A baixa atratividade da profissão de caminhoneiro preocupa os gestores de empresas de transporte. De acordo com dados do Denatran, desde 2015 o número de habilitados, sobretudo homens, cai em torno de 5,9% ao ano. Antes, o Brasil registrava alta de 1,4% a cada 12 meses. Assim, transportadoras e operadores logísticos passaram a mirar as caminhoneiras. Contudo, o número de mulheres habilitadas e preparadas para guiar caminhões e ônibus ainda é limitado.
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Para suprir essa demanda, a Fundação Adolpho Bosio de Educação no Transporte (Fabet), criou o curso de formação de mulheres caminhoneiras para o transporte de cargas. Conforme a gerente geral da Fabet São Paulo, Salete Marisa Argenton, a iniciativa surgiu há dois anos. De acordo com ela, o objetivo é capacitar as motoristas. Bem como dar confiança às mulheres que querem trabalhar como caminhoneiras.
Desde que foi criado o curso, 249 mulheres foram capacitadas para a função de caminhoneira. “Mais de 70% conseguiram emprego”, afirma Salete. De acordo com ela, as mulheres que passaram pela Fabet estão preparadas para dirigir desde caminhões pequenos até carretas articuladas. Além disso, podem atuar em operações de distribuição urbana, transporte rodoviário nacional e mesmo internacional.
Caminhoneira internacional
Luciana Maria Maciel, de 48 anos, foi uma das alunas. Ela conta que, antes de fazer o curso, não tinha nenhuma experiência ao volante. Porém, já nutria a vontade de seguir a profissão do pai. Atualmente, ela trabalha dirigindo caminhões em uma rota entre Brasil e Chile.
Segundo Luciana, ela tirou a carteira de habilitação de categoria C em 2019. Depois, em 2021, avançou para a categoria E. Porém, conta que sofreu preconceito quando começou a buscar emprego. Seja como for, mesmo sem ter experiência ela enviou um currículo para a transportadora onde queria trabalhar.
Algum tempo depois, recebeu uma ligação da empresa. Assim, veio a proposta para que fizesse o curso na Fabet antes de iniciar a carreira como motorista profissional. Conforme Luciana, a empresa tinha um projeto para treinar um grupo com 12 mulheres. "Todas sem experiência no transporte”, conta.
Desafios nas estradas
Conforme a caminhoneira, o treinamento foi fundamental. “Principalmente porque eu tinha dificuldade para fazer manobras”, diz. Além disso, a carreteira diz que ampliou seus conhecimentos sobre mecânica e legislação. Assim como sobre outros temas que fazem parte do dia a dia de motoristas profissionais.
Agora, ela conta que tem orgulho de guiar um Scania R 450 pintado de cor-de-rosa. Mas confessa que, por ser mulher, enfrenta dificuldades na estrada. “A falta de banheiro adequado e com chuveiro quente é uma delas", afirma. Porém, ela não se abala. "Faço o que gosto e estou preparada para enfrentar esses e outros desafios”, diz.
De legislação à direção segura
Seja como for, em entrevista ao Estradão Salete diz que iniciativas como a da Fabet proporcionam duas soluções. Segundo ela, a primeira é ajudar a aumentar a empregabilidade das mulheres no transporte. A outra é mitigar o impacto da falta de motoristas no País. “Mesmo assim, dos mais de 1 milhão de profissionais, apenas 1% é de mulheres”, conta.
De acordo com ela, ainda há empresas que só contratam motoristas homens. Contudo, ela acredita que a melhoria na capacitação pode quebrar paradigmas e criar um olhar novo sobre o tema. Nesse sentido, a grade curricular da Fabet abrange desde desenvolvimento pessoal, saúde e qualidade de vida à direção segura, legislação e manutenção preventiva, por exemplo.
Porém, não são todas as caminhoneiras que têm condições de fazer o treinamento. Afinal, o curso, que tem duração de 12 dias, custa R$ 3.742. O público-alvo são mulheres com Carteira Nacional de Habilitação das categorias C, D e E. Além disso, não é preciso ter experiência ao volante de caminhões.
Vantagens de ter mulheres ao volante
Conforme Salete, há casos em que a empresa banca o custo. É o caso da Andrade Transportes. Segundo o gerente de operações da transportadora, Rodrigo Silva, seu time tem 15 candidatas ao curso. De acordo com ele, trata-se de um ótimo investimento. "Temos notado que as mulheres são mais caprichosas. Além de serem mais dedicadas e preocupadas. Além disso, seguem à risca os procedimentos."
Silva conta que os homens cometem mais infrações, como excesso de velocidade, além de realizarem freadas e curva mais bruscas. De acordo com ele, apenas 3,4% das mulheres estão envolvidas nesse tipo de evento. Portanto, isso fez com que a empresa estabelecesse a meta de ter, ao menos, 30% do quadro formado por mulheres. "Para isso, vamos 'garimpar' motoristas interessadas e investir em capacitação."