As transportadoras estão prontas para atender as demandas por entregas em todo o Brasil, apesar da crise gerada pelo coronavírus. Mesmo com a possível alta na procura por produtos de primeira necessidade, como alimentos e medicamentos, representantes do setor dizem que as empresas têm estrutura para segurar o tranco.
Presidente do conselho superior e de administração do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), Tayguara Helou afirma que o maior risco é de alta nos custos que essa situação pode gerar. Ele se refere às despesas com armazenamento. "Mas não creio que isso não vá causar grandes impactos. Há experiência de sobra e estrutura para lidar com esse tipo de questão", acredita.
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Helou diz que as transportadoras têm capacidade instalada para atender mudanças no perfil de abastecimento. isso mesmo se a crise gerada pelo covid-19 se intensificar. “O fato de o Brasil ser autossustentável na produção de alimentos e a indústria farmacêutica ter estoque tanto de produtos como de matérias-primas até o fim do ano é super positivo. O setor de transporte rodoviário de carga é capaz de absorver todas as demandas. Não vejo essa crise impactando a cadeia de abastecimento".
O maior impacto poderá ser nas receitas das transportadoras. “Esse é um negócio de capital mais intensivo. Tudo é caro: caminhão, autopeças, mão de obra, armazém, etc”.
Outro temor, de acordo com o executivo, é o possível excesso de oferta gerado pela queda no volume geral de negócios, sobretudo os que envolvem bens duráveis. “Não podemos mandar as pessoas embora. Além disso, é um setor que utiliza financiamento para compra de veículos, tecnologias, etc. Podemos renegociar os pagamentos, mas em algum momento teremos de pagar essa conta”.
Para o Helou, ainda é muito cedo para mensurar o impacto no setor causado pelo avanço do coronavírus. Ele afirma que tudo vai depender de quanto tempo o País sofrerá com a pandemia do covid-19.
O executivo acredita que cada empresa terá de trabalhar em soluções que permitam reduzir os impactos da queda de receitas. Com o aumento na demanda por mercadorias como alimentos, medicamentos e produtos de higiene e limpeza, deverá haver uma alta na concorrência entre as empresas para transportar esse tipo de carga.
Transportadoras não registram desabastecimento
Até o momento, o setor de transporte de carga não está sofrendo impactos na cadeia de abastecimento. Mesmo com o fechamento de lojas físicas para conter aglomerações.
Mas, segundo especialistas, se o cenário se prolongar por muito tempo, poderá haver um colapso na entrega das chamadas cargas secundárias. Trata-se de produtos que não são essenciais.
Essa é uma das preocupações do diretor-geral da Gran Cargo, Evando Ferrari, por exemplo. A transportadora recolhe mercadorias nas indústrias de São Paulo e as leva para lojas das regiões Norte e Centro-Oeste do País. Caso o comércio local feche as portas, ele afirma que terá como entregar mercadorias para essas regiões.
“Parte dos produtos que transportamos não são de extrema necessidade. Além disso, há limite de espaço e tempo para armazenar essas cargar”, diz Ferrari. Os custos com armazenagem e segurança impactam no resultado da operação, segundo o executivo.
“Não sentimos queda no consumo de bens duráveis ou mesmo vestuário, mas isso vai acontecer”, afirma o presidente da Braspress, Giuseppe Lumare Júnior. Gigante do setor, a transportadora paulista tem uma frota com mais de dois mil caminhões próprios e 800 veículos agregados.
Mudança de linha
Para o presidente do G10 (cooperativa de transporte formada por cinco empresas), Claudio Adamuccio, o transportador terá de “equilibrar vários pratos”. Um dos desafios será adequar a força de trabalho, formada por mais de 2.100 motoristas.
Entre as ações, a G10 pretende dar férias ou licença aos que têm idade superior a 60 anos. Outra mudança será o foco no transporte de itens essenciais. Atualmente a cooperativa transporta de ração animal a alimentos, produtos farmacêutica e combustíveis, entre outros.
“Como fazemos o B2B (transporte entre empresas), não há armazenagem. Portanto, não acredito que enfrentaremos problemas como gargalo’, diz o executivo.
Adamuccio afirma que não haverá um colapso no setor de transportes. Pelo contrário, o executivo acredita no aumento da demanda por transporte de cargas prioritárias, como alimentos e medicamentos.
De acordo com ele, as empresas que sofrerem queda na receita ligada ao transporte de cargas secundárias, poderão migrar suas operações para o transporte de produtos essenciais. “O Brasil está tomando medidas mais severas, com base na experiência europeia. Entendo que o problema não vai se agravar a ponto de prejudicar os serviços de transporte”.