Gestão

Com a chegada do diesel B15, caminhões mais antigos precisam de manutenção reforçada

A nova mistura de diesel B15 pode comprometer motores mais antigos, exigindo maior atenção com manutenção preventiva, peças compatíveis e uso de aditivos

Thiago Vinholes

21 de jul, 2025 · 7 minutos de leitura.

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diesel B15, Scania
Cuidado deve ser maior com caminhões mais antigos, que não foram projetados para operar com teores tão altos de biodiesel
Crédito:Scania/Divulgação

A partir de 1º de agosto, o diesel vendido nos postos brasileiros passará a conter 15% de biodiesel, como prevê o cronograma da Política Nacional de Biocombustíveis. A medida, definida pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), tem como objetivo ampliar o uso de combustíveis renováveis no transporte rodoviário e reduzir as emissões de carbono.

Contudo, embora o diesel B15 ofereça benefícios ambientais, ele também impõe desafios técnicos, sobretudo para caminhões mais antigos, que podem apresentar maior sensibilidade ao biodiesel em teores elevados. Essa mudança exige a revisão dos hábitos de manutenção e pode impactar diretamente o desempenho, o consumo e a durabilidade dos veículos.

“Quando o teor de biodiesel passa de B10, os caminhões com mais de dez anos, que compõem uma parcela relevante da frota nacional, passam a demandar cuidados e adaptações mais frequentes”, afirma Thelis Botelho, CEO da Carbo Vapt e CarboFlix, empresas especializadas em soluções para descarbonização e estabilização de combustíveis, em entrevista ao Estradão.

Biodiesel oxida mais rápido e favorece a formação de resíduos

O biodiesel possui maior teor de oxigênio, o que o torna mais suscetível à oxidação do que o diesel mineral. De acordo com Botelho, essa característica gera resíduos que se acumulam na câmara de combustão e nos bicos injetores, comprometendo a pulverização e prejudicando a eficiência da queima. Além disso, o combustível absorve mais água do ambiente, o que favorece a formação de borras, entupimentos e a proliferação de microrganismos no sistema.

Nos caminhões mais antigos, esses efeitos se manifestam de forma mais intensa. Segundo o especialista, isso acontece porque esses veículos muitas vezes possuem peças mais feitas de materiais que não são compatíveis com o biodiesel, como borracha nitrílica.


Nos veículos mais antigos e com manutenção deficiente, o uso do diesel B15 pode agravar problemas como falhas na partida, perda de potência, aumento no consumo, saturação precoce de filtros e desgaste prematuro de bombas e injetores. Ainda de acordo com Botelho o sistema de alimentação, especialmente em caminhões com tecnologia mais antiga, é um dos pontos mais vulneráveis ao diesel B15.

Manutenção preventiva e uso de aditivos são essenciais

Diante desse cenário, caminhoneiros e gestores de frota precisam reforçar a manutenção preventiva para evitar paradas inesperadas e preservar o desempenho dos veículos. De acordo com Botelho, é fundamental revisar o sistema de combustível, substituir filtros com mais frequência e trocar mangueiras e vedações por materiais mais resistentes ao biodiesel, como o Viton.

Além disso, tecnologias de descarbonização podem ajudar a restaurar a eficiência do motor. A Carbo Vapt, por exemplo, desenvolveu um sistema que injeta gás HHO e reagentes que dissolvem os resíduos acumulados na câmara de combustão. “Em cerca de uma hora, o processo limpa o sistema e pode reduzir o consumo em até 10%”, afirma Botelho.

O uso de aditivos também desempenha um papel crucial. O CarboZé, por exemplo, atua como estabilizador de combustível, encapsulando a água, inibindo o crescimento de bactérias e preservando a lubricidade do diesel — característica essencial para proteger peças sensíveis como bombas e injetores.

Diesel B15 exige atenção contínua

Se a proporção de biodiesel continuar subindo, como prevê o plano do governo, os desafios para veículos mais antigos devem aumentar. Como o biodiesel brasileiro é majoritariamente feito de óleo de soja, seu ponto de congelamento é mais alto, o que pode causar entupimentos em regiões frias. A qualidade do combustível armazenado também tende a se degradar mais rapidamente com o passar do tempo.


Dessa forma, a transição para o diesel B15 exige não apenas medidas técnicas imediatas, mas também um novo padrão de cuidados com os veículos. A adoção de práticas como limpeza periódica do sistema de alimentação, uso de aditivos e escolha de peças compatíveis é essencial para garantir a confiabilidade dos caminhões mais antigos.

“Com os cuidados certos, é possível rodar com segurança mesmo com o novo diesel. Mas ignorar essas mudanças pode sair caro em consumo, desempenho e risco de falhas”, conclui Botelho.

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