o propósito de apresentar os últimos desenvolvimentos e tendências”, afirma.

Além disso, o Comitê pretende trabalhar para mudar questões legais de tributação. Dessa forma, entre as pautas estão sensibilizar governos municipais e estaduais. Dessa forma, a ideia é obter descontos no pagamento do IPVA para veículos a gás. Bem como a liberação do rodízio municipal na capital de São Paulo, por exemplo.


Afinal, a capital do Rio de Janeiro já concede descontos no IPVA para veículos a gás. Aliás, a cidade registra cerca de 60% das vendas de GNV do Brasil. Aliás, apenas 2% da frota de veículos do País é movida a gás. Porém, na capital fluminense a participação é de 24%.

Infraestrutura para expandir oferta

Além disso, o objetivo é estimular o uso de ônibus a gás e a biometano. Ou seja, isso faz parte do projeto de implantação dos corredores sustentáveis. Há também os chamados corredores azuis. Nesse caso, trata-se de um programa do Ministério da Economia que prevê a instalação em rodovias de postos de gás para caminhões.


Conforme Mattos, as concessionárias distribuidoras de gás já estão mapeando as rodovias. Assim, vão poder identificar os locais com potencial para a implantação de novos postos. Da mesma forma, em um segundo momento o mapeamento pretende possibilitar a ampliação da oferta de gás natural liquefeito (GNL). Ou seja, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde o produto está mais disseminado.

Além desses combustíveis, haverá investimentos no segmento de biometano. Dessa forma, também vai ser possível incentivar empresas que atuam na produção do biocombustível. Como a iniciativa feita pela Reiter Log. Há um mês a transportadora informou ter comprado 124 caminhões Scania a gás. E que pretende produzir o biometano que vai abastecer a frota.

Scania é uma das apoiadoras

Nesse sentido, a Scania foi pioneira na oferta de caminhões a gás no Brasil. Segundo informações da marca, a tecnologia vai ajudar na transição para tecnologias mais limpas. Porém, a fabricante aposta que o futuro do setor de pesados é a eletrificação. Por isso, o diretor de vendas de soluções da Scania no Brasil, Silvio Munhoz (abaixo), diz que a empresa apoia o trabalho do comitê.


Segundo ele, é importante que todas as empresas que atuam no setor participem da iniciativa. "Mesmo os futuros competidores", diz. Conforme Munhoz, quanto mais participantes houver, mais rapidamente a tecnologia vai se espalhar. "No Brasil, há mercado para muita gente”, diz.

De acordo com o executivo, a Scania deve encerrar 2021 com 200 caminhões a gás vendidos. Ou seja, esse número considera os negócios fechados desde o lançamento do modelo, durante a Fenatran de 2019. Ele avalia que o número é bastante positivo. Sobretudo levando-se em conta que a pandemia derrubou a economia e comprometeu investimentos.


Poucos postos e altos volumes de vendas

Conforme Munhoz, os caminhões a gás da Scania estão ajudando a criar uma rede de abastecimento de veículos pesados. Sobretudo nas regiões Sudeste e Sul do País. Além disso, há postos investindo na adaptação das bombas utilizadas por automóveis em outras, de maior vazão. Enquanto um caminhão a diesel é reabastecido em até 15 minutos, o mesmo modelo a gás pode levar cerca de 30 minutos.

Para o diretor da Scania, o investimento para fomentar novas rotas é relativamente baixo. Isso porque os caminhões a gás têm bons números de autonomia. Assim, a distância entre os postos poderia ser de cerca de 400 km. “Haverá poucos postos. Porém, com alto volume de vendas." Segundo ele, em até dois anos o Brasil terá uma ampla rede de reabastecimento e "suficiente para atender a frota a gás”.

“Além de conseguir fretes mais valorizados, os clientes estão conseguindo garantias de contratos de longo prazo." De acordo com ele, há embarcadores que preferem caminhões a gás. "O cliente já entendeu que não faz sentido deixar o caminhão que tem um apelo sustentável parado na fila dos terminais”, afirma Munhoz.


Iveco terá caminhões pesados a gás no País

Líder da Iveco na América do Sul, Márcio Querichelli (foto) já confirmou que a marca vai iniciar as vendas de caminhões a gás no País pelo segmento de pesados. Portanto, ele avalia que um comitê focado no tema é bastante positivo. Assim, vai estimular o avanço da tecnologia. Bem como maiores volumes de investimentos.

“Queremos participar de forma cada vez mais intensa na discussão sobre o gás", diz Querichelli. De acordo com ele, há pelo menos dois bons motivos para o comprador investir em caminhões a gás: ambiental e financeiro. Assim, ele afirma que o negócio precisa fazer sentido. "O apelo ambiental é importante. Porém, nem sempre está equilibrado com o financeiro. Assim, temos de desenvolver soluções para que a tecnologia possa fluir da melhor forma”.


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