O Actros 2651 6x4 da Mercedes-Benz faz o transporte da colheita de soja para Grupo Risa, no Piauí. Atualmente, dos 250 caminhões da frota, 186 são Mercedes, cerca de 75% da frota. Estão entre os modelos da estrela caminhões médios, semipesados e pesados. Mas nem sempre foi assim. Pelo menos nos pesados. Até 2017, os caminhões Mercedes não integravam a frota da maior empresa do agronegócio do Nordeste.
Diretor presidente do Grupo Risa, José Antônio Gorgen, conhecido por Zezão, explica que o seu interesse pelo Actros ocorreu quando a Mercedes-Benz "abrasileirou" o caminhão. O deixando mais robusto para enfrentar às condições das estradas.
A escolha do Actros
"Conheci melhor o caminhão durante a Fenatran de 2017. Achei que ele estava bonito. Aliás, um dos mais bonitos do salão. Mas eu precisava conhecê-lo. Depois de realizar os testes, também o achei bom de consumo. Mas o importante para a minha operação é ele ser parrudo", diz Zezão.
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Ou seja, desde 2018 a empresa começou a comprar o modelo. E atualmente 50 Actros 2651 operam na colheita da maior fazenda do Grupo Risa, em Baixa Grande do Ribeiro, a 600 quilômetros de Teresina. Nesse sentido, Zezão explica que avaliou outras versões do Actros, como a 2646 de 460 cv. Mas a de 510 cv foi a que melhor se encaixou à atividade da fazenda. A boa velocidade média e o consumo foram decisivos.
Os Actros 2651 puxam tritrens com 45 t de carga líquida cada. Entre os pontos de colheita no campo e os armazéns da fazenda, as distâncias variam de 5 a 30 km. Outra função do Actros inclui o asfalto. Na tarefa estradeira, os caminhões transportam a soja para escoar no porto de São Luís do Maranhão.
Esse percurso de 800 quilômetros só da ida tem péssima sinalização. Com estradas esburacadas, mal sinalizadas e sem radares. E trechos sem acostamentos. Logo, faz todo sentido Zezão usar o termo parrudo para o Actros.
Dos caminhões em operação da Risa, dois são da nova geração. E uma delas o Estradão avaliou. O Actros 2651 6x4 com suspensão metálica. Ele custa a partir de R$ 830 mil.
A nova geração entrega tecnologias de segurança ativa como itens de série. Logo, isso motivou a compra da Risa. Modelos da Volvo, Scania, DAF e até a versão anterior do Actros, ainda vendida, esses itens entram como opcionais.
Tecnologia de ponta frente às estradas do Brasil
Uma das unidades da nova geração comprada pela Risa possui as câmeras no lugar dos retrovisores. Sistema chamado MirrorCam. E por ser o caminhão mais dotado de tecnologias, a maioria entregues de série, Zezão faz questão de estreá-lo na operação rodoviária.
Nesse sentido, o empresário quer mostrar as condições precárias de importantes corredores para o escoamento de grãos.
"Vou viajar com esse caminhão saindo do Piauí até o Porto de São Luís. Eu faço questão de ir dirigindo. Dessa forma, quero mostrar, porque vamos gravar, a realidade da estrada. Os buracos, os quebra-molas e a má sinalização. Ou seja, o desrespeito que existe com o transporte brasileiro. Investimos em tecnologias para dar segurança aos nossos motoristas. Mas as rodovias não ajudam".
Para compor o conjunto cavalo carreta, Zezão também elegeu os tritrens com basculamento lateral da Librelato. Isso porque, segundo o empresário, o implemento se mostrou o mais seguro na sua operação. Único que não tombou na atividade. Ou seja, entregam maior estabilidade aos caminhões, sem necessidade de desacoplamento. O implemento foi desenvolvido com exclusividade para o Grupo Risa. E cada equipamento da Librelato custa R$ 420 mil.
"Com essa solução eu economizei com seguro. Porque os veículos não tombam. Logo, não causam mais acidentes", explica Zezão.
