Trânsito, transporte, poluição e velocidade nos deslocamentos. Equilibrar os quatro fatores citados sem prejudicar a qualidade de vida dos cidadãos dos médios e grandes centros urbanos é um desafio para gestores públicos comprometidos com o desenvolvimento sustentável das cidades. Como uma das soluções para tais problemas, os corredores estruturados de ônibus, com foco na fluidez dos veículos, se destacam pela viabilidade econômica frente aos modais sobre trilhos com vantagens sociais e ambientais.
A utilização de ônibus com maior capacidade contribui com o desempenho dos sistemas, permitindo maiores volumes de passageiros transportados e redução das emissões de poluentes. Um ônibus articulado é capaz de retirar das ruas dois ônibus convencionais, enquanto que um biarticulado pode substituir três veículos, o que se traduz em redução do consumo energético e, consequentemente, menores emissões e vantagens econômicas operacionais.
Veículos com até 30 metros de comprimento são idealizados pelas montadoras para responder a operações severas e de alto rendimento. Curt Axthelm, gerente de marketing produto ônibus da Mercedes-Benz, destaca a importância dos modelos em sistemas racionalizados, cumprindo um papel fundamental no transporte de alta demanda de passageiros. “O superarticulado tem um custo de aquisição maior, porém, apresenta desempenho e rendimento expressivos em corredores estruturados e também em operações normais, em ruas sem priorização.”
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Os sistemas de BRT (Trânsito Rápido de Ônibus) podem ainda ser beneficiados com versões maiores. Axthelm observa que os projetos urbanos que utilizam ônibus com grande capacidade é uma solução para os problemas da mobilidade vividos pelas cidades. “Nosso superarticulado na versão HD, com piso alto, pode transportar até 223 passageiros, principalmente em linhas expressas nos corredores de BRT, onde haja pista para ultrapassagens nas estações, com ganhos operacionais importantes.”
Outro ponto enfatizado pelo gerente da montadora é o fato de o superarticulado ser operado tanto em horário de pico quanto fora dele, com um custo operacional reduzido em relação às versões maiores, no caso os biarticulados. A configuração do modelo, que emprega quatro eixos (o quarto é direcional), promove maior capacidade de frenagem, estabilidade e atende a lei da balança, de 37 toneladas de PBT.
O superarticulado O500 MDA HD traz um sistema de articulação mais robusto, o que permite configurar o salão de passageiros com 48 poltronas e espaço para 175 pessoas em pé. São 10% a mais de volume em relação ao modelo existente, porém, com um custo entre 2% a 3% maior que a versão oferecida anteriormente, segundo informa a montadora.
Na questão dos projetos de BRT, Axthelm destacou que o conceito é uma tendência, mesmo em um período econômico crítico vivido pelo Brasil. “As cidades com mais de 500 mil habitantes podem ter corredores estruturados de ônibus que promovam maior velocidade aos serviços. Depende da gestão pública para a reorganização dos sistemas de transporte e da mobilidade urbana.”
Ônibus articulados e biarticulados, no entanto, precisam de uma infraestrutura específica, capaz de promover operações mais eficientes. “São veículos de grande porte, com alta capacidade e que alcançam desempenho em sistemas estruturados, possibilitando viagens mais rápidas e confortáveis”, conta Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania.
No portfólio para atender às grandes demandas de passageiros, a Scania dispõe dos modelos articulados (18 m e 21 m) e o biarticulado, com 28 m e capacidade para 280 passageiros. São ônibus com avançado nível de tecnologia e adequados à realidade brasileira. “O mercado de chassis articulados e biarticulados depende muito dos sistemas organizados”, ressalta Munhoz. “No caso do modelo biarticulado, sua oferta é bem restrita, somente para metrópoles onde há um grande volume de passageiros. O futuro corredor carioca Transbrasil, por exemplo, assim que 100% finalizado, será uma oportunidade para que possamos ter nosso modelo em operação.”
