Entrevista

Mira Transportes expande operações e quer comprar transportadoras

Focada em carga fracionada, a Mira Transportes, que tem forte atuação no Centro-Oeste, abrirá filiais no Norte e no Sudeste e não descarta comprar rivais

Andrea Ramos

07 de jun, 2021 · 14 minutos de leitura.

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Mira Transportes Roberto Mira Júnior
Mira Transportes Roberto Mira Júnior
Crédito:Mira Transportes/Divulgação
Mira Transportes Roberto Mira Júnior

A Mira Transportes, que é forte no Centro-Oeste, está expandindo as operações. Nesse sentido, vai abrir filiais no Norte, em Manaus, e no Sudeste, em Vitória. Segundo a empresa, isso vai permitir acompanhar o crescimento dos negócios de seus clientes.

Então, a transportadora investiu R$ 15 milhões na compra de 110 novas carretas. De acordo com a empresa, a maioria irá atender o segmento farmacêutico. Esse clientes representam cerca de 30% das operações da companhia.

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Com isso, a Mira quer crescer 13% em 2021. Nesse meio tempo, os negócios tiveram alta de 19%. Ou seja, de janeiro a abril na comparação com igual período de 2020.

Diretor geral da Mira Transportes, Roberto Mira Júnior conta que isso é resultado da alta no volume de negócios dos setores de medicamentos e comércio eletrônico. Ou seja, dois dos principais setores atendidos pela empresa.

“São clientes que confiam nos nossos serviços e, ao expandir os negócios em outras regiões, nos convidaram para acompanhá-los", diz Mira. Segundo ele, há espaço para crescer nas regiões em que a empresa já atua. E ter operações em novas regiões.


Empresa quer ir às compras

Fundada há 43 anos, a transportadora é familiar. Logo, seu capital é 100% nacional. Com exceção do agronegócio, a Mira é a maior transportadora de carga fracionada do Centro-Oeste. Ou seja, tanto em volume de carga transportada quanto em valores. Por isso, seus donos já receberam propostas de venda a grupos internacionais mais de uma vez.

Porém, a família não tem intensão de vender a companhia. Ao contrário, seus diretores querem ir às compras. Sobretudo, há interesse em empresas similares. Ou seja, que atuam nas mesmas regiões e  com foco no transporte fracionado. Confira a íntegra da entrevista exclusiva que Roberto Mira Júnior concedeu ao Estradão.


Boa parceria com os clientes

A Mira Transportes está expandindo as operações fora do Centro-Oeste. Por que?
Em seus 43 anos, a empresa sempre focou as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. Mas os clientes nos pediram para acompanha-los onde eles estão crescendo.

Isso ocorre porque, na média, nossa performance positiva de entrega nessas regiões é de 98,6%. Eu costumo dizer que o Centro-Oeste e o Norte estão entre as piores locais para fazer transporte no País.

Contudo, somos bons nisso. E os clientes querem que atuemos nos locais onde eles estão crescendo. Assim, decidimos abrir filiais em Vitória e Manaus.


Em busca de novos negócios

Com a expansão, a empresa terá operações em outros Estados?
Existe a possibilidade de entrarmos na região Sul em 2022. Temos filial em Blumenau (SC). Bem como um ponto de apoio em Curitiba. Assim, não descartamos expandir as operações por lá.

Por que o sr. diz que o Centro-Oeste e o Norte são as piores regiões fazer transportes?
Falta infraestrutura. Assim, fazer uma viagem pelo norte do Mato Grosso significa rodar de 800 a 900 quilômetros em estradas de terra. Além disso, dependendo do lugar é preciso usar balsas e, muitas vezes, para atravessar de um ponto é preciso esperar até dez dias.

Há filas enormes  para usar essas balsas. Contudo, como a Mira Transportes quis focar essas regiões. Como resultado, o cliente reconhece a nossa expertise.


Desafios logísticos

O setor de transportes está vai bem muito por causa do agronegócio, que é forte nessa região...
Mas o agronegócio não é forte no norte do Mato Grosso. O limite é Sinop, cidade muito bem  estruturada e que está crescendo bastante. Assim como Rondonópolis. Nesse locais há investimentos pesados feitos pelo próprio agricultor para levar a produção aos portos do País.

As regiões com renda per capita maior têm mais infraestrutura. Onde a Mira atua, há locais em que já chegamos a pagar pedágio em uma aldeia para chegar a outra aldeia. Depois, até fizemos doações para que essas aldeias tenham um mínimo de infraestrutura.

Mira não atua com o agronegócio

A Mira surgiu nessa região, mas parece que pouca coisa mudou nesses 43 anos.
É verdade. Por exemplo, subindo pelo mapa a partir de Sinop, há boa infraestrutura por causa do avanço do agronegócio. Se você descer, no sentido da região mais ao norte, não há agronegócio.


Ou seja, tudo é mais precário. Mas há consumo. Como resultado, nossas operações cresceram nessas regiões.

Como está sendo manter as operações em meio a uma pandemia?
Não é fácil. No começo da pandemia, sentimos bastante e registramos queda de quase 30% nas operações. Mas a situação começou a mudar no segundo semestre. Acredito que isso ocorreu porque trabalhamos com dois setores que têm extrema importância nesse momento.

