Com a alta dos juros e o crédito restrito para aquisição de 0km, o mercado brasileiro de caminhões seminovos vive um momento de alta demanda e relevância estratégica para as montadoras. Nesse sentido, os executivos de três das maiores marcas do País — Mercedes-Benz, Volkswagen Caminhões e Ônibus e Volvo — analisam o comportamento desse setor e suas perspectivas para o restante de 2025.
Embora o segmento de caminhões novos, especialmente os extrapesados, registre queda nas vendas, o comércio de usados mantém o ritmo. Assim, consolida-se como alternativa para manter as operações logísticas em andamento. Para as montadoras, o desempenho desse setor sinaliza uma possível recuperação gradativa no segundo semestre.
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Selectrucks da Mercedes-Benz amplia participação com vendas à vista e consórcio
Vice-presidente da Mercedes-Benz Caminhões Jefferson Ferrarez, afirma que o mercado de seminovos da marca, a Selectrucks, cresceu em relação a 2024, mesmo diante das adversidades econômicas. A rede, considerada a maior estrutura de uma montadora voltada para seminovos no Brasil, se tornou referência ao oferecer caminhões com procedência, revisão e garantia.
De acordo com Ferrarez, o perfil dos compradores permanece concentrado nos pequenos frotistas e caminhoneiros autônomos. Mas com mudanças no comportamento de aquisição.
“A maioria dos negócios está sendo fechada à vista ou via carta de consórcio. O financiamento, devido à taxa de juros elevada, perdeu espaço”, revela.
Entre os modelos mais comercializados na rede estão os Mercedes-Benz Actros 2651, Axor 2544 e Atego 2430, com idade média entre sete e 15 anos. Segundo Ferrarez, esse movimento positivo nos seminovos reforça a expectativa de melhora no mercado de novos.
“Quando o usado se aquece, é sinal de que há demanda reprimida. E isso costuma antecipar a retomada dos 0-km”, analisa.
Volkswagen amplia atuação no mercado de usados com o VolksConfia

A Volkswagen Caminhões e Ônibus também registra crescimento no segmento, por meio do VolksConfia, operação oficial da marca para caminhões seminovos. Segundo Paulo Razori, supervisor da divisão, o aquecimento nas vendas se concentra principalmente nos modelos VW Delivery e Constellation, com idade média de 5 a 8 anos.
Para Razori, a busca por veículos usados é reflexo direto do cenário econômico. “O cliente busca custo-benefício e rapidez para manter a operação rodando. E o seminovo se encaixa bem nesse contexto. Especialmente enquanto o crédito para o novo segue restrito e caro”, explica.
Além disso, o executivo observa o consórcio como ferramenta relevante no atual momento de mercado. Muitos transportadores aproveitam cartas contempladas para adquirir seminovos de valor menor e reduzir a exposição ao financiamento bancário. “O consórcio bem planejado virou uma boa alternativa para quem precisa renovar e não quer comprometer o caixa com juros altos”, destaca Razori.
Volvo vê oportunidades no mercado e fortalece oferta de seminovos certificados
Na Volvo Caminhões, o segmento de usados é operado pela rede de seminovos certificados da marca. Gerente comercial da divisão, Rogério Kowalski, afirma que o desempenho no primeiro semestre de 2025 foi positivo, com crescimento nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado.

De acordo com ele, o agronegócio, a construção civil e o transporte intermunicipal mantêm a demanda por caminhões em alta. Mas o investimento no novo está represado. “A alta dos juros e as incertezas econômicas levaram muitas empresas a adiar a compra de 0-km. Dessa forma, levando a optarem por seminovos certificados como solução intermediária”, explica.
Entre os modelos mais procurados estão os FH 540 e VM 290, com idades entre 5 e 10 anos de uso. Kowalski destaca que a Volvo reforçou a inspeção técnica e os pacotes de garantia para assegurar veículos confiáveis e reduzir o custo operacional dos clientes.
“O caminhão usado bem mantido continua sendo boa opção. Sobretudo, quando a marca oferece suporte e procedência”, complementa.
Setor espera retomada gradual no segundo semestre
Seja como for, apesar do bom momento nos seminovos, os três executivos reconhecem que esse ciclo tende a ter um limite. Transportadoras de médio e grande porte sabem que, a longo prazo, a manutenção de veículos antigos compromete competitividade, produtividade e custos operacionais.
“A compra de seminovos atende a uma necessidade imediata. Mas o custo de manutenção cresce e a eficiência operacional diminui. Com a esperada queda gradual da Selic, a tendência é de que o mercado de novos volte a ganhar espaço”, afirma Ferrarez.
Razori concorda e reforça que o seminovo é uma solução pontual, não definitiva. “Assim que o crédito melhorar, veremos transportadores retomando o investimento em caminhões 0-km, principalmente para as operações que exigem maior disponibilidade e tecnologia embarcada”, analisa.
Para Kowalski, o movimento atual confirma a força e a relevância dos seminovos no Brasil. Mas o setor de transporte depende de frotas novas para manter a competitividade no médio prazo. “O usado cumpre seu papel. Todavia, a renovação da frota continuará sendo necessária para sustentar a operação de grandes clientes e atender às novas demandas ambientais e de segurança”, conclui.
Perspectivas e tendências
Enquanto o mercado acompanha de perto os indicadores econômicos e as movimentações na taxa de juros, o setor de caminhões seminovos deve seguir aquecido no curto prazo. A demanda reprimida e o apetite dos pequenos frotistas e autônomos por oportunidades mais acessíveis garantem o fôlego do segmento.
As marcas, por sua vez, seguem fortalecendo suas operações de usados. Para isso, apostam em veículos certificados e pacotes de serviços para manter a fidelização do cliente. Dessa forma, preparando terreno para a retomada gradual dos caminhões 0-km a partir do segundo semestre.