A flexibilidade dos serviços de ônibus em médias e grandes cidades possibilita a operação de veículos com dimensões intermediárias, como é o caso do chassi com 15 m oferecido pela Scania. Ele é uma versão que se situa entre o modelo convencional, com 13 m, e o articulado de 18 m, podendo transportar 100 passageiros em condições de igualdade com os tipos comuns. No caso, entrega capacidade muito próxima a de um articulado, mas com custos operacionais menores. “É uma versão adequada e viável em sistemas urbanos que precisam de um veículo robusto e moderno, uma alternativa ao articulado”, observa Munhoz.
Entra também na equação da solução do transporte público de passageiros sobre pneus, o uso de combustíveis alternativos. A Scania, por exemplo, investe em um programa de demonstração de seu modelo com 15 m alimentado a gás natural/biometano. O ônibus já percorreu o Brasil, apresentando custos operacionais até 25% menores em relação ao modelo com motor a diesel. “Em nossa estratégia ambiental também queremos mostrar a versão articulada movida a gás natural/biometano, idealizada para os corredores exclusivos de ônibus”, adianta o diretor.
Bogotá, na Colômbia, por exemplo, serviu de laboratório de campo para um chassi biarticulado movido a gás/biometano da Scania. O veículo passou por testes e avaliações em condições reais de operação no sistema Transmilenio, quando foram medidas a capacidade de arranque em pistas íngremes, consumo de combustível e emissões de poluentes. De acordo com a montadora, equipes da Gas Natural Fenosa, fornecedora do combustível, e da Universidad Nacional de Colombia, acompanharam todas as provas operacionais, constatando que a tecnologia utilizada no veículo reduz em muito as emissões de gases tóxicos.
A capital colombiana se mostra como ideal para testes com novas tecnologias por estar localizada a 2.600 m de altura, além de ter trânsito pesado e paradas em grandes ladeiras. A Scania destaca que seu motor a gás, com a tecnologia que atende a norma Euro 6, atinge uma redução de mais de 90% de emissões de material particulado, óxidos de nitrogênio e 32% de dióxido de carbono, que são os principais contaminantes do ar e causadores do aquecimento global.
“A tecnologia da Scania de motores Euro 6 a gás traz duas vantagens técnicas muito importantes: a primeira é que está preparada para trabalhar em altitude e a segunda é que tem alta tolerância a variações na especificação do combustível, razão pela qual pode trabalhar com distintas qualidades de gás natural sem demandar ajustes no motor”, explica Benoit Tanguy, diretor-geral da Scania na Colômbia.
A montadora também ressalta o uso do combustível alternativo frente aos modelos movidos a diesel, com uma economia que ultrapassa os 25%, além permitir intervalos maiores de manutenção e ser dez vezes menos ruidoso.
Chassis de grande porte são veículos que visam garantir mais eficiência nas operações urbanas. “Produtividade gera sustentabilidade econômica e ambiental. Entendemos que os ônibus articulados e biarticulados são essenciais para aquelas cidades que buscam melhor mobilidade urbana”, avalia Ayrton Amaral, especialista em mobilidade urbana da Volvo Bus Latin America.
A montadora dispõe para o mercado os seus chassis articulados, em versões de 18,5 m, 21 m e 22 m, e os maiores modelos, com 28 e 30 m, em configurações biarticuladas. Para Amaral, no entanto, os grandes chassis não podem ficar restritos a poucos projetos em áreas urbanas e acredita ser erro pensar que somente grandes cidades possam absorver os grandes modelos.
“Precisamos pensar em sistemas de média e alta capacidade de passageiros com projetos que deem prioridade aos chassis maiores, com facilidade de embarque”, justifica. “Não podemos mais imaginar a operação com veículos de menor porte em sistemas racionalizados. Isso é um modelo antiquado. Quando a operação opta pelo articulado ou biarticulado com piso alto, para corredores com cobrança antecipada da tarifa, a velocidade comercial é aumentada em 50% em relação aos sistemas convencionais e os custos podem ser 50% menores”, revela.