Nos últimos dois anos, houve uma forte alta nas operações de transporte rodoviário de cargas no Brasil. Ao mesmo tempo, a indústria de veículos sentiu os impactos da covid-19. Ou seja, houve uma limitação na produção de caminhões e ônibus por causa da falta de componentes. Como resultado, a locação vem ganhando espaço como uma das soluções para resolver esse problema.
Além disso, no fim de 2022 as montadoras lançaram seus caminhões e ônibus em conformidade com as regras do Proconve P8. Para atender as novas leis de controle de emissões, os pesados receberam várias atualizações. Com isso, os preços subiram, em média, entre 15% e 25%.
Da mesma forma, os custos operacionais também subiram. Segundo empresários do setor, a alta ocorreu de forma desproporcional. Dessa forma, muitas transportadoras optaram por limitar novos investimentos. Portanto, essa é mais uma razão para que os serviços locação de caminhões ganhassem espaço.
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Segundo o CEO do Grupo Vamos, Gustavo Couto, mesmo assim a locação de caminhões e ônibus no Brasil não chega a 1% da frota. De acordo com ele, há cerca de 3,3 milhões de veículos rodando do País. Couto disse ao Estradão que, nos Estados Unidos, por exemplo, 25% da frota de pesados é alugada.
Ou seja, ele aposta no crescimento desse serviço. Não por acaso, Couto estima ter cerca de 100 mil veículos alugados até 2025. Atualmente, a Vamos tem 38,5 mil veículos locados.
Zorzin investirá na locação de caminhões
A Zorzin Logística entra em 2023 de olho na locação de caminhões. Segundo a diretora administrativa da empresa, Gislaine Zorzin, em 2022 a transportadora comprou de mais de 40 veículos. De acordo com ela, o investimento foi feito para atender novos contratos.
"Em 2022 conseguimos adquirir ainda caminhões Euro 5" afirma Gislaine. "Porém, com a entrada em vigor do Euro 6, os preços subiram muito." Por isso, ela diz que estuda a viabilidade de locação. Assim, a transportadora pretende atender novos contratos com uma frota alugada.
"São novos clientes. Portanto, pode ser que o contrato se estenda ou não" afirma Gislaine. "Com frota alugada, não vou precisar me preocupar com o que fazer com esses ativos, em caso de encerramento do contrato", explica.
Alguns segmentos são resistentes à ideia
Segundo a Zorzin Logística, boa parte de suas operações é de transporte de produtos químicos. Portanto, as exigências de segurança são bem rígidas. Por isso, muitos clientes não aceitam caminhões alugados. Em muitos casos, isso tem a ver com regras de seguro.
Seja como for, a Zorzin vai precisar de mais 40 caminhões. Parte deles será alugada. "Dessa forma, diluindo o custo no valor mensal, as condições ficam mais atrativas. Como ocorre no financiamento", completa.
Viabilidade da locação de caminhões depende do momento
A Anacirema Transportes e Logística começou a operar veículos alugados em 2022. Segundo o diretor da companhia, José Alberto Panzan, a estratégia é inspirada na experiência com o leasing operacional. Afinal, nos dois tipos de contrato, o veículo pode ser devolvido no fim do plano.
"No ano passado, precisávamos ampliar e renovar a frota. Chegamos à conclusão de que comprar ou alugar depende de cada operação e situação. Para isso, é preciso fazer contas", diz Panzan. Ele lembra que altos investimentos na compra de caminhões podem descapitalizar a empresa. Ou mesmo limitar o crédito junto aos bancos.
Porém, com a locação isso não ocorre. Ou seja, mesmo que o valor do aluguel seja similar ao da parcela de financiamento, a operação é interessante. "Em outras palavras, isso ajuda a empresa transformar impostos em receita. Mas não há uma regra pronta. Há situações em que a locação faz sentido. Em outras, a aquisição pode ser melhor", afirma Panzan.
Comprar e alugar
Segundo a Anacirema Transportes, em 2022 foram comprados cavalos-mecânicos para atender um novo contrato. Porém, alguns meses depois um novo cliente também precisava de caminhões tratores, tocos, trucados e VUC's. Esses modelos menores foram alugados por 36 meses. Ou seja, o mesmo prazo do contrato recém-asssinado.
"No meu negócio não operamos com caminhões menores. Além disso, eu teria de fazer um investimento muito alto. Nessa conta, a assinatura fez muito mais sentindo", diz o diretor da Anacirema. Conforme Panzan, outra vantagem é que a empresa trocou o custo fixo pelo variável.
"Mesmo se, por exemplo, depois de 12 meses o cliente rescindir o contrato e eu tiver de pagar uma multa para a locadora, é melhor que ficar com um monte de ativos na garagem. Se eu compro, tenho de pagar as parcelas de qualquer jeito", diz.
JBS teve acesso a tecnologias mais caras
A JBS, gigante da indústria de alimentos, tem frota de 1.300 caminhões próprios. Porém, para atender a demanda crescente por veículos menos poluentes, a companhia criou a No Carbon. Ou seja, focada na locação de modelos 100% elétricos.
