O setor de transporte rodoviário de cargas é conhecido por suas batalhas diárias nas estradas e também nos bastidores administrativos. Mas algumas histórias se destacam pela força e pela determinação de quem acreditou que, mesmo em meio ao caos, era possível recomeçar.
Assim, é o caso de Rosilene Capuzzo e Mauro Capuzzo, um casal de Uberaba (MG) que, com coragem e muito trabalho, transformou um sonho quase desfeito em uma transportadora de sucesso. Essa é a história da Santa Edwiges Transportes.
- VEJA MAIS:
- Com juros altos, transportadores adiam compra de caminhões; veja alternativas
- Abastecer caminhão Scania S 770 V8 no Brasil pode custar quase quatro salários mínimos
- Volkswagen Caminhões aposta nos serviços para enfrentar desafios dos extrapesados
Tudo começou quando Mauro, ainda funcionário de uma pequena transportadora da cidade, percebeu que a empresa para a qual trabalhava estava enfrentando dificuldades. A frota antiga e sem manutenção levava o negócio à falência. Dessa forma, colocando em risco o emprego que sustentava a casa. Em uma conversa decisiva, Mauro e Rosilene decidiram arriscar e abrir a própria transportadora.
“Ele me disse que achava que aquele emprego não iria durar muito. Então eu falei: se depender de mim, vamos tentar ter o nosso próprio negócio”, lembra Rosilene.
O primeiro revés

Com um financiamento bancário apertado o casal comprou o primeiro caminhão. Todavia, para conseguir pagar as parcelas do financiamento, nos primeiros meses, Mauro continuou trabalhando para o antigo patrão, enquanto a empresa recém-criada dava seus primeiros passos.
Mas o imprevisto bateu à porta. O caminhão sofreu um grave acidente e teve perda total na parte de trás, restando apenas a cabine.
Sem condições de comprar outro implemento, a solução foi alugar uma carreta para manter o trabalho rodando. Ao mesmo tempo, as dívidas se acumulavam, e a empresária passou a receber diariamente oficiais de justiça em casa.
“Além do caminhão, o nosso imóvel era financiado. Todos os dias tinha alguém na porta. Por isso resolvi ir até o banco e concentrar toda a dívida”, conta.
Como resultado, durante 18 meses casal apertou o orçamento ao máximo. O filho saiu da escoa particular e a alimentação passou a ser a básica. “Não tinha condição de variar. Em outras palavras, o que a gente ganhava com o caminhão e o salário do meu marido era para pagar o banco, o aluguel do implemento e manter o mínimo dentro de casa”, relembra Rosilene.
Vestuário e outros itens eram doados por familiares. E o filho, Matheus Capuzzo — hoje com 20 anos — cresceu nesse período difícil sem sequer perceber o tamanho do sacrifício feito pelos pais.
Esforço e disciplina mantém a operação da transportadora
Passado esse período, após quitarem a dívida, o trauma financeiro fez com que o casal passasse a adotar a política de comprar os próximos caminhões à vista. Dessa forma, os cinco primeiros foram comprados no dinheiro. A empresa comprava um por ano. Só depois de cinco anos, quando a gente tinha um fôlego melhor, é que começamos a financiar com segurança”, explica.
Hoje, 12 anos depois, a empresa conta com uma frota moderna e bem cuidada. Destaque para a idade média de um ano e meio. Todos das marcas Scania, Volvo e DAF. São 35 motoristas, equipe administrativa e colaboradores no pátio e borracharia.

A sócia proprietária continua atuando ativamente em todas as áreas. Ou seja, cuida da parte burocrática, contrata funcionários. E até prepara café da tarde para os funcionários. Além disso, acompanha de perto a escolha dos caminhões e das cores da frota.
“Eu não estudei muito. Mas cuido de tudo com carinho e atenção. Gosto de ver a empresa bem e os funcionários trabalhando felizes”, afirma.
Como resultado, a empresa, que começou com um caminhão financiado, hoje sustenta mais de 40 famílias e se tornou exemplo de resiliência e gestão humanizada no setor. “A gente passou pelo buraco. Mas saímos com dignidade, sem pedir nada a ninguém. Hoje eu olho pra trás e me orgulho do que a gente construiu”, conclui Rosilene.