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Investir em caminhões elétricos ou a gás é um bom negócio?

Caminhões elétricos ou a gás abrem portas para novos contratos, mas é preciso ter cautela para avaliar se o investimento vale a pena

Aline Feltrin

30 de mar, 2021 · 12 minutos de leitura.

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caminhões elétricos
Crédito:Divulgação; Manlog

Uma das 10 tendências de consumo para este ano, de acordo com levantamento da consultoria Euromonitor, é a preocupação com o meio ambiente. O estudo mostra que o consumidor espera que as empresas tenham iniciativas que apoiem as pessoas e o planeta. A previsão é que os olhos estejam mais atentos à sustentabilidade do que antes da covid-19. De olho nesta realidade, grandes empresas embarcadoras estão se engajando. O objetivo é mostrar aos seus clientes uma evolução neste assunto. E esse movimento está refletindo em oportunidade de negócios para as transportadoras de cargas que têm caminhões elétricos ou a gás.

A L'Oréal Brasil, por exemplo, tem quatro empresas transportadoras em seu quadro de fornecedores que disponibilizam caminhões movidos a gás. O atrativo desses veículos está na menor quantidade de emissões de poluentes na comparação com um caminhão a diesel.

Além dos caminhões a gás, a empresa também conta com um prestador de serviço que faz transporte com utilitários elétricos. Eles operam em entregas urbanas na cidade do Rio de Janeiro. E há novos projetos para demais cidades do País ainda para este ano.


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Diferencial competitivo

Diretor de Operações da L’Oréal Brasil, Jeferson Fernandes disse ao Estradão que a empresa já trabalha com contratos que obrigam o transportador a descarbonização de algumas rotas. Ou seja, isso garante que o prestador de serviço utilize o veículo a gás. Mas em determinadas operações e por períodos específicos.

“De forma geral, a L’Oréal vem engajando seus parceiros fazerem uma logística menos poluente. E isso demonstra que é um diferencial competitivo. Daqui em diante é praticamente mandatório entregar soluções sustentáveis. Isso para continuar trabalhando conosco”, explica.

O executivo complementa que a empresa já considera como grande diferencial competitivo o uso de fontes alternativas de combustível e de energia. Essa preferência vai ao encontro do programa L’Oréal para o futuro. A iniciativa prevê redução dos impactos sócio ambientais da empresa até 2030.


Centro de Distribuição L'Óréal

De acordo com o executivo, ao analisar um parceiro de transporte a L’Oréal prioriza selecionar empresas que tenham valores fortalecidos em excelência operacional. Além de sustentabilidade, inovação e foco no cliente. “ Avaliamos também a idade da frota dos nossos transportadores. Isso porque as novas tecnologias garantem um nível de emissão de CO2”, explica.

A L’Oréal é uma das grandes embarcadoras do mercado de consumo de higiene e beleza do Brasil. E, portanto, transporta centenas de milhões de unidades por ano. Tem um portfólio de 36 marcas internacionais e 19 marcas locais.


Combustível alternativo para aumentar o faturamento

CEO da Manlog Transportes, Thiago Suzin acredita que o empresário de transporte que tiver uma visão a médio ou a curto prazo sobre combustíveis alternativos colherá bons frutos no futuro. “Seja para a revenda de caminhões movidos a gás. Ou baterias elétricas ou até mesmo para conquistas novos contratos de transporte”, analisa.

Em dezembro, a Manlog comprou seu primeiro caminhão elétrico e já tem ao todo 15 em sua frota. De acordo com o CEO da Manlog, o investimento está abrindo portas para novos contratos. A empresa que transporta para grandes embarcadores do setor alimentício viu, portanto, seu faturamento aumentar. São R$ 3 milhões a mais por mês por causa dessa iniciativa.


“Mostrar ao mercado que temos essa preocupação com o meio ambiente nos garantiu até mesmo novos contratos para transporte com caminhões a combustão também”, explica.

Recentemente, o empresário começou a avaliar se vale a pena investir em caminhões a gás. A empresa está em conversas com a Scania para incorporar algumas unidades na frota.

