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West Cargo transporta as primeiras vacinas contra covid-19

Brasil tem capacidade logística para distribuir a vacina, desde que haja planejamento por parte do governo com a iniciativa privada

Andrea Ramos

21 de jan, 2021 · 10 minutos de leitura.

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logística Vacina
Logística Vacina
Crédito:West Cargo/Leandro França/Divulgação
Sem planejamento, distribuição da vacina pode ser impactada

A West Cargo iniciou a distribuição da vacina Coronavac no Brasil. A empresa especializada no transporte de medicamentos atua no setor há mais de duas décadas. E ofereceu, gratuitamente, a logística para movimentar as primeiras doses da vacina contra a covid-19.

Ou seja, no Estado de São Paulo. Para fazer o transporte de vacinas em geral, a West Cargo utiliza uma frota com 20 caminhões. Esse número inclui modelos toco e trucado.

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No caso da vacina contra a covid1-9, o transporte foi feito com caminhões Volkswagen e Mercedes-Benz. Nas viagens mais longas, a empresa utiliza caminhões maiores da Scania. Baús refrigerados são os implementos usados no transporte.

Além disso, são rastreados por satélite. O monitoramento da temperatura é feito em tempo real. Segundo a empresa, os caminhões passaram por um rigoroso processo de esterilização.

Primeiros lotes da vacina foram entregues em SP

Na prática, os paulistanos foram os primeiros a receber a vacina no domingo (17). As doses destinadas ao Estado ficaram guardados em um centro de distribuição em Guarulhos. E de lá, levadas para outras cidades.


A informação é do gerente jurídico e de planejamento da West Cargo, Aluísio Barbaru. A vacina é levada em baús frigoríficos. E fica sob temperatura média de 4°C a 4,5°C. "Isso garante que não haja perdas do efeito ativo do medicamento", diz.

Barbaru afirma que a operação ocorreu de forma eficaz e sem atrasos. Isso porque no Estado o transporte envolveu curtas distâncias rodoviárias. Além disso, o número de lotes foi pequeno.

Entrega da vacina pode enfrentar gargalo

No entanto, a distribuição de novos lotes da vacina pode enfrentar um gargalo. Isso porque o Ministério da Saúde ainda não divulgou um planejamento. Ou seja, não está claro como será feita a distribuição. Assim como o armazenamento.


Além disso, a logística de distribuição da vacina contra a covid-19 é diferente das demais. Segundo o coordenador da Câmara Técnica Farmacêutica da NTC&Logística, Gylson Ribeiro, a operação deverá ser mais complexa.

De acordo com ele, em campanhas como a da gripe, por exemplo, há um planejamento detalhado. Dessa forma, a indústria se prepara e se organiza com relação a volumes e prazos de entrega.

Da mesma forma, as transportadoras também se planejam para realizar a distribuição. "Contudo, com a vacina contra a covid-19 há outros desafios", afirma Ribeiro.


Produção está paralisada

Ele lembra que é preciso haver produção e distribuição escalonada do imunizante. Uma segunda dose da vacina deve ser aplicada dentro do prazo determinado. Do contrário, a vacina não será eficaz.

O Butantan pode fazer 1 milhão de unidades por dia. Mas isso depende do recebimento da matéria-prima, que é importada. Na prática, isso dificulta o planejamento.

Portanto, se não for corrigido logo, esse problema pode se acentuar a longo prazo. A informação é do  engenheiro logístico e especialista em planejamento estratégico pela Universidade de Nova York, Antonio Wrobleski.


 

Transporte da vacina obedece regras específicas

Apenas transportadoras do setor farmacêutico podem fazer a distribuição da vacina contra a covid-19. Elas são especializadas no transporte de produtos sensíveis a altas temperaturas.


Além disso, devem credenciadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Bem como deve haver um farmacêutico responsável por acompanhar todo o processo. As normas estão descritas na  Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 430/20).

Ainda assim, metade das vacinas movimentadas no mundo chegam comprometidas ao destino. Sobretudo por falhas de logística. A informação e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, o controle do ambiente está entre os desafios do operador logístico.

Em baú para alimentos congelados, temperatura chega a -25°C

Seja como for, a tecnologia evoluiu para reduzir as falhas. Nesse sentido, as transportadoras têm como aliados, por exemplo, sistemas de monitoramento remoto da temperatura dos baús dos caminhões. Assim como os utilizados pela West Cargo.


Nesse sentido, é possível intervir à distância caso haja oscilação da temperatura. Por isso, os implementos têm sistemas de refrigeração que operam independentemente do motor do veículo.

Wrobleski destaca que o transporte de vacinas têm características específicas. As vacinas da SinoVac e da Oxford/AstraZeneca devem ficar entre 2°C e 8°C.

Já o da Pfizer requer temperatura de -70°C. Para comparação, nos baús dos caminhões que levam alimentos congelados a temperatura chega a -25°C.


Infraestrutura preocupa

Para o engenheiro, a missão de transportar 1 milhão de doses da vacina por dia preocupa. "Há ainda os insumos, como seringas e agulhas. Se eu tivesse de transportar um produto desta complexidade em fevereiro de 2021, estaria me preparando desde novembro, pelo menos."

Por isso, Wrobleski diz que será preciso uma força-tarefa. Até empresas de outros setores teriam de participar.

Ele acredita que uma saída seriam as empresas que atuam no transporte de carga refrigerada em geral. Porém, há poucas preparadas para operar com temperaturas tão baixas. Seja como for, para que isso ocorra será preciso autorização especial dos órgãos competentes.


"Mas não houve nem o mapeamento de locais com câmeras refrigeradas para guardar a vacina. Tampouco há um levantamento de empresas que podem realizar esse tipo de transporte", lembra.

Mitigar riscos na logística

Segundo Wrobleski, para reduzir os riscos seria necessário otimizar a entrega por tipo de vacina. Ele faz algumas sugestões. Por exemplo, entregar as que precisam de mais cuidados nas grades capitais. Um bom exemplo é da Pfizer. Por precisar de temperaturas muito baixas.

No outros cerca de 5,5 mil municípios, o engenheiro propõe a distribuição de vacinas com a Coronavac e da AstraZeneca/Oxfor. Ou seja, as que requerem operações menos complexas de distribuição.


"Esse planejamento não existe. Tanto é verdade a entrega dos lotes das primeiros seis milhões de vacinas tiveram atraso de até 48 horas em algumas regiões", diz Wrobleski.

Para evitar falhas, desperdício de dinheiro público e, sobretudo, mais mortes pela covid-19, o engenheiro sugere convocar a iniciativa privada. “Ninguém melhor do que o empresário de transporte para conhecer a infraestrutura do País e suas falhas", diz.

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