Tecnologia

O Brasil está preparado para o pedágio free flow?

Pedágio Free Flow agiliza viagens, reduz filas e emissões, mas ainda enfrenta dúvidas sobre precisão, segurança e expansão no Brasil

Thiago Vinholes

23 de out, 2025 · 7 minutos de leitura.

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free flow, pedágio eletrônico
Pórtico de pedágio Free Flow: sistema identifica os veículos automaticamente e efetua a cobrança
Crédito:Compis/Divulgação

O pedágio do tipo free flow, sistema eletrônico que elimina as cabines físicas de cobrança, está em fase de implementação nas rodovias brasileiras. O modelo promete agilizar viagens, reduzir filas e, com isso, as emissões de poluentes. Porém, motoristas e autoridades ainda discutem temas como a precisão, a segurança e a expansão da nova solução.

O sistema identifica placas de veículos de passeio, comerciais, ônibus e caminhões em tempo real, mesmo em alta velocidade, à noite e/ou sob chuva. Sensores, câmeras e antenas posicionados em pórticos na estrada fazem a leitura automática e permitem a cobrança eletrônica, integrada a tags de pagamento, cartões de crédito e aplicativos, sem interromper o fluxo de trânsito. Daí o nome free flow (fluxo livre).

No Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, está em operação o sistema free flow da Compis, empresa de São José dos Campos, no interior do Estado, especializada em soluções para o setor rodoviário. “Temos tecnologia nacional avançada e altamente competitiva em relação às importadas, pronta para operar nos pórticos e integrar os sistemas das concessionárias”, diz o presidente da empresa, Ailton Queiroga.

De acordo com ele, a solução da companhia identifica veículos que podem confundir sistemas convencionais, como caminhões com eixos suspensos e rodagem dupla. “Nosso sistema usa uma IA treinada com base em milhões de transações realizadas em rodovias brasileiras onde cerca de 40% do tráfego é de veículos comerciais, índice muito maior do que em outros países. Isso nos dá um banco de dados robusto e adaptado à realidade, garantindo maior precisão.”

Avanço tecnológico sem respaldo regulatório

Mesmo com a tecnologia nacional maturada, o free flow ainda enfrenta entraves para avançar de forma ampla no País. Segundo Queiroga, o principal desafio não é da engenharia, mas da burocracia. “O amadurecimento tecnológico já ocorreu. Assim, o que falta agora é uma padronização regulatória que dê segurança jurídica às concessionárias e aos motoristas.”


O executivo explica que alguns Estados já operam sistemas ativos, mas ainda não há uma norma federal que defina claramente como realizar a cobrança, nem tratar inadimplentes e integrar o processo ao Registro Nacional de Infrações (Renainf). “Sem essa base comum, cada projeto precisa ser negociado de forma isolada, o que torna o processo mais lento e custoso”, diz.

Além das questões legais, Queiroga destaca que muitos contratos antigos de concessão não previam o uso do free flow, o que limita a adoção imediata. “Há concessionárias com interesse real em implantar o modelo, mas que precisam aguardar revisões contratuais ou novos editais para viabilizar investimentos.”

Free flow ajuda a reduzir filas e emissões

Conforme o executivo, o free flow transforma a experiência de quem trafega pelas rodovias. O sistema permite que veículos leves e pesados sigam em movimento quando passam pelo pedágio eletrônico, reduzindo filas, frenagens e acelerações desnecessárias. Como resultado, isso contribui para diminui o consumo de combustível e, dessa forma, as emissão de poluentes. Além disso, permite simplificar a operação das concessionárias, o que, ao menos em tese, pode resultar em tarifas menores.

Segundo Queiroga, à medida que o sistema se expande para mais trechos, motoristas e transportadoras poderão perceber ganhos significativos de tempo e conforto nas viagens. No entanto, mesmo com a introdução do free flow, as praças físicas de pedágio ainda continuarão existindo em algumas estradas.

“Vias com alto fluxo urbano e intermunicipal, onde não há espaço físico para novas praças, são candidatas naturais a receber o free flow. Também aquelas onde há pressão social contra pedágios convencionais, seja por engarrafamentos ou impactos ambientais. Já em rodovias de baixo tráfego ou com contratos de curto prazo, a tendência é manter o modelo tradicional", afirma o especialista.


Sistema depende de clareza e boa comunicação

Apesar dos avanços tecnológicos, o sucesso do free flow depende de ações claras de comunicação com o público. Motoristas que não pagarem o pedágio eletrônico podem receber multa de R$ 195,23, além da adição de 5 pontos no prontuário da CNH. Plataformas, como aplicativos e sites das concessionárias, informam em tempo real os trechos percorridos e os valores cobrados.

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