A Mercedes-Benz está intensificando seus esforços para descarbonizar o transporte público e rodoviário no Brasil. Segundo o vice-presidente de vendas, marketing e peças & serviços da empresa, Walter Barbosa, a marca aposta fortemente em biocombustíveis de origem 100% vegetal, como o BeVant. O produto é equivalente ao HVO (óleo vegetal hidrogenado). Porém, foi desenvolvido no Brasil.
“Temos um potencial que nenhum outro País no mundo tem. O Brasil é o maior produtor agro do planeta. O que nos permite criar uma matriz energética própria e sustentável”, afirma Barbosa. Ele explica que os testes com o BeVant nos ônibus já alcançaram resultados animadores. “O que rodamos já nos primeiros testes, não tivemos perda de performance nem aumento na manutenção”, explica.
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Além disso, o executivo ressalta que o BeVant apresenta desempenho semelhante ao HVO. Mas com vantagens competitivas por não exigir adaptações nos motores. “Não precisa mudar nada no veículo, nem software nem calibração. É só abastecer e rodar”, detalha.
Brasil pode liderar a descarbonização global
Barbosa acredita que, uma vez aprovados e regulamentados os novos biocombustíveis, o Brasil poderá sair na frente na corrida global pela descarbonização. “Se conseguirmos regulamentar corretamente o uso de combustíveis como o BeVant, o Brasil se tornará referência mundial. Todavia, o problema é que o biodiesel atual, o B15, não tem padronização na origem das gorduras usadas. O que gera variações de desempenho e manutenção”, observa.
Assim, conforme já publicado pelo Estradão, a Mercedes-Benz testa o BeVant em motores OM 460 de ônibus e OM 471 de caminhões. Ou seja, amplamente utilizados nos veículos rodoviários da marca da estrela. O objetivo é validar a tecnologia e, em seguida, liberar seu uso em toda a linha de veículos.
“Estamos otimistas. O resultado é tão bom que queremos estender a aplicação a outros motores e segmentos”, conta o vp de ônibus.
Ademais, Barbosa enfatiza que o BeVant oferece redução de até 99% nas emissões de CO₂, segundo medições baseadas no protocolo internacional. “É um ganho ambiental expressivo, com custo zero de infraestrutura. Nenhum outro combustível entrega isso com tanta simplicidade”, pontua.
Eletrificação segue como pilar estratégico

Mas embora os biocombustíveis representem uma solução imediata e acessível, a Mercedes-Benz mantém forte compromisso com a eletrificação. Sobretudo, para o transporte urbano. O executivo lembra que a marca já conta com o ônibus elétrico eO500U, totalmente desenvolvido e produzido no Brasil. E já está em fase final de testes com o eO500UA, versão articulada do modelo. Nesse sentido, já há negociações e vendas do modelo em andamento.
“O elétrico é uma alternativa muito interessante. Ele é caro no Brasil, mas não é uma barreira em todos os mercados. Em países onde há investimento público em infraestrutura, a eletrificação avança rapidamente”, explica Barbosa.
Todavia, ele reconhece que a infraestrutura de recarga ainda é um desafio no País. “O Brasil precisa evoluir. Vamos eletrificar parte da frota, mas não toda. Há segmentos que continuarão mais adequados aos biocombustíveis”, analisa.
Parceria com a MWM e Sambaíba busca novas soluções
Outro ponto importante da estratégia é a parceria entre a Sambaíba (que é operadora de frota de ônibus urbano e grupo concessionário Mercedes-Benz e a MWM. O grupo vem desenvolvendo uma alternativa de retrofit que converte motores a diesel para gás natural, utilizando base tecnológica também dos chassis Mercedes-Benz.
“Já temos um ônibus rodando em São Paulo com motor MWM a gás. A Mercedes-Benz participa como parceira técnica, mas o produto é da Sambaíba e da MWM”, explica Barbosa. Segundo ele, o gás é uma solução viável para nichos específicos. Especialmente onde há geração local de biometano ou resíduos agrícolas.
“Não somos contra o gás. Ele faz sentido quando há produção próxima. Mas não é uma solução nacional como o biocombustível ou o elétrico”, acredita.
Infraestrutura e políticas públicas serão decisivas
Para o executivo, a transição energética no transporte depende de incentivos consistentes e clareza regulatória. Ele cita programas como o Refrota e o PAC da Mobilidade, que já destinam recursos à renovação da frota com foco na redução de emissões.
“Se apresentarmos ao governo soluções que realmente reduzam CO₂ e tenham aplicação imediata, como o BeVant, ganharemos mais força para expandir essa tecnologia. O importante é oferecer alternativas práticas e sustentáveis para todos os segmentos”, ressalta.
Seja como for, com o avanço simultâneo de biocombustíveis, retrofit a gás e eletrificação, a Mercedes-Benz busca um ecossistema diversificado de tecnologias limpas. Assim, adequando todas essas múltiplas tecnologias à realidade brasileira.
A estratégia combina autonomia tecnológica, potencial agroindustrial e parcerias locais. Assim, permite que o Brasil trilhe um caminho próprio rumo à neutralidade de carbono no transporte coletivo e rodoviário.