Ou seja, o farmacêutico e o comércio eletrônico. Logo, fechamos 2020 com crescimento de 10% além do previsto. Em outras palavras, estamos falando de mais de R$ 200 milhões de faturamento.


Compra ou venda

A Mira é a maior empresa de carga fracionada do Centro-Oeste. Vocês venderiam a companhia? Somos os maiores do segmento de cargas fracionadas em valores e volumes. Há rivais, inclusive de grupos internacionais, que não conseguem "bater" a gente. Assim, chegaram a fazer ofertas de compra.

Porém, com esse crescimento que estamos registrando, somos nós que queremos comprar. Ou seja, estamos de olho em empresas da região que tenham o mesmo foco.

Perspectivas para 2021

A Mira deve crescer 13% em 2021 por causa dos setores farmacêutico de comércio eletrônico? Sim, sem dúvida. Além desses segmentos, o de autopeças também está crescendo. Em 2020, nossos clientes dessa área sofreram muito. Porém, em 2021 eles voltaram a crescer. E isso está ajudando o nosso negócio. Tanto que essa alta foi incluída na composição de nossas projeções de crescimento.


Setor farmacêutico é destaque

De janeiro a abril de 2021, a Mira cresceu 19%. Qual setor está demandando mais transporte?
O farmacêutico, sem dúvida. Esse setor representa 30% das nossas operações. Em seguir vem o comércio eletrônico e as autopeças.

Cada um deles representa 15% do volume de demanda por transporte. O restante são cargas gerais. Porém, todas são de alto valor agregado.


Investimentos na frota

Como a Mira está atendendo a alta na demanda, foi preciso investir na frota?
Em 2020, implementamos uma reestruturação na empresa. Logo, isso incluiu investimentos também na frota. Dessa forma, compramos 80 carretas e renovamos 30 cavalos-mecânicos.

Aliás, os 80 implementos isotérmicos foram comprados para atender uma nova norma do transporte de medicamentos. Ou seja, vamos ter de controlar a temperatura dos produtos durante o transporte.

Demora na entrega de caminhões

Foi preciso esperar muito tempo para receber os novos caminhões?
Sim, quase um ano. Fechamos a compra no início de 2020. Ou seja, quando os clientes sinalizaram que haveria aumento da demanda. Porém, só recebemos os veículos no fim de 2021. Aliás, esse é um dos motivos pelos quais acredito que o segmento de autopeças esteja demandando tanto transporte.


Há filas de espera por caminhões. Além disso, alguns componentes estão em falta. Isso faz atrasar ainda mais as entregas de novos veículos.

Tecnologia embarcada

Como a Mira atua no B2B (empresa para empresa), é preciso investir muito em tecnologias?
Nos últimos três anos, investimos cerca de R$ 3 milhões apenas em novas tecnologias. Por exemplo: para atender clientes embarcadores do varejo e do setor farmacêutico.

Isso porque assim que a mercadoria é entregue, tenho apenas seis segundos para atualizar os dados dos sites de comércio eletrônico e de laboratórios. Além disso, monitoramos as entregas durante as 24 horas do dia utilizando ferramentas de conectividade.


Além disso, há clientes no Centro-Oeste que utilizam nosso centro de distribuição para fazer a entrega ao consumidor final (B2C). Utilizamos softwares para avisar o consumidor sobre o status da entrega.

Participação no transporte B2C

Quanto o B2C representa das operações da Mira Transportes?
Em torno de 20%. Mas a tendência é aumentarmos nossa participação nesse segmento. No B2B, o crescimento será orgânico. Ou seja, quando o cliente crescer, crescemos junto com ele.

No B2C há uma forte tendência de crescimento. Nesse sentido, cada vez mais pessoas passam a fazer compras de modo online. Assim, o volume de carga transportado para centros de distribuição também vai aumentar.


Porém, o volume de entregas ao consumidor final deverá crescer mais. Por isso estamos investindo em novas tecnologias. Ou seja, as operações de carga vão ficar mais pulverizadas. Portanto, aumenta a oportunidade de aumentar nossa participação no B2C.

Alta do custo de transporte

Como driblar os aumentos dos insumos, com o diesel, que subiu mais de 40% em 12 meses?
Não temos como assumir um aumento de custos de mais de 40%. Ou seja, é preciso repassar essa alta ao cliente. Porém, no fim quem paga a conta é o consumidor.

Infelizmente, não existe milagre. Fazemos um ajustes de todas as formas possíveis. Mas no fim não dá para absorver todas as altas de custo.


Alternativas ao diesel

Como a Mira atua com grandes embarcadores, há demandas em relação a ESG?
Sim, somos cobrados pelos embarcadores em relação à gestão ambiental, social e de governança. Nesse sentido, em 2021 vamos investir na compra de veículos elétricos e a gás.

Seja como for, já temos algumas ações nesse sentido. Por exemplo, nossa frota é lavada com água de reuso. Além disso, temos procedimentos para descarte de produtos como óleos e lubrificantes. Aliás, creio que o ESG é um novo divisor de águas no setor de transportes, assim como foi o ISO.

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