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Mercedes-Benz deixa de receber R$ 300 milhões por venda de ônibus elétricos; entenda

A Mercedes-Benz deixou de receber R$ 300 milhões referente à venda de 175 ônibus elétricos eO500U para operadoras da capital paulista. O negócio, fechado no fim de 2024, faz parte do projeto de redução das emissões de poluentes do transporte público do município.

Andrea Ramos

23 de abr, 2025 · 8 minutos de leitura.

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Mercedes-Benz deixa de receber R$ 300 milhões por venda de ônibus elétrico, por falta da infraestrutura; entenda
Mercedes-Benz deixa de receber R$ 300 milhões por venda de ônibus elétrico, por falta da infraestrutura; entenda
Crédito:Fotos: Mercedes-Benz
Mercedes-Benz deixa de receber R$ 300 milhões por venda de ônibus elétrico, por falta da infraestrutura; entenda

A Mercedes-Benz deixou de receber R$ 300 milhões referente à venda de 175 ônibus elétricos eO500U para operadoras da capital paulista. O negócio, fechado no fim de 2024, faz parte do projeto de redução das emissões de poluentes do transporte público do município. Segundo a legislação, desde 2022 as concessionárias do serviço em São Paulo estão proibidas de comprar ônibus com motor a diesel.

Segundo o vice-presidente de vendas, marketing e peças e serviços da Mercedes-Benz, Walter Barbosa, a falta do pagamento tem a ver com o tipo de subvenção do serviço na cidade. De acordo com ele, por meio da SPTrans, a Prefeitura da capital paga dois terços do valor do veículo utilizado no serviço. Ou seja, são cerca de R$ 2 milhões no caso de um ônibus elétrico, que custa em torno de R$ 3 milhões.

Conforme Barbosa, esse valor é descontado da remuneração do operador. Portanto, o restante do valor do ônibus, cerca de R$ 1 milhão por unidade deve ser pago pela empresa que vai operar o ônibus. Seja como for, a legislação permite que o operador só pague sua parte quando toda a infraestrutura para o ônibus elétrico poder rodar estiver pronta. Afinal, é da tarifa que sairão esses recursos.

Segundo a Mercedes-Benz, não se trata de calote

Entretanto, o executivo afirma que São Paulo ainda não tem infraestrutura pronta para atender os novos ônibus elétricos. Como resultado, ao menos 100 veículos estão parados porque não há como carregar suas baterias. Dessa lista fazem parte ônibus elétricos da Mercedes-Benz, Eletra e BYD.

De todo modo, Barbosa diz que não se trata de um calote. “Isso faz parte do modelo de negócio da capital paulista. E o município não tem obrigação de arcar com esses valores. Afinal, a empresa responsável pela infraestrutura de carregamento, no caso a Enel, não fez o que foi combinado”, diz. Seja como for, tanto a Enel quanto a Prefeitura de São Paulo enviaram notas à redação sobre o assunto (leia mais abaixo).


Mercedes-Benz deixa de receber R$ 300 milhões por venda de ônibus elétrico, por falta da infraestrutura; entenda
Mercedes-Benz testa eO500UA, versão articulada de seu chassi de ônibus elétrico; Fotos: Mercedes-Benz

Para evitar que isso volte a acontecer, a Mercedes-Benz propôs melhorias no modelo de negócios para a Prefeitura de São Paulo e o BNDES, que financia o projeto. Assim, a empresa pretende que a falta, ou baixa oferta de pontos de recarga, não estejam relacionados ao pagamento do veículo adquirido.

Solução pode ser ampliar opções

De acordo com Barbosa, o mais lógico seria separar os pagamentos. "Ou seja, se a Mercedes-Benz fez a entrega dos ônibus, tem de receber o que lhe é devido. Se a Enel entregou os pontos de recarga e garante a energia, também deve receber. O desafio é mudar a regra de subvenção. Outra solução é fazer um contrato com cláusula de multa para quem deixar de cumprir sua parte no negócio”, afirma.

Seja como for, a solução está longe de ser implementada. “A infraestrutura elétrica do Brasil é de baixa tensão. Porém, para ter uma garagem para mais de 50 ônibus elétricos, por exemplo, seria preciso haver sistema de alta tensão. Logo, além de investimentos superiores a R$ 100 milhões, há a questão do prazo, de cerca de um ano e meio para ficar pronto”.

Por isso, Barbosa defende ampliar as opções de soluções para reduzir as emissões da frota de ônibus. De acordo com ele, isso inclui o uso de combustíveis como HVO, biodiesel, o chamado diesel verde, bem como biometano, por exemplo.


Seja como for, ele afirma que há empresas do setor de transporte coletivo na capital investindo na infraestrutura de recarga de ônibus elétricos. Entretanto, como o custo é alto é preciso lançar mão de linhas de crédito com juros mais baixos. Para isso, ele defende a oferta de recursos do BNDES, BID, Caixa Econômica e Banco do Brasil, por exemplo.

Posição da Enel

Após a publicação desta reportagem, a assessoria de imprensa da Enel enviou uma nota à redação. A íntegra está abaixo:

"A Enel Distribuição São Paulo esclarece que a responsabilidade pela aquisição dos veículos é das operadoras de ônibus. A distribuidora entregou, desde 2024, infraestrutura com capacidade correspondente a 32,3 MW. Cabe esclarecer que a obra de infraestrutura externa das garagens é realizada pela Enel, seguindo critérios regulatórios, enquanto as obras internas são de responsabilidade dos operadores.

A Enel esclarece que tem realizado reuniões semanais com os operadores de transporte coletivo, sempre com o acompanhamento de representante da SPTrans. Nessas reuniões, são esclarecidas todas as dúvidas para que as empresas sigam com os procedimentos para assinatura do contrato com a distribuidora e para que as operadoras com contrato assinado acompanhem de perto o prazo para execução das obras. Além de visitas semanais às garagens para temas comerciais de atendimento.

A concessionária reforça que cada caso exige um tempo diferente de instalação, dependendo da complexidade e tamanho do projeto. O contrato com as empresas é assinado após a apresentação de projeto e documentação necessários para a viabilidade da obra. Após toda a regularização por parte dos operadores, ocorre a assinatura do contrato."


Atualizada em 23/4 às 14h40

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