BRASÍLIA - Há pouco mais de uma semana, o vigilante Carlos Henrique Menoio de Carvalho, de 40 anos, foi morto durante uma tentativa de assalto a um caminhão frigorífico no Rio de Janeiro. O crime aconteceu durante a madrugada, na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), na altura do km 164, em Jardim América.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os bandidos interceptaram o caminhão para roubar a carga. Houve confronto entre os criminosos e os responsáveis pela escolta do veículo.
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O vigilante foi baleado e não resistiu aos ferimentos. Os criminosos fizeram cerca de 20 disparos. Um deles atingiu o pescoço de Menoio, quando ele corria pelo acostamento da Dutra. O alvo dos bandidos: uma carga de carne.
Levantamento feito pelo Estado aponta que no último mês, secretarias de 11 Estados e do Distrito Federal registraram 23 roubos de carne bovina. Alguns tiveram relação com roubo de gado vivo, direto do pasto, mas foram casos isolados.
Caminhão frigorífico leva carga preciosa
De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Segurança Privada (Contrasp), a situação colocou as empresas do setor de carnes diante de uma situação inédita. O caminhão frigorífico tem de sair acompanhados de escolta armada. E isso aumenta ainda mais o custo do produto.
Com o aumento das exportações para a China, a oferta de carne no Brasil diminuiu e os preços aumentaram. A alta acumulada em 2019 foi de 32,4%. Um caminhão lotado de carne passou a valer entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão. Isso atraiu a atenção dos bandidos.
Presidente da Contrasp, João Soares, afirma que as quadrilhas que têm roubado caminhões de carne são as mesmas que atuavam em ataque a empresas de transporte de valores. Ele explica, com base em relatórios policiais, que os bandidos têm empregado as mesmas técnicas e lançado mão de armamentos pesados. No caso da morte do vigilante no Rio de Janeiro, o bando estava em dois carros, armado com fuzis calibre 556, para roubar a carga avaliada em R$ 1 milhão.
Novo tipo de crime
Soares afirma que a escolta de cargas de carne em rodovias é uma demanda nova para o setor. A Contrasp estima que os roubos a caminhão frigorífico já supera o número de assaltos a carro-forte no País. Ainda não há, contudo, dados detalhados do mês sobre crimes na área de valores.
“O crime organizado sempre dá um passo à frente. Como a carne subiu demais, agora as empresas estão contratando escolta. É uma modalidade nova, desconhecida inclusive por nós, da área de segurança privada.”
O representante dos vigilantes diz que a escolta para caminhão frigorífico tem sido contratada para viagens. Geralmente para o interior do País. Nas estradas sem policiamento, segundo ele, as ações dos bandidos costumam ser mais ousadas.
No domingo, 12, policiais militares do 10.º Batalhão do Distrito Federal localizaram um caminhão frigorífico roubado em Goiás. Eles recuperaram 16 toneladas de carne bovina. A carga estava em um caminhão menor e era avaliada em R$ 300 mil. Um casal foi detido no setor industrial de Ceilândia, no Distrito Federal.
Escolta vira obrigatória
O caminhão saiu de Tocantins e tinha como destino o Rio Janeiro. Por volta das 23h de sábado, 11, o veículo sumiu do radar antes de passar por Goiânia. O veículo só voltou a ser rastreado pela empresa de monitoramento nas proximidades de Brasília. Profissionais de segurança da transportadora foram até o 10.º Batalhão e solicitaram o apoio dos policiais militares.
Devido ao tempo em que ficou sem refrigeração, parte da carga não servia mais para consumo e foi incinerada. O motorista do caminhão foi deixado pelos bandidos em Cristalina, no interior de Goiás.
Presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado de Goiás (Sindicarne), Leandro Stival diz que os frigoríficos têm investido em sistemas de rastreamento e seguro. “Isso aumenta o custo de frete, que acaba sendo repassado ao consumidor. E desestimula o frigorífico a vender a Estados onde há mais assaltos, como Rio de Janeiro e São Paulo”, diz.
Perigo no Sudeste
Stival representa 43 empresas no Estado de Goiás. Segundo ele, os caminhões não saem escoltados do Estado de origem. Os veículos começam a receber segurança armada quando adentram algumas regiões do Sudeste. “As empresas de escolta e rastreamento sabem o lugar em que o caminhão deve parar. E ponto em que deve começar a receber a escolta, pois tem alto índice de roubo.”
Para o representante dos vigilantes, o maior desafio do poder público é garantir a segurança dos profissionais da escolta. Ele teme que, com o preço da carne voltando a subir, os carregamentos da proteína fiquem ainda mais atrativos para os assaltantes.
“Sempre que sobe o preço dos produtos, há essa necessidade de contratar escoltas, pois acontecem roubos e mortes. A gente só não imaginava que fosse acontecer com a carne. A situação está fugindo do controle do Estado. É o crime organizado tomando conta de todos os setores. Quem imaginava que o crime organizado ia para o setor de carnes?”