A BorgWarner aposta que o ciclo dos motores a combustão nos veículos pesados ainda está longe do fim. Segundo a diretora-geral da divisão Turbos & Thermal Technologies (TTD) da empresa, Melissa Mattedi, a descarbonização, e não a eletrificação total, continua sendo o principal vetor de transformação no transporte rodoviário.
“Na nossa região, a agenda entrou fortemente pela descarbonização. Mas não pela eletrificação. E o turbo atende 100% desse movimento”, diz. De acordo ela, o sistema continua sendo essencial para melhorar a eficiência energética, bem como reduzir consumo de combustível e aumentar o desempenho dos veículos pesados. Inclusive nos que utilizam biometano e biodiesel.
Conforme Mattedi, enquanto a eletrificação avança em segmentos específicos, os motores a combustão continuarão dominando o transporte de longa distância. “Não vejo risco para o turbo nos próximos anos. O mercado de pesados ainda depende da eficiência térmica e do rendimento do motor”, diz.
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Cautela com o mercado de pesados
Porém, apesar da relevância tecnológica a executiva demonstra preocupação com o cenário econômico. Ela lembra que as fabricantes de pesados já sinalizaram retração de vendas neste semestre. Isso é reflexo direto dos juros altos e da desaceleração do desempenho do agronegócio.
“Este ano já sentimos uma queda nos volumes. A economia, o agro e as tarifas internacionais têm afetado o segmento de pesados, que é o mais impactado”, afirma Mattedi. Seja como for, ela diz que 2026 deve manter cenário de estabilidade. Sobretudo sustentada por políticas de estímulo e pela busca do governo em evitar más notícias em ano eleitoral. No entanto, ela alerta que o cenário pode mudar.
Estratégia industrial e novos projetos da BorgWarner
Mesmo diante das incertezas, a BorgWarner mantém planos de fortalecer sua base no Brasil. A executiva conta que a fábrica em Itatiba, no interior do São Paulo, está bem posicionada e com espaço disponível para novos projetos. Nesse sentido, a empresa desenvolve soluções de descarbonização com fabricante brasileira. Aliás, com exceção da DAF, a companhia atende todas as fabricantes de caminhões no País.
“Temos uma planta moderna, com tecnologia e espaço. Não precisamos construir uma nova fábrica, apenas receber novos projetos”, afirma. Recentemente, a empresa iniciou contatos com parceiros na China e no Brasil para ampliar oportunidades e diversificar sua base de clientes.
Segundo Mattedi, a BorgWarner vai superar 25% de crescimento em faturamento. E continua investindo em automação e inteligência artificial para aumentar a produtividade. “Instalamos balanceadoras e câmeras com IA para reduzir desperdícios e melhorar a qualidade. Estamos prontos para crescer quando o mercado reagir”.
Perspectiva
Para a executiva, o setor de caminhões atravessa uma fase de transição que exige equilíbrio entre eficiência e rentabilidade. A BorgWarner vê o turbo e os sistemas térmicos como tecnologias-chave para sustentar esse período de adaptação. Assim, permite manter a competitividade dos produtos atuais enquanto novas alternativas energéticas amadurecem.
“Nosso papel é ajudar os clientes a se adaptar, mantendo desempenho e reduzindo emissões. A descarbonização não é o fim do motor a combustão, é a sua evolução”, afirma a executiva.