As ocorrências de roubo de carga nas estradas federais do Brasil recuaram 27,1% em agosto de 2020. No mês passado, foram 59 casos, ante os 81 registros feitos em agosto de 2019. Na comparação do primeiro semestre deste ano (536 ocorrências) com o mesmo período de 2019 (577 registros), a queda foi de 7,1%. Os dados foram apurados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) a pedido do Estradão.
A queda no número de ocorrências vem acontecendo gradualmente há três anos. Em 2019 o número de assaltos recuou 17,1% na comparação com 2018. Na comparação de 2018 com 2017, a redução foi de 16,8%. Produtos alimentícios, combustíveis, farmacêuticos, cigarros e bebidas foram as cargas mais visadas pelos ladrões. Essas informações fazem parte do relatório de 2019 feito pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística - NTC&Logística.
A expectativa é de recuo entre 17% e 19% no total de ocorrências em 2020. A estimativa é do assessor de segurança do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp), Coronel Paulo Roberto de Souza. Segundo ele, a queda é resultado das ações de combate a crimes feitas pelos órgãos de segurança dos Estados.
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Souza destaca a maior efetividade sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os dois Estados são os campeões no número de registros de roubo de carga no País. “Em todo o Brasil é perceptível a melhoria do trabalho da polícia”, diz o especialista.
Outro importante fator que contribui diretamente para a queda das ocorrências é o maior investimento das empresas de transporte no gerenciamento de risco. Isso envolve o aprimoramento da gestão da operação e, também, a implantação de tecnologias de rastreamento e bloqueio de veículos. “As transportadoras estão aprimorando seus processos e sendo mais cuidadosas”, diz o cel. Souza.
Porta-voz da PRF em São Paulo, Flávio Catarucci confirma o maior empenho nas operações contra roubo de carga em todo o País. “Em 2020, a Operação Tamoio evitou prejuízo superior a R$ 1 bilhão, graças a apreensões e prisões de bandidos". Além disso, mais mil policiais foram integrados às equipes de fiscalização. Esse efetivo foi aprovado no último concurso público da corporação.
Segundo Catarucci, os novos agentes foram treinados no ano passado. E passaram a atuar em 2020 utilizando técnicas mais modernas de fiscalização e controle.
A PRF também vem fazendo ações educativas com caminhoneiros. O objetivo é evitar ou, pelo menos, minimizar a exposição desses profissionais a situações que facilitem o roubo de carga. “O caminhoneiro é o elo mais sensível dessa corrente e precisamos dar mais atenção a isso”, diz.
Entre as orientações há dicas simples, mas que muitas vezes são negligenciadas. É o caso de não dar carona a desconhecidos. Outra regra básica é evitar comentar com estranhos sobre o tipo e valor da carga que está sendo transportada, bem como o destino do frete.
Tecnologia no combate ao roubo de carga
O setor privado também tem se empenhado para inibir os roubos, segundo o porta-voz da PRF. As transportadoras vêm investindo em tecnologias voltadas à segurança. "Isso vem acompanhado da evolução da segurança privada”, diz Cartalucci.
A Autotrac, especializada em rastreamento de frotas, é uma das empresas que registraram aumento na venda de equipamentos em 2020. Diretor de Marketing da empresa, Márcio Toscano diz que esses sistemas evoluíram muito e atualmente focam a prevenção, e não apenas a reação em caso de roubo.
“Há conjunto de equipamentos, software e procedimentos operacionais que atuam de forma integrada para alertar sobre sinais de iminência de roubo”, afirma Toscano. Além disso, há equipamentos que dificultam a ação das quadrilhas quando o roubo está em curso.
É o caso do bloqueio da partida do motor e dos freios do veículo. Há ainda dispositivos como travas para baú de carga e para a quinta roda, no caso de veículos com implementos articulados.
A T4S também registrou aumento na demanda por tecnologias para evitar o roubo de carga. Uma das principais soluções oferecidas pela empresa é um bloqueador que imobiliza o veículo em caso de tentativas de roubo e de violação dos sistemas de rastreamento.
Diretor da T4S, Luiz Henrique Nascimento diz que em três anos o sistema ajudou a recuperar cerca de R$ 30 milhões em mercadorias. “O Brasil é um dos países campeões em roubo de carga. Mas novas tecnologias vêm surgindo e colaborando para reduzir os prejuízos.”
Investimento reduz número de ocorrências
Em 2017, a Transjordano investiu R$ 2,5 milhões em tecnologias de rastreamento. Responsável pela gestão estratégica da transportadora, Joyce Bessa conta que, além dos rastreadores, todos os caminhões têm câmeras”, diz. Outras medidas bastante efetivas no combate ao roubo, segundo Joyce, foram a intensificação no treinamento, a premiação aos motoristas e as avaliações mais criteriosas de riscos nos pontos de parada.
“Além dos rastreadores, todos os nossos caminhões têm câmeras”, diz. Outras medidas bastante efetivas no combate ao roubo, segundo Joyce, foram a intensificação no treinamento, a premiação aos motoristas e as avaliações mais criteriosas de riscos nos pontos de parada.
A frota da Transjordano é composta por 350 caminhões e semirreboques que somam mais de 100 placas. A empresa atua em operações de transporte em todo o Brasil. Da carteira de clientes fazem parte grandes companhias, como Raízen, Petrobras e Braskem.
O Grupo Scapini também aumentou os investimento em sistemas de rastreamento. Diretor comercial da empresa, Lucas Scapini diz que em 20% a alta foi de 15% na comparação com os investimentos feitos em 2019. A empresa também contratou mais profissionais para a área de gerenciamento de riscos. “Estamos em constante contato com órgãos públicos para criar medidas de cooperação!, diz.
O resultado é que o número de roubos registrados pela empresa diminuir. “Dos 2 mil embarques que tivemos em setembro, houve 15 sinistros", diz Scapini. Segundo ele, no mesmo mês de 2019 o total de registros foi de cerca de 20 "ou um pouco mais”. Com 540 caminhões próprios, a Scapini atua em operações de transporte de carga em todo o Brasil.