O mercado de ônibus acima de 6 toneladas deve encerrar 2025 com 22 mil a 23 mil unidades, segundo projeção do diretor comercial da Scania, Alex Nucci. Embora represente um patamar estável nos últimos dois anos, a divisão rodoviária, onde a Scania se destaca, permaneceu abaixo do esperado. O segmento deveria operar entre 4 mil e 5 mil veículos por ano. Porém ficou “um pouco menor”, afirma o executivo.
Além disso, Nucci destaca que o varejo sentiu mais o impacto dos juros altos. “O cliente de pequeno porte adiou a renovação por um ou dois anos, e isso diminui o volume”, explica. O movimento afetou sobretudo o turismo, setor que costuma antecipar compras no segundo semestre, porém posterga pedidos para 2026.
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Por outro lado, o transporte urbano ganhou protagonismo. O avanço da eletrificação, somado ao Caminho da Escola, impulsionou as vendas, enquanto o rodoviário ficou mais lento. Entretanto, a Scania acredita que parte da demanda represada volta a aparecer diante da expectativa de redução gradual da Selic. “Há espaço para a taxa cair para algo entre 12% e 12,5% no fim de 2026”, projeta.
Gás e elétricos da Scania avançam
Além do mercado tradicional, a Scania abriu novas frentes com ônibus a gás e biometano. A marca já vendeu lotes para Goiás e negocia com a Prefeitura de São Paulo dentro do projeto dos ônibus sustentáveis. Nesse sentido, vale lembrar que a cidade já conta com 1 mil ônibus elétricos, a maior frota com a tecnologia do País.
Segundo Nucci, o gás tornou-se um “excelente complemento ao elétrico”, pois supera limitações de infraestrutura em algumas regiões. Além, é claro, de ser mais barato. “A cidade de São Paulo está preparada para operar com os dois modelos. Afinal já há biometano disponível sendo capaz de reduzir CO₂ de forma significativa”, afirma.
Nesse sentido, a montadora opera projetos-piloto de ônibus elétricos na capital paulista. Assim, ampliando sua participação em frotas de emissão zero.
Caminhões pesados desabam e puxam 2025 para baixo
No mercado de caminhões, a leitura é mais dura. Os pesados caíram cerca de 20% no acumulado do ano, porém a situação se agravou no último trimestre. Entre agosto e novembro, o segmento recuou 30% a 35% mês a mês na comparação anual. A Scania deve cair no patamar de 20%. Porém, Nucci não quis cravar um número e prefere esperar o fechamento do ano.
Conforme o executivo, a inadimplência subiu e superou 1,5%, índice considerado elevado para o transporte de carga. “O agro enfrentou dificuldades e isso trava crédito. Quando o produtor melhora, ele puxa fertilizantes, combustíveis, defensivos e toda a cadeia volta. Mas ainda não aconteceu plenamente”, afirma Nucci.
Além disso, o crédito ficou mais seletivo. O CDC ganhou agilidade, porém cobra IOF; o Finame exige mais documentação, porém não tem IOF. “As taxas hoje estão muito próximas. O cliente escolhe mais pela praticidade”, diz.
A soma de juros altos, inadimplência e exigências das financeiras levou a Scania a operar de forma mais conservadora em caminhões, já que os estoques estão maiores que o usual. E a marca não costuma trabalhar com estoques.
Em razão desse cenário, a Scania flexibilizou sua produção na planta de São Bernardo do Campo (SP), passando a operar com apenas um turno de produção.
2026 terá estabilidade, mas só reação consistente virá após queda da Selic
A visão da fabricante do grifo é que 2026 seja praticamente igual a 2025, se a Selic não cair. O setor precisa estabilizar inadimplência e crédito antes de qualquer retomada. “O mercado ainda precisa se ajustar para voltar a crescer com segurança. A queda dos juros será essencial”, diz Nucci.
Além disso, a montadora defende políticas que incentivem veículos sustentáveis. Como isenção de IPVA, reduções de pedágio e linhas de crédito específicas. “Para elétricos e gás, um benefício bem calibrado viabiliza o investimento”, afirma.
Ainda que o segundo semestre de 2025 tenha mostrado melhora, o executivo mantém cautela. Entretanto, caso a Selic recue e a inadimplência volte ao controle, o setor pode iniciar uma trajetória positiva a partir da metade de 2026.