Há mais de um ano, as fabricantes de implementos rodoviários e de caminhões vêm tendo dificuldades para comprar insumos e componentes. O desabastecimento é um dos efeitos da pandemia de covid-19, que afetou a capacidade de toda a indústria global. Para tentar driblar a falta de pneus, algumas dessas empresas estão importando diretamente. Mesmo com a cotação do dólar nas alturas.
Esse é o caso da Rodofort, que fabrica implementos rodoviários. A empresa começou a trazer pneus da Índia. De acordo com a fabricante, os primeiros lotes já chegaram. Imediatamente após serem entregues, foram montados nos equipamentos. Ou seja, havia vários implementos parados no pátio que só não haviam sido entregues porque não tinham pneus.
Segundo a Rodofort, foram comprados da Índia mais cerca de 1,5 mil pneus no total. De acordo com o diretor da empresa, Alves Pereira, a expectativa é que comecem a ser entregues em julho. Seja como for, a importação só foi possível graças à redução de impostos.
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Imposto de 16% sobre os pneus foi zerado
No início de 2021, o governo federal zerou a taxa de importação de pneus. Até então, esse imposto era de 16%. A iniciativa é uma tentativa de agradar os caminhoneiros. Ou seja, além de favorecer as fábricas, visa também acalmar a categoria, que vinha sinalizando com a possibilidade de greve.
Na prática, não houve redução dos preços. Porém, a isenção de taxas facilita a entrada no Brasil de componentes feitos em outros países. Dessa forma, a pressão por alta nos preços no mercado interno diminui. Assim como o risco de falta de produto.
Segundo a Rodofort, a escolha dos pneus indianos não foi por acaso. Ou seja, também está ligada à semelhança de tipos de utilização e, com isso, com o desgaste registrado no Brasil. “A qualidade dos pneus importados melhorou muito", diz Pereira.
Fornecedores na China e no Vietnam
Além da Índia, a empresa vem buscado opções de fornecedores de pneus na China e no Vietnam. De acordo com Pereira, esses componentes poderão passar a equipar os implementes da empresa de forma constante. "Mesmo quando não houver problemas de abastecimento”, afirma.
Seja como for, a empresa do grupo I-Riede corre para entregar as encomendas. Nesse sentido, em 2021 a fábrica de Sumaré (SP) deve produzir 1.500 implementos. E está expandindo seus negócios.
Mais implementadoras devem importar
Logo, mais empresas do setor devem partir para a importação de pneus. Segundo o presidente da Associação Nacional das Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), José Carlos Spricigo. Um dos exemplos é a Librelato, da qual Spricigo é o CEO.
De acordo com o executivo, a indústria de pneus reduziu a oferta para as fabricantes de implementos. “Se a programação era de 10 mil unidades por mês, agora é de 7 mil. Assim, é preciso complementar.” Segundo ele, o ideal é que todo o fornecimento seja feito por fábricas instaladas no País. “Os pneus feitos aqui são adaptados para a topografia brasileira”, afirma.
No entanto, diz o presidente da Anfir, não são apenas pneus que estão em falta. As fabricantes de implementos rodoviários estão com dificuldade de comprar vários outros componentes. Segundo ele, um dos exemplos é a quinta roda.
Isenção de imposto não é para todo os pneus
Seja como for, todo o setor de transportes está sendo afetado pela falta de itens. No caso dos pneus, a isenção de imposto de importação é para diversas medidas de pneus. Porém, deixou de fora o 275/70 R22,5. Essa medida é muito utilizada por caminhões baú no transporte de mercadorias volumosas.
Segundo a Cooperativa de Transportadores Autônomos de Joinville (Coopercargo), está cada vez mais difícil encontrar esse pneu o mercado. Segundo o presidente da entidade, Geison Debatim há 40 carretas paradas por falta de pneus.
Assim, as transportadoras reclamam da alta nos custos. Segundo empresas do setor, as fabricantes de pneus vêm priorizando a produção de medidas com maior demanda. "Esse pneu custava uns R$ 1.300 no início da pandemia. E passou para R$ 2,3 mil atualmente", afirma Debatim.
