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Mercado de caminhões cai por três meses consecutivos, diz Anfavea

Alta de 19,3% nos juros para pessoa jurídica trava financiamentos; produção de caminhões cresce graças às exportações

Andrea Ramos

08 de jul, 2025 · 7 minutos de leitura.

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Mercado de caminhões mantém-se em retração por três meses consecutivos
ABRE VWCO
Crédito:Fotos: VWCO
Mercado de caminhões mantém-se em retração por três meses consecutivos

O mercado de caminhões no Brasil segue em trajetória de retração em 2025. De acordo com dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) nesta segunda-feira (7), o setor acumula o terceiro mês consecutivo de queda nos emplacamentos de veículos comerciais. E com forte redução na participação dos caminhões pesados, os mais afetados pelo cenário econômico adverso.

Nesse sentido, segundo o vice-presidente da Anfavea, Gustavo Bonini, enquanto os segmentos de caminhões leves, semileves e médios mantiveram desempenho estável ou com leve crescimento percentual — embora sobre volumes ainda baixos —, os pesados perderam espaço de forma significativa. Em outras palavras, em 2024, esses modelos representavam 52% das vendas totais de caminhões no Brasil. Porém, em 2025, essa fatia caiu para 45%, confirmando a dificuldade dos transportadores em viabilizar a troca de frota.

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Todavia, em números, de janeiro a junho deste ano, as montadoras fabricaram mais caminhões do que em 2024. Ou seja, no período foram feitos 66,4 mil caminhões. Alta de 3,1% em relação aos 64,4 mil pesados produzidos no primeiro semestre de 2024. E as exportações estão puxando o resultado.

Por outro lado, desde junho a produção começou a cair frente ao mês de maio. Enquanto em maio foram fabricados 12,3 mil, em junho ocorreu a retração de 1 mil unidades, com 11,3 mil caminhões saídos das linhas de montagem. Como resultado, a queda de 8,4%.


Venda de caminhões em queda livre

Os emplacamentos continuam sendo impactados. De janeiro a junho deste ano os concessionários venderam 54,8 mil unidades. Enquanto em igual período no ano passado ocorreu 56,8 mil vendas. Assim, uma retração de 3,5%.

Mercado de caminhões mantém-se em retração por três meses consecutivos
Alta nos juros para pessoa jurídica trava financiamentos e força transportadores a postergar a renovação de frota - Fotos: Andrea Ramos/Estradão

“O principal entrave apontado pela Anfavea continua sendo o alto custo de financiamento, provocado pela elevação das taxas de juros para pessoa jurídica, atualmente em 19,3% ao ano”, diz o presidente da Anfavea, Igor Calvet. Ele ainda acrescenta que essa taxa acompanha a Selic, que alcançou 15% neste ano. “Assim, torna praticamente inviável a compra de veículos pesados a prazo, uma vez que esses modelos dependem de linhas de crédito robustas”.

Exportações disparam e sustentam produção

Se o mercado interno enfrenta dificuldades, o setor automotivo de veículos pesados encontra certo alívio nas exportações. No primeiro semestre de 2025, os embarques de caminhões brasileiros cresceram 91% em relação ao mesmo período de 2024.

Ou seja, no período foram mandados para outros países 13,4 mil caminhões. No mesmo período em 2024, a indústria exportou 7 mil unidades


Do mesmo modo, as exportações de ônibus avançaram 52,3%. Assim, os fabricantes exportaram no primeiro semestre deste ano 3.262 ônibus. No mesmo período em 2024 foram exportados 2.142 veículos de passageiros.

De acordo com Bonini, a Argentina lidera com folga a lista de destinos, com um crescimento de 266% nas compras de caminhões e ônibus brasileiros. Outros mercados relevantes para os veículos pesados do Brasil foram Chile, Peru, Uruguai, México e, em menor volume, países da África do Sul e de outras regiões da América Latina.

A Anfavea ressaltou que, embora a Argentina esteja sustentando boa parte desses números, o crescimento das exportações foi disseminado em vários mercados. “Isso contribuiu para manter o ritmo de produção das montadoras, compensando em parte a retração doméstica”, explica Gustavo Bonini.

Sem programa estruturado de renovação, envelhecimento da frota persiste

A entidade voltou a defender a necessidade de um programa nacional de renovação de frota para caminhões, capaz de retirar de circulação os veículos mais antigos, muitos com mais de 25 ou 30 anos de uso. No entanto, a Anfavea destacou que iniciativas pontuais e de curto prazo não resolverão o problema estrutural do setor.

A proposta sugerida pela associação é um modelo de renovação no qual um caminhão muito antigo seria trocado por um usado mais novo.


Mas apesar disso, a Anfavea deixou claro que nenhuma medida imediata, por si só, será capaz de reverter o atual cenário de retração nas vendas. A entidade avalia que a persistência das taxas de juros elevadas e a escalada da inadimplência entre transportadores continuarão limitando as possibilidades de crédito e postergando a renovação das frotas no país.

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