Na corrida global por motores mais limpos, as montadoras vêm testando diferentes rotas para reduzir as emissões de carbono no transporte. Enquanto algumas apostam na eletrificação, outras buscam caminhos intermediários, combinando combustíveis alternativos e tecnologias de transição. É nesse contexto que surge o Daily Multifuel, novo conceito da Iveco, capaz de rodar com etanol, gás natural veicular (GNV) e biometano.
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O modelo utiliza o motor FPT Industrial F1C, de 3 litros e ciclo Otto, originalmente movido a gás, mas adaptado para também operar com etanol. Por isso, o conjunto possui dois sistemas de injeção: um para combustíveis líquidos e outro para gases. Segundo a Iveco, o propulsor entrega até 136 cv de potência e 35,7 mkgf de torque, além de reduzir significativamente as emissões poluentes em relação a veículos a diesel.
“Abastecido com etanol, o conceito reduz as emissões de CO₂ em três vezes em relação a um diesel. Com biometano, a taxa é quase dez vezes menor do que a do diesel”, disse Eduardo Oliveira, diretor geral de engenharia da América Latina do Iveco Group, em entrevista ao Estradão.
Utilitário flex
Embora o Daily Multifuel possa parecer um veículo tricombustível, o GNV e o biometano são o mesmo combustível: o gás metano. A diferença está na forma como cada um é produzido, o que faz do conceito, na prática, um veículo bicombustível, a gás e etanol.
O GNV é o metano processado do gás natural, extraído de poços junto com petróleo cru. Por outro lado, o biometano é um produto renovável, gerado pela decomposição de matéria orgânica. No Brasil, o biogás é produzido principalmente em aterros sanitários.
“O principal ponto desse projeto diz respeito ao nosso compromisso com a causa ambiental e sustentabilidade. Do ponto de vista ambiental, o biometano tem uma competitividade extremamente alta, com redução de 95% das emissões de CO₂", explicou Fábio Nicora, gerente de Inovação e Desenvolvimento de Produto do Iveco Group, em contato com reportagem.
A redução de 95% das emissões indicada por Nicora engloba todo o ciclo do biometano, desde a produção até a queima do gás no motor. Embora o GNV emita pouco CO₂ durante a combustão, seu processo de produção é mais poluente. Todavia, sua combustão ainda é mais limpa que a do diesel e reduz significativamente a emissão de material particulado, que provoca doenças respiratórias.
Por ora, a empresa não divulgou estimativas sobre a autonomia do conceito, mas adiantou que o veículo registrou maior autonomia e redução de emissões ao utilizar GNV e biometano. A montadora conduz os testes no seu campo de provas em Sete Lagoas (MG).
Testes e caminhos do Daily Multifuel para o mercado
Os testes do Daily Multifuel começaram em laboratórios, em etapas iniciais para validar o desempenho do motor com diferentes combustíveis. “Estamos avaliando o veículo nas condições controladas para entender sua performance e integrar completamente o motor ao conjunto”, revelou o diretor geral de engenharia da Iveco.
O desenvolvimento do Daily Multifuel tem a colaboração de três universidades brasileiras: Unesp, Universidade Federal do Pará e Universidade Federal de Itajubá. “A participação das universidades foi fundamental para acelerar o desenvolvimento e a calibração do motor, além de nos permitir acessar conhecimento de ponta e programas de fomento, como o Rota 2030”, salientou Nicora.
Para chegar ao mercado, o Daily Multifuel ainda precisa passar por todas as etapas de validação do protótipo, que incluem testes de desempenho, integração do motor e análise do custo-benefício da tecnologia, segundo o gerente de inovação e desenvolvimento da Iveco. “Estamos trabalhando na conclusão desse protótipo para desenvolver um projeto consolidado, considerando todos os possíveis volumes no mercado."
Estratégia multi-energética
Dentro da estratégia da Iveco, o Daily Multifuel faz parte de um portfólio multi-energético, complementar aos veículos elétricos e a gás já disponíveis. “Não estamos dizendo que o Daily Multifuel substitui um veículo elétrico, mas que oferecemos alternativas para diferentes necessidades de transporte”, explicou Nicora.
Além disso, o projeto se beneficia da existência de autoprodutores de biometano e etanol no Brasil, principalmente em indústrias de cana-de-açúcar e aterros sanitários. “Muitos produtores já têm acesso ao etanol e ao biometano, então conseguimos conectar a tecnologia a uma estrutura existente”, comentou o gerente de inovação e desenvolvimento da Iveco.
A despeito da fase inicial do projeto baseado no Daily, os executivos da Iveco já aventam a aplicação da motorização a etanol e gás em caminhões médios e até pesados. Segundo Oliveira, “do ponto de vista técnico, não há impedimentos para ampliar essa tecnologia a veículos maiores, embora a viabilidade econômica e o custo total de operação devam ser considerados para cada aplicação”.
