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Caminhoneiras: pesquisa revela desafios nos EUA similares aos do Brasil

Estudo sugere ações para aumentar o número de caminhoneiras no setor de transporte que podem ser adotadas também no mercado brasileiro

Thiago Vinholes

03 de jul, 2024 · 8 minutos de leitura.

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CNTA caminhoneiras
CNTA avaliou condições de trabalho das caminhoneiras
Crédito:A Voz Delas/Divulgação

O American Transportation Research Institute (ATRI) publicou os resultados de uma pesquisa que identifica os desafios para aumentar a participação de mulheres caminhoneiras nos Estados Unidos. Assim, o estudo aponta as principais adversidades enfrentadas pelas motoristas no setor e propõe ações para tornar a carreira mais atraente para elas. A maioria dos problemas é parecido com os enfrentados pelas caminhoneiras brasileiras.

Segundo o ATRI, a pesquisa foi encomendada em março de 2023 e visa compreender os motivos que afastam as mulheres da profissão de motorista. De acordo com o estudo, intitulado "Identificando e mitigando os desafios enfrentados por mulheres caminhoneiras", os caminhoneiros transportam 72,6% de toda carga movimentada nos EUA. Porém, assim como no Brasil, lá também há falta de mão-de-obra.

Caminhoneiras dirigem de forma mais segura

Seja como for, a pesquisa indica que a participação das mulheres alivia a escassez de profissionais e melhora a segurança no setor. a mesma forma, um estudo do ATRI publicado em 2022 sobre Previsão de Envolvimento em Acidentes de Caminhão, concluiu que as caminhoneiras dirigem de forma mais segura do que seus colegas homens. Assim, proporcionalmente eles se envolvem em mais acidentes e têm violações de trânsito do que elas nos EUA.


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Além disso, as caminhoneiras têm uma boa remuneração no mercado norte-americano. Em outras palavras, 24% das motoristas que trabalham para empresas recebem mais de US$ 75 mil por ano. Por sua vez 30% das caminhoneiras autônomas têm rendimento anual acima de US$ 100 mil. E, diferentemente de outras categorias profissionais, o setor de transporte dos EUA mantém uma grande paridade de rendimentos entre os dois gêneros.

Seja como for, no setor de transporte nos EUA as mulheres enfrentam vários desafios. O estudo do ATRI identificou seis dessas causas e propôs ações para enfrentá-las, com sugestões para transportadoras e escolas de formação.

CNTA caminhoneiras
CNTA/Divulgação

Imagem e percepção das caminhoneiras

Os idealizadores do estudo perguntam às mulheres caminhoneiras nos EUA por que acreditavam que o setor era mais desafiador para o sexo feminino. Aproximadamente 31% das respostas diziam respeito às atitudes desrespeitosas de outros motoristas, transportadoras, embarcadores e do público geral em relação às profissionais mulheres. Na pesquisa da ATRI, as motoristas consultadas relataram episódios de discriminação, sexismo, estereotipação negativa e sexualização.

Para melhorar o ambiente de trabalho para mulheres no transporte rodoviário, o estudo propõe estratégias para escolas de treinamento e empresas transportadoras. As ações desses agentes devem destacar o potencial de renda e a paridade salarial existente no setor, bem como educar familiares e amigos dos caminhoneiros sobre oportunidades de trabalho na categoria. A melhoria da convivência entre gêneros também depende dos motoristas "manterem uma postura profissional e positiva", salienta a organização de transporte no documento.

Treinamento de motoristas

Segundo a pesquisa do ATRI, motoristas nos EUA, homens e mulheres, destacam como uma das principais preocupações atender aos "padrões de treinamento de motorista de caminhão". Os entrevistados afirmaram que suas experiências durante o treinamento podem influenciar sua percepção da indústria de transporte e do trabalho em si, seja de forma positiva ou negativa. No entanto, para as mulheres, os desafios são ainda maiores.


O estudo identificou quatro questões principais que impedem mais mulheres de ingressarem no setor de transporte nos EUA: incapacidade de pagar pelo treinamento, falta de habilidades de condução, falta ou acesso limitado a cuidados infantis e viagens excessivas de e para a escola de direção.

O instituto americano aponta algumas alternativas para contornar esses percalços, como a solicitação de bolsas estudantis, aulas de direção direcionadas para mulheres, com horários especiais para aquelas que são mães, e a possibilidade de mais aulas no formato on-line.

Cultura das transportadoras

Os pesquisadores do ATRI pediram que as caminhoneiras listarem três pontos nos quais as transportadoras poderiam apoiá-las. As respostas geraram um "mapa de palavras" com os termos mais citados: "casa", "tempo" e "ouvir", ressaltando suas carências. Na visão dessas profissionais, a forma como os empresários de transporte lidam com essas demandas e sentimentos dos colaboradores molda a imagem e a cultura de suas empresas.


Transportadoras que oferecem tempo adequado para o profissional ficar em casa, ouvem atentamente as perspectivas e proporcionam pagamento justo e igualitário foram os apoios mais mencionados nas entrevistas com as motoristas. As caminhoneiras fizeram poucas críticas sobre os rendimentos da profissão nos EUA, mas relatam maior preferência por serviços em horários flexíveis.

Nesse sentido, a pesquisa apurou que transportadoras que implementam iniciativas específicas para mulheres têm uma participação maior de caminhoneiras no quadro de motoristas (8,1%). Em contraste, aquelas que não adotam essas práticas têm, em média, 5%, segundo o estudo do ATRI.

Estilo de vida de caminhoneiras

Nos EUA, há muitos casos de mulheres que ingressaram na carreira de motorista de caminhão, mas desistem devido à dificuldade de equilibrar trabalho e vida pessoal. As caminhoneiras frequentemente citaram na pesquisa a falta de tempo em casa e dificuldades para manter hábitos saudáveis como os principais problemas de quem atua nessa profissão.


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