Diante do cenário de juros elevados no Brasil, transportadoras e embarcadores estão cada vez mais atentos às vantagens da locação de caminhões como alternativa à compra de veículos próprios. Assim, a tendência ganha força e já apresenta crescimento relevante no mercado de pesados. Especialmente entre frotistas que buscam flexibilidade financeira e otimização operacional.
Nesse sentido, segundo a gerente executiva da Scania Locação, Renata Campos, a locação de caminhões está deixando de ser uma opção secundária. E passou a fazer parte do planejamento estratégico de diversas empresas de transporte rodoviário de cargas.
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Com a taxa Selic ainda em patamares elevados, os custos de financiamento aumentaram significativamente. O que tornou a aquisição de veículos próprios menos atraente. Sobretudo para negócios que prezam por equilíbrio de caixa e maior previsibilidade de despesas.
“Com a alta dos juros, muitos clientes estão postergando a decisão definitiva de comprar caminhões, aguardando o movimento da taxa Selic nos próximos anos. Enquanto isso, recorrem à locação como solução imediata para não deixar de atender suas demandas”, explica a executiva da Scania. “Embora os juros também impactem as parcelas de locação, a variação é menor, já que o serviço inclui plano de manutenção preventiva e corretiva. Assim, reduzindo imprevistos e custos extras”.
Parcela menor e pacote de serviços ampliado
Assim, Campos exemplifica que um caminhão Scania 6x2, um dos modelos mais procurados atualmente na marca, tem parcela de locação em torno de R$ 20 mil, já com pacote de manutenção incluso. Em comparação, o mesmo veículo financiado por CDC (Crédito Direto ao Consumidor) teria prestação na faixa de R$ 24 mil — sem contar os custos adicionais de manutenção.
Além disso, outro fator que impulsiona a locação de caminhões é a flexibilidade operacional. Muitos clientes optam por alugar veículos para testar novas tecnologias. O que na Scania está aumentando a procura pelos caminhões a gás por meio da modalidade.
“Tem embarcador exigindo veículos a gás para reduzir a emissão de carbono da frota. Como nem todo transportador sabe o valor de revenda desse modelo no futuro, prefere alugar para sentir o desempenho e a aceitação do produto”, afirma Renata Campos.

Frotas mistas ganham espaço
A tendência é que a locação de caminhões siga avançando no Brasil. Em 2019, apenas 5% dos pesados emplacados no mercado total foram por meio de locadoras. Em 2024, esse índice saltou para 13,5%. E a projeção é manter o ritmo de crescimento em 2025.
Outro movimento relevante é a formação de frotas mistas. Transportadoras tradicionais, que historicamente priorizavam frota própria, agora mesclam veículos próprios, locados e agregados.
“Tem cliente nosso que acabou de comprar 10 caminhões e alugou mais 10 modelos. Eles querem ter flexibilidade e testar o modelo de locação antes de expandir”, revela a executiva.
Caso real: locação de caminhões como solução para expansão e renovação
A transportadora Santa Edwiges Transportes, de Uberaba (MG), é um exemplo dessa nova mentalidade. Rosilene Douro Capuzzo, sócia proprietária da empresa, conta que sempre teve a cultura de frota própria. Porém, neste ano decidiu recorrer à locação por causa da alta dos juros.
“A gente até tinha planos de comprar caminhões novos. Mas agora não é possível porque o juro está muito alto. Então, vamos partir para o aluguel neste ano. E no ano que vem, se o cenário melhorar, a gente volta a comprar”, conta Rosilene.
Dessa forma, a transportadora pretende alugar pelo menos quatro caminhões nos próximos meses para atender a demanda crescente no transporte de produtos do negócio agro e da indústria. “A gente está crescendo, fechando novos contratos e o foco é gerar emprego”, ressalta.
Benefícios fiscais também pesam na decisão
Para empresas optantes pelo regime de lucro real, a locação oferece ainda um benefício fiscal adicional: a parcela mensal pode ser considerada despesa operacional. Assim, permitindo crédito de 9,25% de PIS/Cofins. Em outras palavras, em um contrato de locação de R$ 20 mil, o crédito fiscal chega a R$ 1.850, ajudando a reduzir o custo efetivo da operação.
Além disso, a análise de crédito para locação tende a ser mais flexível em comparação com o financiamento bancário tradicional. Sobretudo nesse atual momento em que os bancos estão mais rigorosos em suas análises.
Locadoras e montadoras costumam considerar o histórico de relacionamento e o potencial de geração de receita da operação. Mesmo em casos onde o limite de crédito bancário esteja comprometido.