A remanufatura de motores e componentes pesados vive um dos momentos mais promissores no Brasil. Impulsionado pela modernização da frota, pela exigência de soluções sustentáveis e pela busca constante de economia, o setor se consolida como alternativa estratégica para o transporte rodoviário de cargas. Todavia, além de reduzir custos e ampliar a vida útil de peças, a prática contribui para evitar o descarte prematuro de materiais e a emissão de gases de efeito estufa.
Dessa forma, atualmente, a operação de remanufatura da Cummins, responsável pela marca ReCon, já evita a emissão de 90 mil toneladas de CO₂ por ano no País. Segundo a gerente de remanufatura da empresa para América do Sul, Mariana Marcondes, o segmento se tornou peça-chave na logística nacional.
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“Em 2024, nossa linha de motores remanufaturados cresceu mais de 60%. E com a chegada do Euro 6, a tendência é de que esse movimento se intensifique ainda mais”, afirma.
Como funciona o processo e o que muda com o Euro 6

Os motores remanufaturados passam por um ciclo rigoroso de desmontagem, limpeza, análise, usinagem e montagem. Bloco, cabeçote, virabrequim, bielas e eixo de comando são reaproveitados e voltam a operar com desempenho equivalente ao de uma peça nova. Dependendo do nível de desgaste, até 70% do motor pode ser reutilizado.
A chegada do Proconve P8 (Euro 6) acelerou esse processo. Sistemas de pós-tratamento de gases, como SCR e DPF, agora possuem módulos intercambiáveis. Assim, permite a troca apenas do componente avariado, reduzindo custos e desperdício.
“Hoje atendemos desde motores Euro 3 até Euro 6. E seguimos desenvolvendo soluções para essas novas tecnologias”, complementa Mariana.
Além disso, a Cummins já estuda a remanufatura de componentes elétricos e híbridos. Assim, já se preparando para novas tendências do mercado de eletrificação.
ZF aposta na otimização de processos e novos materiais
Para a ZF, a remanufatura sempre foi um pilar estratégico, mas os últimos anos trouxeram avanços importantes em qualidade, rastreabilidade e reaproveitamento de peças. Gerente Sênior de tecnologias de Driveline da ZF América do Sul, Caio Silva, explica que o conceito de economia circular ganhou força com o ESG em alta e a demanda por soluções mais sustentáveis.

“A remanufatura deixou de ser vista apenas como alternativa econômica. Hoje, é uma resposta ambiental e técnica para frotistas e montadoras. E com os avanços na seleção e qualificação das peças, conseguimos reaproveitar até 100% de alguns componentes, como embreagens, dependendo da condição”, destaca.
Segundo ele, o processo de remanufatura não apenas reaproveita peças como também reduz o tempo de parada dos veículos. E entrega produtos com a mesma garantia de fábrica. Além disso, a ZF já testa novas possibilidades, como a remanufatura de transmissões e o desenvolvimento de embreagens e compressores para veículos híbridos e elétricos.
“O futuro passa por transmissões híbridas e automatizadas. E nossa cadeia já está se preparando para remanufaturar essas tecnologias”, adianta Caio.
Mercedes-Benz reforça a sustentabilidade no pós-venda
Na Mercedes-Benz, o programa Renov segue a mesma linha de crescimento. De acordo com o vice-presidente da marca, Jefferson Ferrarez, a demanda por peças remanufaturadas cresce ano após ano. E o motivo vai além da economia. “O cliente busca qualidade original, garantia de fábrica e menor impacto ambiental”, afirma.
O executivo reforça ainda que a remanufatura reduz o consumo de energia, água e insumos industriais. Além disso, evita a extração de matérias-primas e o descarte precoce de materiais. Assim, fortalecendo a economia circular no setor de transporte.
“Hoje, não se trata apenas de custo-benefício. A peça remanufaturada virou uma escolha consciente, que entrega a mesma confiabilidade com menor pegada ambiental”, completa Ferrarez.
Crescimento acelerado e desafios para o futuro
Com a frota brasileira ainda bastante envelhecida — fator que naturalmente favorece o mercado de remanufatura —, os especialistas acreditam que o setor seguirá em alta pelos próximos anos. Segundo Caio Silva, da ZF, o volume global de remanufatura tende a dobrar até 2030, e o Brasil acompanha esse ritmo.
Porém, há desafios, Entre eles, a necessidade de qualificação da rede de fornecedores e a adaptação dos processos industriais para atender tecnologias cada vez mais avançadas. No entanto, com ganhos ambientais e econômicos claros, a remanufatura já ocupa papel central na estratégia de montadoras, frotistas e fornecedores.