Ademais, segundo o empresário, os caminhões atrelados ao tritrem têm boa dirigibilidade e menor arraste. Evitando desgaste excessivo de pneus.
Tecnologias e áreas produtivas ajudam a safra
A minha experiência a bordo do Mercedes ocorreu no mesmo dia da abertura da maior colheita de soja. E a intenção no primeiro dia seria quebrar recorde de toneladas de soja colhidas. No entanto, com as fortes chuvas, isso ocorreu em três dias, não em um.
Mas as intempéries não impediram a empresa buscar a quebra de recorde. Suportada também pela colheitadeira de última geração da Case. Ou seja, dos 20 equipamentos da marca, um possui a maior plataforma de corte do mundo. Modelo 8230 de 62 pés. Produzida pela GTS, essa plataforma custa em torno de R$ 2 milhões. No entanto, consegue colher mais soja frente às demais colheitadeiras da fazenda com plataformas de 40 e 45 pés.
Nesse sentido, junto com caminhões e implementos robustos e a maior colheitadeira, há uma extensa área produtiva para o plantio. A fazenda no Piauí tem 21 mil hectares de área plantada. No entanto, o grupo possui mais quatro propriedades entre os Estados do Piauí e Maranhão. Logo, todas juntas somam aproximadamente 45 mil hectares de plantio. Com previsão de colheita de 161,6 mil toneladas. E uma produtividade de 3,6 t por hectare.
Assim, a fim de potencializar o aproveitamento de suas fazendas, a empresa realiza duas produções por safra. A principal de soja e a chamada safrinha, com milho, além do sorgo. Esse grão entrega nutrientes à terra e a prepara para o plantio das safras seguintes.
Novo Actros na operação
Como o Estradão já avaliou o Actros na rodovia, optei por conhecer o caminhão no fora de estrada. Na rota dentro da fazenda. Mesmo porque, no chão de terra a dinâmica é outra.
Por se tratar de um teste na operação do cliente, o motorista da Risa, Romiel da Silva, conduziu o veículo. Dessa forma, consegui avaliar o comportamento do Actros nas reais condições de uso.
Na rota da fazenda até o armazém percorremos apenas 30 quilômetros entre a ida e a volta. Porém, na ida o veículo rodou vazio. E com o chão de terra seco. Já nos outros 15 km, o Actros voltou carregado na totalidade, 45 t de carga líquida. Ou seja, com 74 t de peso bruto total combinado (PBTC), na terra molhada. Pois encaramos uma chuva intensa.
Nesse sentido, ficamos com o caminhão parado na roça por cerca de uma hora. Mesmo porque as colheitadeiras foram impedidas de funcionarem devido à chuva intensa. A soja não pode entrar molhada no caminhão. Porque a sua qualidade pode ficar comprometida. Vale ressaltar, que nos dias sem chuva, o Actros trabalha cerca de 12 horas na fazenda.
Inteligência embarcada
Voltando ao teste, todos os Actros saíram em comboio para a lavoura. Uma imagem linda e até emocionante ver os caminhões enfileirados. E todos "obedecendo" a velocidade permitida nessas condições de 20 a 25 km/h. Como o piso é bastante acidentado, Romiel sugeriu utilizar a caixa Powershift de 12 marchas no modo automático. Dessa forma, consegue-se tirar o melhor aproveitamento do veículo.
Por exemplo, cada vez que passávamos por um trecho mais acidentados o caminhão "sabia" como agir. Isso graças ao Piloto Automático Preditivo. Ou seja, o sistema funciona com o navegador GPS. Assim, reconhece a estrada com até 2 km de antecedência. Dessa forma, o rodar suave e com menos sacoleijo a bordo estavam garantidos. E, obviamente, nessa situação de caminhão vazio, a rotação não passou de 1.000 rpm.
Mas no retorno, com o caminhão carregado, veio a surpresa. Encaramos trechos de muita lama, ocasionados pela forte chuva. Mas para o Actros isso não foi nada. Já que por segurança, o controle de tração ficou acionado por todo tempo.
