Durante o Congresso Fenabrave, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a taxa básica de juros deve permanecer elevada por um período longo. Como a Selic está em 15% ao ano, o crédito continua caro e a oferta, limitada, o que dificulta a renovação e a expansão das frotas de caminhões e ônibus no Brasil.
Além disso, Galípolo destaca que a política monetária é essencial para o controle da inflação. No entanto, no setor de transporte rodoviário o impacto das taxas altas é evidente. Assim, tanto os caminhoneiros autônomos quanto as empresas encontram barreiras cada vez maiores para contratar financiamento de caminhões.
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Extrapesados lideram as quedas
De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Concessionários Volkswagen (Acav), Marco Borba, o atual nível de juros é um dos mais altos dos últimos 15 anos. Com isso, compromete diretamente a confiança dos clientes. “Quando falamos de caminhões de R$ 1 milhão ou mais, o financiamento é decisivo. Hoje, esse custo adicional pesa muito na decisão de compra”, diz.

Borba destaca que no setor de extrapesados a retração é próxima de 20% em relação aos números de 2024. Seja como for, os segmentos de ônibus e veículos leves e médios apresentam alguma recuperação. Isso se deve ao aumento da demanda por entregas de última milha nas grandes cidades. Segundo ele, isso mostra que os juros altos afetam de forma desigual os diferentes segmentos do transporte.
Além disso, o presidente da Acav chama a atenção para a para a inadimplência crescente, com atrasos no pagamento que superam os 90 dias. Assim, para se proteger dos calotes os bancos acabam restringindo a concessão de crédito. Como resultado, há retração das vendas de veículos pesados.
Agro enfraquecido agrava cenário
Para a economista Tereza Fernandez, da TF Assessoria, o problema não está restrito ao crédito caro para as transportadoras. Segundo ela, o agronegócio, que responde por boa parte da demanda de caminhões, enfrenta dificuldades inéditas. “Muitas empresas entraram em recuperação judicial após se alavancarem demais em 2024. Além disso, a forte variação cambial elevou o preço dos fertilizantes, reduzindo margens e afetando a rentabilidade”, diz.
Embora a produção agrícola registre alta, Fernandez afirma que isso não se traduz em maior capacidade de investimento. “A rentabilidade continua baixa e a Selic a 15% torna o financiamento quase inviável. A consequência é clara. O setor de transporte ligado ao agro permanece em compasso de espera.”
Expectativa de melhora só no fim do ano
Assim, especialistas acreditam que o mercado de caminhões e ônibus continuará pressionado até que haja redução das taxas de juros. A recuperação mais consistente, segundo as projeções, deve ocorrer apenas no último trimestre deste ano ou mesmo em 2026, dependendo do ritmo da política monetária e da recuperação financeira das empresas agrícolas.