A empresa goiana que está em atividades desde 2011 espera um faturamento 51% superior ao de 2020. “No ano passado faturamos R$ 86 milhões. E em 2021 chegaremos a R$ 130 milhões”, diz  Suzin. De acordo com ele, essa evolução está diretamente ligada aos investimentos em caminhões movidos a combustível alternativo. “Grandes clientes já nos pediram estudos sobre a viabilidade do transporte com caminhão a gás”, conta.


De acordo com ele, com uma frota de 160 veículos próprios, a empresa já fez a aquisição de 15 caminhões elétricos.

Portas abertas

Diretor comercial da transportadora RN Express, Rodrigo Navarro também acredita, por experiência própria, que investir em caminhões elétricos ou a gás pode ser um bom negócio.

Na Fenatran de 2019, a empresa comprou dois caminhões a gás da Scania. E apresentou o projeto para a L' Óréal que aprovou a iniciativa. “Estamos com projetos em andamento com grandes clientes”, conta.


De acordo com Navarro, desde que a empresa começou fazer transporte com caminhões movidos a eletricidade e a gás, seu faturamento vem aumentando 35% ao ano.

A RN tem uma frota de 150 veículos, sendo 60 caminhões pesados e 70 vans e furgões. Destes, cinco caminhões são movidos a gás e 20 vans e furgões são elétricos.


Navarro conta que a transportadora, em parceria com grandes embarcadores do e-commerce, deverá se tornar a empresa com a maior frota de vans e furgões elétricos do Brasil. “O plano é adquirir 300 veículos das marcas JAC Motors e BYD. No entanto, o investimento será em conjunto com o embarcador”, explica.

De acordo com ele, com esses veículo elétricos a RN oferecerá não apenas o transporte. Ou seja, haverá uma solução completa. “Gestão de entrega, telemetria e controle de emissão de carbono. Com isso, o cliente saberá claramente o quanto deixou de reduzir de CO2”, explica. Nos cálculos de Navarro, com esse projeto a empresa deverá crescer seu faturamento em 150%. “Tivemos, portanto, essa visão de que a sustentabilidade pode ser um nicho interessante”, conclui.

Cautela antes de investir

Sócio Gestor na  MA8 Management Consulting Group, Orlando Merluzzi diz que é preciso ter bastante cautela antes de afirmar que a compra de um veículo com combustível alternativo é um bom negócio. Sobretudo no que diz respeito ao veículo elétrico."Quando se bota na ponta do lápis não paga a conta e os caminhões são muito caros", opina.


De acordo com Merluzzi, as empresas estão neste momento analisando a viabilidade desses produtos. Mas não se pode dizer que é uma tendência. "Quanto será o custos desse caminhão com manutenção? O diesel todos sabem qual é esse custo e quanto o caminhão vai valer daqui a três ou quatro anos. E por isso há empresas que não querem mergulhar nesse tipo de iniciativa "de cara"(sic) ", comenta.

Esse é o caso da transportadora  ABC Cargas que prefere não fazer esse tipo de investimento. De acordo com o presidente da empresa, Danilo Guedes, ao analisar pela viés da sustentabilidade é sim um investimento que compensa. Contudo, financeiramente não é viável. A não ser que o embarcador esteja disposto a pagar pelo custo.

Inviável para percursos longos

"Minha grande dúvida é qual seria o valor desses caminhões daqui três ou cinco anos? Sem essa informação não há como calcular o retorno do investimento nestes veículos, explica. A ABC, de acordo com ele, faz  viagens de longa duração e distância. E não há postos com essa matriz energética disponíveis ". Teríamos muitas dificuldades de operacionalizar."


Sócio-administrador da Rufatto Transportes, André Rufatto compartilha da mesma opinião. De acordo com o executivo, investir nesse tipo de caminhão ainda não compensa", conclui. Isso porque a empresa é especializada em transporte internacional. Ou seja, a rota mas curta é de 2 mil quilômetros. "Quando se fala em caminhão elétrico ou a gás há uma grande questão que é a autonomia e estrutura para abastecer. Por isso, acredito que para nós ainda não vale a pena."

 

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