A Anfavea intensificou nesta semana o alerta sobre a retração das vendas de caminhões. Segundo o presidente da associação das montadoras, Igor Calvet, a desaceleração é tão forte que representa o equivalente a um mês inteiro de produção, considerando as perdas acumuladas de janeiro a outubro.
Nesse período, as montadoras fabricaram 108,8 mil caminhões. Para comparação, no mesmo período de 2024 saíram das linhas de produção 117,4 mil unidades. Assim, foram fabricados 8,6 mil veículos a menos, o que confirma a forte retração nas vendas e produção que se repete mês após mês.
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Além disso, Calvet ressaltou que a maior retração ocorre no segmento de extrapesados. Ou seja, são justamente os modelos que mais impactam, para cima e para baixo, a rentabilidade das fabricantes.
Outubro confirma desaceleração mais intensa de caminhões
Dessa forma, os resultados de outubro ampliam o sinal de alerta. As fábricas montaram 10,2 mil caminhões, número levemente superior ao de setembro (+0,5%). No entanto, esse volume ficou muito distante de outubro do ano passado, quando o setor havia superado 12 mil unidades. Dessa forma, o recuo anual atingiu 31,3%.
Emplacamentos confirmam retração de 8,3% nos caminhões
Ademais, os licenciamentos reforçam o cenário negativo. Entre janeiro e outubro, o mercado brasileiro registrou 94,7 mil caminhões. Enquanto no ano anterior o total chegou a 103,3 mil unidades. Assim, o setor acumulou queda de 8,3% nos emplacamentos.
Além disso, outubro encerrou com 10,7 mil unidades, crescimento de 8,8% ante setembro. Todavia, o volume permaneceu 12,7% abaixo do resultado de outubro de 2024. Para Calvet, o quadro mostra que “o problema precisa de atenção mês a mês, aliás, semana após semana”, já que a demanda segue travada por crédito caro, custos operacionais mais altos e cautela dos frotistas diante do Proconve P8.
Calvet destacou que o setor de caminhões sofre penalização dupla com o IOF, já que a estrutura de financiamento no Brasil encarece a compra tanto para clientes quanto para concessionários. Segundo ele, o imposto incide duas vezes nas operações, o que reduz o apetite dos frotistas e dificulta o planejamento comercial das marcas.

Nesse sentido, ele afirmou que retirar o IOF seria a medida mais eficaz para aliviar o custo do crédito e destravar as vendas. Embora reconheça que isso dependa do governo. Calvet lembrou ainda que, por um curto período de três ou quatro meses, a indústria conseguiu avançar em programas de renovação de frota. Mas a janela se encerrou sem continuidade.
Assim, para o executivo, três frentes poderiam ajudar a reativar o mercado. Eliminar o IOF das operações, ampliar linhas específicas de financiamento para caminhões e retomar um programa nacional de renovação. Segundo ele, essas ações beneficiariam diretamente o consumidor e ajudariam o setor a recuperar volume e empregar mais.
Ônibus seguem caminho oposto e crescem 7,2% no ano
No segmento de ônibus, o comportamento foi diferente. Mesmo com a queda de 23,4% entre setembro e outubro, o setor manteve crescimento de produção no acumulado do ano. As montadoras elevaram a produção de 23,6 mil para 26,2 mil unidades. O que representa avanço de 10,8%. Esse aumento alivia parte da pressão industrial, embora não seja suficiente para compensar a retração dos caminhões.
Nos emplacamentos os ônibus mantiveram trajetória positiva. Entre janeiro e outubro, o País somou 19.660 unidades emplacadas, número 7,2% maior que o do mesmo período de 2024. Além disso, outubro registrou 1.970 unidades, leve alta em relação a setembro (1.954 veículos).
Todavia, o mês ficou 0,8% abaixo do desempenho de outubro passado, quando o setor havia licenciado 2.576 ônibus. Ainda assim, Calvet destacou que a demanda do transporte coletivo segue aquecida, impulsionada por compras de renovação de frotas públicas e privadas.
Montadoras de caminhões reforçam agenda climática na COP30
Apesar do ambiente desafiador para os caminhões, as fabricantes usaram a COP30, em Belém, para destacar estratégias de descarbonização. A Scania levou para o evento seus avanços em biometano, além da Escola Móvel de Economia Circular, projeto itinerante com ações educativas sobre sustentabilidade e uso eficiente de recursos.
Do mesmo modo, a Mercedes-Benz também reforçou sua estratégia multienergia. Assim, combinando caminhões elétricos, motores a diesel de baixa emissão com uso de tecnologia equivalente ao HVO, feita no Brasil.
Além disso, a Volkswagen Caminhões e Ônibus apresentou o projeto Laneshift E-Dutra, que estabelece o primeiro corredor elétrico de longa distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. O plano inclui a instalação de hubs de recarga ao longo da Via Dutra. O que viabiliza o uso de caminhões elétricos em rotas logísticas de maior exigência.
Mesmo diante da queda do mercado, Calvet enfatizou que a indústria brasileira não reduz investimentos. Para ele, as iniciativas apresentadas na COP30 comprovam que montadoras seguem comprometidas com a transição energética e com a modernização da cadeia logística.