Entrevista

Prometeon, que produz Pirelli, prepara-se para um mercado ávido por pneus

Prometeon ampliou produção e contratou mais funcionários para dar conta da demanda por pneus no mercado de caminhões

Andrea Ramos

31 de mar, 2022 · 13 minutos de leitura.

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Prometeon está preparada para atender o mercado ávido por pneus
Prometeon está preparada para atender o mercado ávido por pneus
Crédito:Divulgação

A Prometeon (cuja pronuncia é Promithium) fabrica pneus com a marca Pirelli, empresa com presença global. Porém, a divisão é inteiramente dedicada ao mercado industrial. Ou seja, produz sob licença pneus de caminhões, ônibus, agro e OTR (voltado ao fora-de-estrada).

Recentemente, a companhia anunciou investimento para ampliar a produção de pneus, com novas contratações na fábrica de Gravataí (RS). O objetivo é suportar a forte demanda do setor de agronegócios. Assim, produz sete dias por semana, com três turnos. Além disso, aumentou em 18% a mão de obra no local, e conta com 450 novos funcionários.

CEO da Prometeon no Brasil, Eduardo Fonseca, diz que a expansão ocorre no momento em que o mercado de pneus está em franco crescimento. Sobretudo o de pneus para o setor agro, incluindo produtos para caminhões e ônibus. "Com o aquecimento da economia, o avanço da vacinação e a vida voltando ao que consideramos normal, a demanda por estes produtos está extremamente aquecida. E estamos trabalhando dia e noite para conseguir atender os nossos clientes", diz o CEO.


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Prometeon está preparada para atender o mercado ávido por pneus
Eduardo Fonseca, CEO da Prometeon (Divulgação)

Parcerias para tornar a eletromobilidade real

Ademais, no campo da tecnologia, Eduardo Fonseca disse ao Estradão que a eletrificação é um caminho sem volta. Nesse sentido, revela que a marca está já em fase de testes laboratoriais com os pneus que vão equipar o eO500U. Trata-se do primeiro ônibus elétrico da Mercedes-Benz que chega ao mercado a partir do 2º semestre.

Por essa razão, a fabricante investiu em um laboratório que é capaz de simular a vida útil dos pneus com mais precisão, quando comparado aos testes práticos. Confira a entrevista.


Como você avalia o último ano para a indústria de pneus no Brasil?

Considero que o ano foi positivo. Assim como para as operações da Prometeon. Ou seja, mesmo com a redução do imposto de importação de 16% para zero, estabelecido pelo governo federal no 1º trimestre, não impediu a capacidade de a indústria crescer e se desenvolver. Também foi um ano marcado pelo desenvolvimento tecnológico. E que conseguimos atender à demanda do cliente em termos de produção e de inovação. Para se ter uma ideia, superamos os resultados de 2019.

A falta de componentes que impacta a indústria atualmente prejudicou a Prometeon? Algo deixou de ser feito?

Não tivemos impactos. Fizemos investimentos tecnológicos, bem como melhorias no laboratório da fábrica de Santo André, no ABC paulista. E estamos investindo na nossa parceria com a Mercedes-Benz para o desenvolvimento do ônibus elétrico. Ou seja, nenhum projeto ficou parado pela falta de componente ou insumos. Aliás, em desenvolvimento, a Prometeon está vivendo um momento bastante rico.

Como funciona o laboratório na fábrica de Santo André?

Por meio de equipamentos recém-adquiridos, podemos avaliar a capacidade de carga dos pneus e sua durabilidade, abrasão etc. São equipamentos que conseguem simular a performance de forma tão precisa quanto os testes práticos. O que nos permite afirmar que, em breve, esses pneus estarão disponíveis para o ônibus da Mercedes-Benz.


Os veículos a diesel ainda vai perpetuar, especialmente entre os caminhões pesados. E o que há de tendência nesse sentido?

A principal demanda é com relação à redução de peso. Nesse sentido, trabalhamos continuamente em novos compostos para tornar os pneus cada vez mais leves a cada nova geração. Porém, com a mesma durabilidade e performance atuais. Por essa razão, posso afirmar que o maior desafio é trabalhar em compostos metálicos e não metálicos. Ou mesmo os mais tradicionais de borracha, para torná-los mais leves.

O pós-venda ajuda na oferta de serviços que tragam performance no TCO. Como é isso para a indústria de pneus?