"Além do preço absurdo, é difícil encontrar o produto”, diz. No caso dos importados, há pressão nos preços por causa da alta do dólar. E também pela disparada na demanda por frete no exterior. desabafa.
Pressão por aumento do preço do frete
Segundo Debatim, os pneus representam cerca de 17% do custo do transporte. Portanto, apenas para compensar a alta dos preços dos pneus seria necessário aumentar o frete em pelo menos 12%.
De acordo com ele, estender a isenção para os pneus 275/70 R22,5 seria uma forma de compensar a alta. Assim ele defende a medida como forma de viabilizar as importações. Nesse interim, diz, haveria tempo para a indústria nacional se reestruturar.
Na Palmeira Implementos, de Joinville (SC) 70% das carretas fabricadas têm pneus 275/70 R22.5 Segundo o coordenador de vendas da empresa, Dan Christopher Wegener, a escassez de produtos já impacta a produção.
Indústria de pneus nega falta de abastecimento
No entanto, a Associação Nacional de Pneumáticos (Anip), nega que haja falta de produto. Segundo seu presidente, Klaus Curt Muller, nenhuma associada notificou problema no fornecimento. De acordo com ele, as fabricantes estão até produzindo menos por causa da queda nas vendas.
“Nossa capacidade (de produção) está aumentando e não diminuindo. E isso significa que a indústria nacional tem condições de fornecer normalmente”, afirma. De acordo com a Anip, em abril as empresas venderam 218 mil unidades,
Ou seja, foram 9 mil a menos que em março. Além disso, a produção no acumulado de janeiro a março foi de 282.763 pneus. Em outras palavras, houve queda de 14% ante os 249.053 pneus vendidos no mesmo período de 2020.
Falta de insumos impacta setor
Assim, Kurt diz que eventuais falhas de fornecimento são pontuais. “Pode ser algum problema com alteração de programação ou de volume de vendas”. diz. Porém, ele concorda que as fabricantes também vêm sendo impactadas pelo atraso na entrega de matérias-primas.
Mas, segundo ele, esses problemas estão sendo solucionados. Além disso, não estão, de acordo com a Anip, prejudicando as entregas para as montadoras. Nem mesmo para implementadoras e o mercado de reposição. “Até temos importado alguma matéria-prima por frete aéreo. O objetivo é justamente evirar atraso nas entregas para o mercado nacional”, diz.
De todo modo, as montadoras de caminhões também enfrentam problemas por falta de peças. E isso vem acontecendo desde o início de 2021. Portanto, todas vêm adotando medidas para reduzir o impacto na produção.
Montadoras apostam na gestão
O Estradão consultou várias empresas na semana passada. O objetivo era saber se e quais tiveram de recorrer à importação por causa da falta de componentes. Inclusive de pneus. De forma geral, todas estão buscando alternativas.
A Volvo, por exemplo, não aumentou seu volume de importações. Segundo a empresa, sua área de compras vem conseguindo fazer uma boa gestão. Nesse sentido, a montadora fornece suporte aos fornecedores, incluindo apoio logístico. Sobretudo para os fornecedores de matérias-primas.
Segundo a Mercedes-Benz, o fornecimento de matérias-primas é um grande desafio para todas as fabricantes desde 2020. De acordo com a empresa, o fornecimento de componentes eletrônicos é o que mais preocupa. Sobretudo semicondutores e chips.
Montadoras apostam na gestão
Além disso, a Mercedes-Benz cita alguns produtos químicos, de metalurgia e polímeros. De acordo com a empresa, não foi necessário importar nada além do que está nos planos normais de compras. Por fim, a companhia informa que vem gerenciando de forma mais intensa a situação dos fornecedores.
Recentemente, a Mercedes-Benz criou um comitê que reúne várias áreas. O objetivo é justamente monitorar os processos de abastecimento e produção. De acordo com a empresa, isso permite reduzir eventuais riscos de desabastecimento. Tanto da rede global quanto da local.
De acordo com a Iveco, a pandemia causou vários problemas de fornecimento. Assim, a empresa vem trabalhando com fornecedores para buscar alternativas. Entre as soluções está também a importação de componentes. Porém, a fabricante não informou se os pneus estão nesta lista. Além disso, a marca têm buscado novas opções e até mesmo homologar novos parceiros.