De acordo com o diretor da JBS Transportadora, Ricardo Gelain, a frota da No Carbon é de cerca de 300 veículos. Todos são elétricos e locados para transportadores que prestam serviço para as empresas do grupo. Conforme o executivo, o foco são operações em grandes centros urbanos.
"Trata-se de uma iniciativa em linha com o compromisso da JBS de ser Net Zero em 2040. A No Carbon responde pela gestão de uma frota de caminhões frigoríficos. Todos são movidos a energia elétrica. Assim, atendemos as operações logísticas de grandes marcas", explica Gelain.
Locação de caminhões acelera a descarbonização
Segundo a JBS, com a frota locada a empresa deixa de emitir cerca de 30 toneladas de CO2 por caminhão elétrico em operação por ano. Conforme Gelain, a locação elimina barreiras. Como, por exemplo, o elevado custo de aquisição. "Do mesmo modo, ajuda a minimizar as incertezas em relação às novas tecnologias.
De acordo com o executivo, os planos de locação são completos. Assim, incluem seguro e manutenção, entre outros serviços. Como telemetria, atendimento 24h e socorro.
E quilíbrio econômico
A BBM Logística está entre os maiores grupos de transporte rodoviário da América do Sul. Assim, transporta desde matéria-prima para a indústria até produtos acabados entregues ao cliente final. Para isso, a companhia tem cinco divisões. Ou seja, um dedicado ao transporte florestal e agro. Outra divisão é dedicada à indústria, transporte de gás e logística de armazéns.
A terceira e mais conhecida é o Transportes Translovato, que abastece empresa de varejo em geral. Ou seja, atende de shoppings-centers a lojas de rua. A quarta, batizada de Diálogo, atua no comércio eletrônico. Já a quinta atende operações lotação. Ou seja, conecta modais e realiza operações internacionais.
Apesar de todas estarem sob o guarda-chuva da BBM, os nomes Translovato e Diálogo foram mantidos. Segundo a companhia, elas já eram bem conhecidas no mercado.
No total, a BBM tem uma frota de 1.600 veículos e outros 5 mil de parceiras. Por meio de uma plataforma própria é feita a contratação dos agregados. Além disso, há dois anos a companhia passou a fazer a locação de caminhões.
Inicialmente, o objetivo é reduzir os custos, sobretudo relacionados aos aumento dos preços dos caminhões. Além disso, a locação é uma alternativa para a falta de caminhões para entrega imediata. Assim, metade dos 1.600 caminhões da companhia são alugados. A maioria atua em setores como transporte de madeira e agronegócio.
Economia de escala
Segundo o CEO da BBM, André Prado, a operação tem de ser economicamente viável. Assim, ele afirma que, para valer a pena, o custo da locação tem de ser, no mínimo, igual ao da aquisição. Conforme o executivo, isso inclui o TCO. Ou seja, custos de manutenção e seguro, entre outros. "Optamos por locar apenas caminhões. Nos outros serviços, devido ao tamanho da frota tenho ganhos de escala com relação aos serviços de manutenção e seguro, por exemplo", diz.
Montadoras apostam na locação de caminhões
De olho nesse mercado, as fabricantes também criaram serviços de locação de pesados. Entre as que oferecem planos de assinatura estão Scania, Volvo e Volkswagen Caminhões e Ônibus. De modo geral, elas oferecem programas de manutenção, peças e serviços. Bem como frotas atualizadas.
Segundo a gerente do Scania Locação, Renata Campos, no Brasil a iniciativa foi lançado na Fenatran, no fim do ano passado. Porém, a empresa atua nesse setor na Europa há mais de 30 anos. Por isso, a empresa já tem mais de 6 mil veículos locados.
De acordo com Renata, quem assina leva o mesmo veículo que teria se fizesse a compra. Ou seja, dá para escolher o modelo conforme as necessidades da operação. "Ninguém conhece melhor nossos veículos do que nós mesmos. Assim, podemos indicar o que melhor se encaixa na operação. Estudamos o negócio do cliente e produzimos o veículo de que ele precisa. Além disso, oferecemos serviços personalizados", diz.
Serviços inclusos
Nesse sentido, Renata afirma que todos os contratos incluem manutenção. De acordo com ela, os planos vão de 24 a 60 meses. Porém, ela afirma que o maior volume de negócios deve ficar concentrado na opção de 36 meses. Além disso, os preços das mensalidades vão de R$ 16 mil a R$ 30 mil.
A Scania oferece o serviço para toda sua linha de caminhões e ônibus, incluindo os com motor a gás. "Nossa solução é completa e inclui manutenção, serviço de conectividade e treinamento dos motoristas" diz a executiva. "Sempre focando no TCO, seja do cliente que compra seja do que aluga".
Além disso, a marca tem seguro, incluindo cobertura para terceiros. Bem como implementos rodoviários. Nesse sentido, a Scania pode sugerir o implemento mais adequado à atividade do locador.