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GWM inicia testes com o primeiro caminhão a hidrogênio no Brasil

Caminhão a hidrogênio If You Changzheng Q1H, do grupo GWM, desembarca no Brasil e será avaliado em condições reais de rodagem

Thiago Vinholes

06 de ago, 2025 · 9 minutos de leitura.

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Caminhão elétrico da GWM gera a própria energia ao combinar hidrogênio e oxigênio do ar
Crédito:GWM/Divulgação

A GWM acaba de trazer ao Brasil o If You Changzheng Q1H, seu primeiro caminhão elétrico equipado com célula de combustível a hidrogênio. O modelo desembarcou no porto de Santos (SP) no fim de julho e seguiu para a sede da empresa em Iracemápolis (SP), onde passará por testes preliminares antes de entrar na fase de avaliação em rodovias.

De acordo com Thiago Sugahara, gerente de ESG da GWM Brasil, o caminhão pesado da divisão If You do grupo chinês será o ponto de partida para uma série de estudos técnicos e institucionais no País. “O caminhão vem para coroar esse primeiro ciclo de trabalho e iniciar os testes de pesquisa e desenvolvimento aqui no Brasil”, disse o executivo em entrevista ao Estradão.

Com isso, a montadora começa a explorar o potencial do hidrogênio como alternativa sustentável ao diesel, especialmente no transporte pesado. “Atualmente, mais de dois mil caminhões como esse da GWM rodam na China, mas esse é o primeiro do tipo aqui no Brasil”, completa.

Parcerias locais e hidrogênio de fonte renovável

Em 2024, a GWM firmou um memorando de entendimento com o governo do Estado de São Paulo para explorar a viabilidade do hidrogênio veicular. Além disso, a empresa também prepara parcerias com universidades brasileiras. A primeira fase dos testes será conduzida em Iracemápolis, com foco em familiarização técnica e transferência de tecnologia. Posteriormente, o caminhão será levado à USP, onde a empresa utilizará uma estação de abastecimento de hidrogênio produzida a partir do etanol.

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"Mochilão" de hidrogênio: modelo armazena até 40 kg de H₂ - GWM/Divulgação

“É uma tecnologia brasileira para esse universo do hidrogênio”, diz Sugahara. “Vai transformar o etanol em hidrogênio de baixa intensidade de carbono, que será usado para abastecer o nosso caminhão, a partir de setembro.”

Dessa forma, o projeto busca validar o desempenho do caminhão e também promover soluções nacionais para o abastecimento com baixo impacto ambiental. Segundo o especialista da GWM Brasil, a produção local de hidrogênio, com etanol como matéria-prima, pode ampliar a utilização da infraestrutura já existente nos postos de combustíveis brasileiros.

Veículo elétrico que gera a própria energia

O If You Changzheng Q1H é um caminhão elétrico equipado com um motor de 539 cv de potência, que gera sua própria eletricidade a bordo por meio de uma célula de combustível. Nesse sistema, a reação entre o hidrogênio armazenado em cilindros (até 40 kg) e o oxigênio do ar atmosférico produz eletricidade, emitindo apenas vapor d’água como subproduto. Conforme dados do fabricante, o modelo tem autonomia até 500 quilômetros.

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Modelo trazido ao Brasil tem alertas sonoros em português do Brasil - GWM/Divulgação

Além disso, o veículo conta com uma bateria de 105 kWh, que também armazena a energia regenerada durante as frenagens. O conjunto ainda pode ser recarregado externamente por meio de uma conexão do tipo DC, segundo a GWM.


“O caminhão é um Fuel Cell Electric Vehicle (Veículo Elétrico com Célula de Combustível). Ele tem um sistema de célula a hidrogênio que reduz o tamanho necessário da bateria comparado a um caminhão elétrico convencional”, explica Sugahara.

Inicialmente, os testes no Brasil ocorrerão sem carga. Porém, em etapas futuras, a GWM também testará o caminhão carregado, em diferentes regiões do país. “Vamos avançar gradualmente até poder fazer o transporte com carga”, afirma o executivo.

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De acordo com dados da marca, o caminhão tem PBTC de 49 toneladas - GWM/Divulgação

Desafios regulatórios e de infraestrutura

Contudo, apesar das expectativas promissoras, o projeto ainda enfrenta desafios regulatórios e de infraestrutura. Atualmente, o Brasil não possui um protocolo de homologação específico para veículos movidos a hidrogênio e a rede de abastecimento ainda é incipiente. “Vamos construir isso do zero”, afirma Sugahara. “Por isso é tão importante a chegada dessas tecnologias, para que possamos testá-las e apresentar soluções às autoridades.”

Além disso, o preço do veículo ainda é elevado — na China, o caminhão custa, em média, o dobro de um modelo equivalente a diesel — e o preço do hidrogênio veicular no Brasil ainda não está estabelecido. No entanto, a GWM acredita que o aproveitamento de fontes renováveis, como o etanol e a energia solar, pode tornar o uso do hidrogênio mais competitivo nos próximos anos.


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No Brasil, caminhão será abastecido com hidrogênio feito a partir de etanol - GWM/Divulgação

De acordo com Sugahara, enquanto o mercado de automóveis já conta com soluções maduras em eletrificação, o transporte de carga ainda precisa evoluir. “O caminhão é estratégico para toda a logística do Brasil. É importante trazer essas tecnologias que vão nos auxiliar a fazer essa substituição do motor a combustão tradicional”, afirma.

O If You Changzheng Q1H inaugura uma nova fase de testes no País, que visam entender o comportamento do veículo e as possibilidades de produção e distribuição de hidrogênio em território nacional. “O que sai do escapamento do caminhão é água”, lembra Sugahara. “Ou seja, é um veículo de zero emissão que pode ser a chave para descarbonizar a logística no Brasil e no mundo.”

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