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Mortes em acidentes com caminhões e ônibus crescem 26% no Brasil

Dados da PRF revelam forte alta no número de mortes em sinistros com caminhões e ônibus no País; 6 Estados concentram 51% dos casos

Andrea Ramos

04 de fev, 2025 · 8 minutos de leitura.

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Mortes causadas por caminhões e ônibus disparam em 26% no Brasil
Mortes causadas por caminhões e ônibus disparam em 26% no Brasil
Crédito:Foto :Setcesp
Mortes causadas por caminhões e ônibus disparam em 26% no Brasil

Para especialistas em medicina do tráfego, o Brasil enfrenta uma crise na segurança viária. Prova disso é que em 2024 foram registradas 3.291 mortes em acidentes com caminhões e ônibus. Ou seja, houve alta de 26% ante os 2.611 registros feitos em 2023, conforme dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Além disso, embora obviamente os ônibus transportem mais pessoas, foram os sinistros com caminhões que resultaram em maior número de vítimas. Em outras palavras, estamos falando de 2.884 e 407 óbitos, respectivamente.

Rodovias mais letais 

Em seis Estados foram registradas 51% dessas mortes. O triste ranking é liderado por Minas Gerais, com 13% dos casos registrados. Depois, vêm Bahia (10%), Paraná (10%), Santa Catarina (6%), Rio Grande do Sul (6%) e Rio de Janeiro (5%). Conforme a PRF, as ocorrências nesses Estados cresceram 62% quando comparadas aos registros feitos em 2023.   


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Em relação às rodovias mais perigosas, não há surpresa. A BR-116, a maior do Brasil, com 4.610 km de extensão e que passa por 14 Estados, concentra o maior número de registros de óbitos. Conforme o levantamento, foram 821 em 2024. Em seguida vem a BR-101, com 731 mortes. Depois, aparece a BR-153, com 270 vítimas fatais. Na BR-116, houve aumento de 11% no número de mortes em relação a 2023, quando houve 741 registros.

Entre os Estados, em três houve altas alarmantes nos registros de mortes em acidentes envolvendo caminhões e ônibus. Em primeiro lugar está o Ceará, com aumento de 63% nos registros. Na Bahia, o crescimento foi de 41% e, em Minas Gerais, de 23%.  

Causas e tipos de acidentes 

Em números gerais, envolvendo motocicletas e veículos leves e pesados, entre as principais causas de acidentes fatais estão transitar na contramão, com 921 mortes. A falta de reação do condutor causada por sono ou uso de substâncias, corresponde a 759 ocorrências. Além disso, reação tardia ou ineficiente por parte dos motoristas é apontada como responsável por 677 óbitos.


Outros casos também se destacam, como atropelamento de pedestres, que resultou em 969 mortes. Já as saídas de pista foram responsáveis por 714 óbitos.  

Segundo o diretor científico da Ammetra e médico do Tráfego Alysson Coimbra, esses dados levantam questões urgentes sobre a revisão das leis de trânsito no Brasil. De acordo com ele, uma das principais é a ampliação do prazo de renovação da CNH para 10 anos para motoristas profissionais.

“Isso reduziu drasticamente a frequência de avaliações médicas e psicológicas cruciais. A mudança deixou uma lacuna perigosa na detecção de problemas graves. Entre elas, estão problemas ligados à saúde emocional, como depressão, bem como dependência química e deterioração da saúde física dos condutores”, afirma Coimbra.


Além disso, ele lembra que a forma e a periodicidade dos exames toxicológicos permitem que o motorista escolha quando realizar o teste. Dessa forma, o especialista avalia que isso compromete a integridade do processo de avaliação.

Revisão das leis para motoristas de caminhões e ônibus

Mortes causadas por caminhões e ônibus disparam em 26% no Brasil
Segundo especialistas, o intervalo ideal para renovação da CNH é de 5 anos; Fotos: Detran

Desse modo, especialistas em segurança viária destacam que a redução do prazo de validade da CNH de motoristas profissionais para 5 anos pode contribuir para diminuir o número de mortes em acidentes. No mesmo sentido, eles defendem a implementação de exames toxicológicos anuais com datas aleatórias para motoristas das categorias C, D e E. Bem como aumento significativo na fiscalização nas estradas, sobretudo em locais de embarque de carga.


Nesse sentido, Coimbra acredita que embarcadoras e transportadoras devem também assumir maior responsabilidade nas operações. Dessa forma, ele acredita que haveria redução do número de sinistros envolvendo caminhões. Uma das medidas diz respeito à adoção de um um tratamento mais humanizado e com menos cobranças aos motoristas. Bem como a avaliações sobre se o motorista está apto a viajar.

“Os veículos estão cada vez maiores e levando mais cargas, além da sobrecarga. E os motoristas muitas vezes são obrigados a cumprir um tempo determinado para a entrega da mercadoria. Por isso, trabalham estressados, dirigem com pressa e com pouco ou nenhum descanso. O que leva a problemas de saúde, transtornos emocionais e abuso de álcool, remédios e até drogas ilícitas. Terminando em tragédias”, avalia Coimbra.

Ações

Vale lembrar que Coimbra coordena um projeto batizado de Novos Horizontes no Trânsito. Assim, um grupo de médicos especialistas em tráfego, bem como profissionais de saúde mental, vão para a estrada. Eles acompanham de perto a saúde dos motoristas em pontos considerados estratégicos. Esses eventos ocorriam de forma regionalizada, em paradas de descanso de motoristas de caminhões e ônibus, bem como em locais de embarque e desembarque de carga.


Todavia, o especialista diz que a intenção é aumentar essa dinâmica em todo o País. “É necessário intervir. Por isso, vamos para a estrada avaliar os condutores profissionais, sua saúde física e emocional. Além disso, queremos orientá-los. Esse é o primeiro passo para que a gente reduza o número de mortes nas estradas. O motorista precisa ser acolhido”, afirma Coimbra.

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