Sim, por já termos o pneu inteligente, que consegue "conversar" com o veículo e mostrar sua performance ou condições de uso, temos de ter uma estrutura por trás para dar suporte ao cliente. Porque, a indústria tem a tecnologia, mas, por falta de treinamento ou mesmo de suporte técnico, muitos clientes não usam a tecnologia. Então, nossa estrutura entende qual é a necessidade de cada um deles e indica o pneu correto.

A rede facilita levar ao cliente essas tecnologias. Mas ele consome?

Acredito que essa profissionalização é constante nas empresas. Ou seja, o cliente sempre está evoluindo. E vejo que, a depender do canal de vendas, se é mais desenvolvido ou não, há maior facilidade de trazer o cliente para essa realidade.


O que vamos ver como tendência em pneus para eletromobilidade?

O pneu para o ônibus elétrico traz mais reforço estrutural. Ele é mais parrudo para suportar mais carga. Mas eu diria que a eletrificação dos veículos é uma parte da evolução. Hoje, temos tecnologias em termos de serviços que devem ganhar mercado, porque ajudam o cliente a economizar. Como, por exemplo, a PROCheck, um sistema da Prometeon de inspeção e monitoramento de pneus. Ele auxilia a ter controle dos custos. Assim como ajuda a monitorar o desgaste. E tudo isso com suporte da rede.

Como você avalia o negócio agro para a indústria de pneus?

Eu gosto de medir o agronegócio por meio de duas grandes frentes. A do pneu de caminhão que é utilizado para fazer todo o transporte de produtos agrícolas. E nesse sentido, a demanda por pneus de carga no Brasil é extremamente alta devido, justamente por causa do agronegócio. E isso está muito claro para nós.

Por outro lado, com as colheitas cada vez maiores a divisão de pneus agrícolas também está crescendo. E isso vai demandar tecnologia. E ocorrerá a migração, com toda certeza, dos pneus convencionais para os radiais dentro desse universo. O que vai demandar maior capacidade produtiva local por parte da indústria. Até para evitar a importação de produtos. E isso ocorrerá em um futuro próximo.


E mineração, o que esperar desse segmento?

O mercado de pneus para uso fora-de-estrada cresceu nos últimos três anos. Antes, tínhamos soluções importadas e que, hoje, são substituídas por produtos nacionais. Ou seja, direcionados às aplicações no Brasil. O que nos permitiu aumentar a parceria com montadoras.

A Prometeon conseguiu implantar o sétimo dia de produção. Foi para atender a demanda do agro que se mantém aquecida?

Isso, colocamos um dia adicional de produção em Gravataí, no Rio Grande do Sul. Mas também ampliamos o turno na fábrica de Santo André para atender o mercado agrícola e também a produção para caminhões e ônibus. Do mesmo modo, aumentamos o Centros de Distribuição de Gravataí. E inauguramos um novo Centro na planta do ABC paulista, justamente para termos disponibilidade de produtos para os nossos clientes.

No universo de pneus de caminhões temos alguns projetos que prevêem potencial aumento de capacidade e quebra de gargalos das fábricas. Até para atender a demanda que possa ser gerada com a antecipação de compra de caminhão Euro 5. Mas há um projeto maior que inclui uma linha nova de pneus para acompanhar todo esse aquecimento do mercado, sobretudo o agrícola. E faz parte dos nossos planos para 2023.


Como é essa realidade de "equilibrar os pratos", entregando produtos para as montadoras, e abastecer o mercado final?

Até o momento, conseguimos cumprir nossos compromissos com todos. Existe situações pontuais, onde há necessidades maiores em determinados segmentos. Mas temos conseguido atender. De qualquer forma, acreditamos que o mercado neste ano permanecerá aquecido, como ocorreu no ano passado.

Como a Prometeon se prepara para esse aumento do consumo global?

Do mesmo modo que a Prometeon fez investimentos no Brasil, sobretudo para abastecer a América Latina, também faz em outros mercados. Há recursos para as fábricas da Turquia e do Egito, por exemplo.

Quanto a operação no Brasil representa na companhia?

Atualmente, representa 45% da produção em volume total.


Como é a relação da Prometeon com o autônomo e pequeno frotista?

Tentamos nos relacionar com oferta de serviços e produtos. Produzimos três linhas de pneus com diferentes performances. Ou seja, temos a marca premium que é a Pirelli. Em seguida, temos a Fórmula, que é muito forte no segmento de frotas. Assim como temos a Anteo. Então, com essas três marcas, vamos oferecer o que temos de melhor e adequado aos clientes. Levando em conta a sua operação. Por isso, não fazemos essa separação. Atendemos nossos clientes, sejam empresários ou autônomos, do mesmo modo. E por meio da nossa rede de distribuição.

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