Porém, sem comboio - pois os caminhões iam retornando aos armazéns conforme as colheitadeiras preenchiam as caçambas dos tritrens -, Romiel, atendendo ao meu pedido, aumentou a velocidade. Dessa forma, consegui perceber o comportamento do caminhão carregado na sua capacidade.
A 35 km/h em 6ª marcha a rotação não passou dos 1.200 rpm. Já a 40 km/k em 8ª marcha a rotação não ultrapassava os 1.300 rpm. Ou seja, o comportamento do Actros não muda muito se comparar à sua performance na rodovia. Mantém-se sempre em baixa rotação.
Segundo Romiel, os motoristas da Risa trabalham para fazer média. Contudo, ter um caminhão que se mantém na faixa verde ajuda muito. Nesse sentido, o Actros 2651 entrega uma faixa ampla de rotação. Entre 1.000 e 1.500 rpm.
Actros vs. Novo Actros
O condutor por dois anos trabalhou no modelo antecessor do Actros. No entanto, ele diz que os sistemas de segurança presentes na nova gama melhoraram sua desenvoltura na direção. E de certa forma, o ajudou a se concentrar mais ao volante. Porque, segundo Silva, "o caminhão cuida da segurança. Eu só tenho que ficar atento ao trânsito".
Silva se refere à série de sensores presentes no veículo. Como o Assistente Ativo de Frenagem (ABA 5). Sistema que freia automaticamente o caminhão se “perceber” risco iminente à frente.
Ademais, nessa nova geração, o dispositivo identifica, além de veículos, pedestres, ciclistas, animais e outros obstáculos. E, se o motorista não agir a tempo, o caminhão pode até frear sozinho. Além da câmera dianteira, o sistema utiliza sensores e radares instalados em partes com o para-choque, por exemplo.
A câmera dianteira também “lê” as faixas da pista. Se o caminhão mudar de trajetória sem que a seta tenha sido acionada, alertas visual e sonoro serão disparados.
Mudanças involuntárias de trajetória podem indicar desatenção do motorista. E também estão relacionadas à sonolência. Assim, para evitar acidente o Actros 2651 conta com o Assistente de Faixa de Rolagem.
Cabine espetacular
O nível de conforto e equipamentos posicionam o veículo acima da média. E distante do seu próprio antecessor. O quadro de instrumentos totalmente digital pode ser configurável. Ou seja, o motorista pode escolher pelo menu quais informações serão mostradas.
Há ainda a tela do sistema multimídia, localizada na parte central do painel. Ela tem 10,5 polegadas sendo sensível ao toque. Logo, pode-se ajustar o ar-condicionado ou mesmo o nível de amortecimento da suspensão.
O toque a mais fica por conta do carregador de celular por indução. O sistema, compatível com os telefones mais modernos, não requer o uso de cabo.
Veredicto
Se o transportador precisa de um caminhão robusto para puxar uma carga pesada, como tritem. E rodar por estradas ruins, fazendo boa média, pode apostar no Actros 2651 sem medo. Nesse sentido, a empresa está levando para a garagem um caminhão dotado de sistemas semiautônomos voltados à segurança, com design moderno e muito conforto a bordo. Obviamente, o menor consumo de combustível, em condições extremas, como a do Grupo Risa, também pode motivar a compra. Na nossa operação, o Actros fez média de 1,8 km/l carregado.
Ficha técnica
Cabine | Leito Teto Alto |
Motor | MB OM 460 LA, 510 cv a 1.800 rpm, 245 mkgf a 1.100 rpm |
Transmissão | Mercedes-Benz Powershift, de 12 marchas |
Entre-eixos | 3.550 |
Suspensão dianteira | Metálica |
Suspensão traseira | Metálica |
PBT (kg) homologado | 23.000 |
PBT (kg) técnico | 27.000 |
Preço (suspensão metálica) | R$ 830.937,17 |