A Viação Santa Cruz, de Mogi Guaçu (SP), iniciou uma rodada de testes com o primeiro ônibus rodoviário da Scania com motor a biometano. Durante 90 dias, a empresa vai operar o modelo em condições reais, transportando passageiros na rota entre São Paulo e Campinas. O objetivo é avaliar a viabilidade do uso de combustível menos poluentes.
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O ônibus da tem carroceria Marcopolo G8, capacidade para 46 passageiros e chassi Scania K340 4x2. A letra K identifica a linha de chassis da marca sueca com motor traseiro, mais adequada para ônibus rodoviários. A Santa Cruz opera outros 49 ônibus com o mesmo modelo de carroceria, mas com o chassi K370 e motor a diesel.
“Vamos testar o ônibus abastecido com biometano entre São Paulo e Campinas, com possibilidade de estender a avaliação por outros 90 dias", diz Francisco Mazon, dono da Viação Santa Cruz. "Queremos conhecer o modelo e analisar as impressões dos passageiros e os benefícios operacionais.”
O motor do ônibus é o Scania OC09 a gás, de cinco cilindros e 9 litros. Há duas configurações, sendo uma com 284 cv de potência e 137 mkgf de torque e outra de 345 cv e 163 mkgf. Em ambas o câmbio é manual de 12 marchas com sistema retarder. A Santa Cruz escolheu a versão mais potente para o teste.
Ônibus a biometano é mais silencioso e vibra menos
O motor a gás do ônibus da Scania é de ciclo Otto (como os a gasolina). Portanto, segundo a Scania, gera menos vibrações e ruídos que os a diesel. Além disso, como fica na parte na traseira, o motorista quase não escuta o ruído durante a viagem.

O ruído do ar condicionado, por exemplo, incomoda mais que o ronco baixo do OC09. Um pedestre atento ou outro motorista também pode perceber a diferença. O veículo não emite o som áspero e constante típico de um motor a diesel. Em vez disso, soa como um motor a gasolina — embora mais alto, por causa da alta litragem do bloco.
Gás para mais de 400 quilômetros
A principal adaptação no chassi Scania para receber o motor a gás envolve a instalação dos cilindros de gás. A Santa Cruz escolheu um ônibus com seis cilindros, instalados (três de cada lado) em compartimentos atrás das rodas dianteiras. No total, os seis tanques armazenam até 170 m³ (cerca de 170 litros) de GNV ou biometano. Segundo a Scania, essa configuração garante ao ônibus um alcance de 450 quilômetros.
“A autonomia do ônibus a gás é customizável. A gente pode aumentar esse alcance adicionando mais cilindros. A quantidade de cilindros pode variar de acordo com a necessidade da operação”, explicou Ivanovik Marx, gerente de Engenharia de Aplicações da Scania Operações Comerciais Brasil. As versões oferecidas pela fabricante têm alcance entre 250 e 600 quilômetros.

Entre São Paulo e Campinas, na rota onde a Santa Cruz testará o Scania K340 4x2, funcionam seis postos de biometano. O trecho tem quase 100 quilômetros quilômetros e a viagem de ônibus leva aproximadamente uma hora e 40 minutos, tanto na ida quanto na volta.
Motor menos poluente
O gás usado no motor Scania é o metano (CH₄). No mercado, é o GNV (gás natural veicular) ou o biometano. O nome muda por causa dos processos de produção dos combustíveis. O GNV é o gás natural extraído de poços junto com petróleo. Por outro lado, o biometano é um produto renovável, gerado pela decomposição de matéria orgânica. No Brasil, esse combustível é feito com os resíduos, ou a biomassa, de aterros sanitários, por isso é uma fonte sustentável.
Conforme dados da Scania, o uso de biometano pode reduzir em mais de 90% as emissões de CO₂ em comparação com o diesel, considerando toda a cadeia de produção do gás. Além disso, a queima do metano resulta em baixa emissão de material particulado fino, substância associada a doenças respiratórias. Também ocorre uma redução de até 90% nos óxidos de nitrogênio (NOx), gases que causam irritações nas vias respiratórias. Atualmente, a combustão do diesel responde pela maior parte dessas emissões.

Gustavo Cecchetto, gerente de Vendas e Soluções de Mobilidade da Scania no mercado brasileiro, destacou que o Brasil tem grande potencial para produzir biometano. “O Brasil é um dos países que mais produz biomassa no mundo e a biomassa é a matéria-prima para produzir o biometano. As regiões sul e sudeste, já têm boas iniciativas de biometano para abastecimento veicular. No interior de interior de São Paulo, São Paulo capital, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também têm ações de biometano.”
Transição dos ônibus rodoviários para o gás
A transição do diesel para o gás começou a ganhar tração no Brasil neste ano, com o aumento nas vendas de caminhões e ônibus urbanos equipados com motor a gás. No entanto, o setor ainda explora pouco o uso de biometano em ônibus rodoviários, mesmo com produtos disponíveis e uma rede de abastecimento em operação.

Para o proprietário da Viação Santa Cruz, a transição do diesel para o gás no setor dos ônibus rodoviários pode acontecer, mas depende de custos mais competitivos. “As soluções para reduzir emissões ainda são mais caras. Um ônibus elétrico de longo alcance, por exemplo, custa três vezes que um diesel. Um ônibus a gás custa entre 20% e 30% a mais. Quem sabe, com escala, os preços caem”, contou Mazon, ao Estradão.
Há mais de 40 anos no comando da empresa que herdou do pai, Eugênio, Mazon afirmou, no entanto, que tudo pode mudar caso o uso do gás traga benefícios operacionais e redução de custos. “Recentemente, completamos a renovação de nossa frota com ônibus equipados com motor Euro 6, porque eles apresentaram vantagens em todos os quesitos. Se o gás oferecer o mesmo, algum dia podemos trocar todos os ônibus por modelos a gás”, concluiu o dono da Viação Santa Cruz.