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Venda de caminhões pesados em queda acende alerta na indústria

Enquanto ônibus avançam, produção e emplacamentos de caminhões recuam, puxando para baixo o desempenho dos veículos pesados

Andrea Ramos

08 de out, 2025 · 8 minutos de leitura.

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Mercado de caminhões pesados acende alerta na indústria automotiva
Mercado de caminhões pesados acende alerta na indústria automotiva
Crédito:Fotos: ANTT
Mercado de caminhões pesados acende alerta na indústria automotiva

O setor de de caminhões e ônibus enfrenta uma clara divisão na trajetória em vendas em 2025. Ou seja, de um lado os emplacamentos de ônibus estão em alta, sobretudo por causa das exportações, bem como de programas de governo para mudança das frotas. Porém, os negócios envolvendo caminhões pesados continuam em queda acentuada. Segundo as fabricantes, um dos principais responsáveis é a restrição ao crédito e as altas taxas de juros, além do aumento da inadimplência.

Como resultado, no acumulado de janeiro a setembro as vendas de veículos pesados somaram 84,1 mil unidades. Assim, o número representa recuo de 7,7% na comparação com o mesmo período de 2024. Conforme a Anfavea, associação que representa as fabricantes, os emplacamentos de ônibus cresceram 12,2% no mesmo intervalo, com 17.690 unidades.

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Do mesmo modo, nos nove primeiros meses de 2025 a produção de caminhões caiu 3,9%, com 98,6 mil unidades. Segundo as fabricantes, o impacto só não foi maior por causa das exportações. Por outro lado, a produção de ônibus cresceu 13,4%, totalizando 24.030 chassis no mesmo período.

Setor de caminhões pesados encolheu mais de 20%

De acordo com o presidente da Anfavea, Igor Calvet, a queda do setor de caminhões pesados supera 20% no acumulado do ano. Assim, passou a ser a principal fonte de preocupação da indústria. “O mercado de caminhões pesados não está apenas patinando, vai muito mal. O desempenho ruim desse segmento explica a reversão de tendência que observamos a partir do segundo trimestre”, afirma.


Calvet destaca que 45% das vendas totais de caminhões no Brasil é de pesados. “Esse grupo representa quase metade do mercado. Portanto, carrega grande peso no desempenho geral. A retração acende um sinal de alerta importante para todo o setor”, diz. Além disso, o executivo afirma que o aumento da inadimplência e o crédito restrito impactaram diretamente o transporte de longa distância. Ou seja, o segmento que mais demanda caminhões extrapesados.

Mercado de caminhões pesados acende alerta na indústria automotiva
Calvet compartilhou com Lula a apreensão da Anfavea com o setor de caminhões - Fotos: Andrea Ramos

Ônibus ganham fôlego com exportações e programas públicos

“Há uma previsão de safra boa, mas a liquidez do setor agro diminuiu. Isso reduz a disposição para investimentos em renovação de frota. Especialmente de caminhões pesados”, afirma o presidente da Anfavea.

Enquanto os caminhões enfrentam retração, o mercado de ônibus mostra vigor. E parte desse crescimento tem a ver com programa Caminho da Escola e do avanço das exportações. Especialmente para Peru, Chile e Paraguai, que juntos absorvem grande parte dos chassis fabricados no País.

“O mercado de ônibus tem encontrado sustentação nas exportações. Só o Peru responde por quase 40% das vendas externas do setor”, diz Calvet. “É um movimento importante, pois mostra que o Brasil ainda é competitivo nesse tipo de produto”, acrescenta.


Todavia, o presidente da Anfavea reconhece que o avanço dos ônibus não compensa a retração dos caminhões pesados. O que mantém a curva negativa do conjunto de veículos pesados.

Trimestre reforça cenário desafiador

No recorte trimestral, os números mostram deterioração constante. Após crescer 8,8% no primeiro trimestre, puxado pelas vendas da Fenatran, o setor de pesados caiu 5,5% no segundo e 14,2% no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2024. Além disso, a produção caiu 9,4% no último trimestre, confirmando a desaceleração.

Segundo Calvet, o quadro é “muito difícil”. E exige atuação coordenada entre montadoras e governo para destravar a demanda. “O setor de caminhões já vinha dando sinais de enfraquecimento desde o segundo trimestre. Porém, agora, a crise se aprofundou. Precisamos atuar para que haja retomada no mercado de de caminhões”, diz.

Emprego e capacidade produtiva resistem

Apesar do cenário desafiador, a indústria automotiva manteve cerca de 5 mil vagas criadas em 12 meses, segundo a Anfavea. Essa estabilidade decorre, em parte, do uso de instrumentos como férias coletivas, “layoff” e programas de qualificação, que evitam desligamentos em massa. “Seguramos o ritmo de produção e mantivemos a massa trabalhadora por questões de qualificação e treinamento. Acreditamos que o setor voltará a crescer no próximo ano”, destacou Calvet.

Ainda assim, a associação estima perda de cerca de 180 vagas apenas no setor de pesados. Em outras palavras, reflexo direto da desaceleração da produção de caminhões. Seja como for, Calvet sinaliza que o governo deve priorizar políticas de crédito e renovação de frota, considerando o impacto do transporte pesado na economia. “Não há dúvida de que caminhões e ônibus são termômetros da atividade econômica. Se o setor de pesados está com dificuldade, o País também está.”


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