A GWM acaba de trazer ao Brasil o If You Changzheng Q1H, seu primeiro caminhão elétrico equipado com célula de combustível a hidrogênio. O modelo desembarcou no porto de Santos (SP) no fim de julho e seguiu para a sede da empresa em Iracemápolis (SP), onde passará por testes preliminares antes de entrar na fase de avaliação em rodovias.
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De acordo com Thiago Sugahara, gerente de ESG da GWM Brasil, o caminhão pesado da divisão If You do grupo chinês será o ponto de partida para uma série de estudos técnicos e institucionais no País. “O caminhão vem para coroar esse primeiro ciclo de trabalho e iniciar os testes de pesquisa e desenvolvimento aqui no Brasil”, disse o executivo em entrevista ao Estradão.
Com isso, a montadora começa a explorar o potencial do hidrogênio como alternativa sustentável ao diesel, especialmente no transporte pesado. “Atualmente, mais de dois mil caminhões como esse da GWM rodam na China, mas esse é o primeiro do tipo aqui no Brasil”, completa.
Parcerias locais e hidrogênio de fonte renovável
Em 2024, a GWM firmou um memorando de entendimento com o governo do Estado de São Paulo para explorar a viabilidade do hidrogênio veicular. Além disso, a empresa também prepara parcerias com universidades brasileiras. A primeira fase dos testes será conduzida em Iracemápolis, com foco em familiarização técnica e transferência de tecnologia. Posteriormente, o caminhão será levado à USP, onde a empresa utilizará uma estação de abastecimento de hidrogênio produzida a partir do etanol.

“É uma tecnologia brasileira para esse universo do hidrogênio”, diz Sugahara. “Vai transformar o etanol em hidrogênio de baixa intensidade de carbono, que será usado para abastecer o nosso caminhão, a partir de setembro.”
Dessa forma, o projeto busca validar o desempenho do caminhão e também promover soluções nacionais para o abastecimento com baixo impacto ambiental. Segundo o especialista da GWM Brasil, a produção local de hidrogênio, com etanol como matéria-prima, pode ampliar a utilização da infraestrutura já existente nos postos de combustíveis brasileiros.
Veículo elétrico que gera a própria energia
O If You Changzheng Q1H é um caminhão elétrico equipado com um motor de 539 cv de potência, que gera sua própria eletricidade a bordo por meio de uma célula de combustível. Nesse sistema, a reação entre o hidrogênio armazenado em cilindros (até 40 kg) e o oxigênio do ar atmosférico produz eletricidade, emitindo apenas vapor d’água como subproduto. Conforme dados do fabricante, o modelo tem autonomia até 500 quilômetros.

Além disso, o veículo conta com uma bateria de 105 kWh, que também armazena a energia regenerada durante as frenagens. O conjunto ainda pode ser recarregado externamente por meio de uma conexão do tipo DC, segundo a GWM.
“O caminhão é um Fuel Cell Electric Vehicle (Veículo Elétrico com Célula de Combustível). Ele tem um sistema de célula a hidrogênio que reduz o tamanho necessário da bateria comparado a um caminhão elétrico convencional”, explica Sugahara.
Inicialmente, os testes no Brasil ocorrerão sem carga. Porém, em etapas futuras, a GWM também testará o caminhão carregado, em diferentes regiões do país. “Vamos avançar gradualmente até poder fazer o transporte com carga”, afirma o executivo.

Desafios regulatórios e de infraestrutura
Contudo, apesar das expectativas promissoras, o projeto ainda enfrenta desafios regulatórios e de infraestrutura. Atualmente, o Brasil não possui um protocolo de homologação específico para veículos movidos a hidrogênio e a rede de abastecimento ainda é incipiente. “Vamos construir isso do zero”, afirma Sugahara. “Por isso é tão importante a chegada dessas tecnologias, para que possamos testá-las e apresentar soluções às autoridades.”
Além disso, o preço do veículo ainda é elevado — na China, o caminhão custa, em média, o dobro de um modelo equivalente a diesel — e o preço do hidrogênio veicular no Brasil ainda não está estabelecido. No entanto, a GWM acredita que o aproveitamento de fontes renováveis, como o etanol e a energia solar, pode tornar o uso do hidrogênio mais competitivo nos próximos anos.

De acordo com Sugahara, enquanto o mercado de automóveis já conta com soluções maduras em eletrificação, o transporte de carga ainda precisa evoluir. “O caminhão é estratégico para toda a logística do Brasil. É importante trazer essas tecnologias que vão nos auxiliar a fazer essa substituição do motor a combustão tradicional”, afirma.
O If You Changzheng Q1H inaugura uma nova fase de testes no País, que visam entender o comportamento do veículo e as possibilidades de produção e distribuição de hidrogênio em território nacional. “O que sai do escapamento do caminhão é água”, lembra Sugahara. “Ou seja, é um veículo de zero emissão que pode ser a chave para descarbonizar a logística no Brasil e no mundo.”