Thiago Suzin sempre foi empreendedor. Há dez anos, quando ele tinha apenas 24 anos, fundou o Grupo Movah (a pronúncia é mova). Essa ousadia não surgiu do nada. Afinal, o empresário faz parte de uma família que já atuou no setor de transporte. Foi lá que ele adquiriu experiência para tocar seus próprios negócios.
A primeira empresa do grupo foi a Manlog Transportes. A empresa fundada em Goiás atua no setor frigorífico. Foi em 2020 que o Movah começou a ganhar fôlego. Foi um dos primeiros do Brasil a apostar na eletrificação. A companhia investiu em carros e caminhões elétricos da JAC Motors.
Políticas sustentáveis está no foco da companhia
Os carros são usados no transporte de funcionários das áreas comercial e administrativa. Uma das preocupações é ter uma pegada mais sustentável em todos os projetos. Nesse sentido, o grupo assinou o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) para a redução das emissões.
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Assim, graças aos 32 caminhões elétricos da frota, a Movah conquistou nove clientes - a carteira total é de 32. É o caso de multinacionais como Kraft Heinz, Carrefour e Decathlon. O Manlog Loc é o braço da empresa dedicado à locação de veículos com propulsão alternativa ao diesel.
Por sua vez, a Fresh é a divisão de marketing da companhia. Segundo Suzin, por causa das mudanças cada vez mais rápidas é preciso haver uma comunicação eficiente.
Compras
Em 2021, o grupo foi às compras. Assim, adquiriu a Wings Log, que atua no transporte de pneus, entre outros produtos carga seca. Com isso, a empresa passou a operar nos Estados do Paraná e São Paulo. O objetivo é expandir as operações para outras regiões.
De acordo com Suzin, só irão sobreviver as companhias que têm uma gestão mais aprimorada. E o executivo quer mais. Portanto, ele afirma que pretende adquirir novas companhias. Com isso, ele afirma que vai poder operar nas regiões Norte e Nordeste.
Além das duas transportadoras, o Grupo Movah é dono da startup Amppli Tecnologia, desenvolvedora do aplicativo Echecklist. A ferramenta ´e voltada à gestão de frotas. Com isso, por meio do smartphone, tablet e computador pessoal, o gestor tem acesso a várias informações do caminhão. Assim como do implemento e do motorista. Tudo em tempo real e independentemente da localização. Suzin concedeu a seguinte entrevista ao Estradão.
Expansão
Com a compra da Wings Log, o grupo entrou no segmento de pneus e em São Paulo? O objetivo é expandir a atuação para outros segmentos? Já expandimos. Além de São Paulo e Paraná, regiões que a Wings já cobria, passamos a atuar no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Além de assinar novos contratos, passamos a oferecer outros serviços. Atualmente, 90% da operação é dedicada ao transporte de pneus. Os outros 10% referem-se a mercadorias como óleo lubrificante e tinta, por exemplo. Assim, conquistamos novos negócios após essa aquisição.
Apesar do pouco tempo de atuação no segmento de tintas, já ganhamos um prêmio por fazermos um transporte responsável. E concorremos com empresas do setor de combustível, que são referência no segmento. Isso prova que estamos fazendo a coisa certa. Esse tipo de conquista nos coloca em um patamar que gera interesse por parte dos embarcadores.
A meta é crescer para outros segmentos e atuar em novas regiões?
Nossa intenção é expandir os negócios para outros segmentos. Por exemplo, baú seco, sider, etc. Mas vamos prospectar isso ao longo de 2022.
Isso será feito com as empresas do grupo ou fazendo novas aquisições?
Há possibilidade de ambos. Mas, com relação a aquisições, tudo depende do que for proposto. Nesse sentido, já estamos em conversas no mercado.
Há segmentos em que a empresa não atua e pretende ingressar?
Sim, no agronegócio. Ou seja, no transporte de defensivos e sementes.
Com isso será feito?
Vamos colocar a Manlog para atuar no agronegócio. Estamos de olho em empresas que já atuam no segmento para absorver a estrutura. Além disso, estamos fazendo readequações internas. Caso o negócio não se concretize, queremos que a Manlog esteja preparada para entrar nesse negócio. Mas o ideal seria fazer isso por meio de aquisições.
Aquisição é tendência
Como o sr. vê o movimento de aquisições no setor de transporte?
Esse movimento ocorre por causa de má gestão. E isso piorou por causa da pandemia. Antes, se a empresa tivesse uma boa margem, mesmo que a gestão não fosse boa, ela conseguia operar. Agora, com o grande aumento dos custos, as empresas que não focavam a gestão foram as mais afetadas. E isso é algo que não se recupera do dia para a noite. Emplacar um bom sistema de gestão é demorado e requer investimentos. Por isso, muitas empresas vão acabar fechando. Outras terão de vender seus ativos.
O grupo também está aberto a vender alguma operação e fazer fusões?
A gente está aberto a qualquer tipo de proposta. Vejo esses movimentos como uma tendência inteligente. Um bom exemplo disso é a JSL. É uma gigante que comprou outras grandes empresas que não tinham problemas de gestão. Além disso, os antigos donos estão sendo agregados à companhia, por meio de participação com ações.
A JSL ampliou os ativos, o número de clientes e a oferta de serviços sem perder sua essência. Seja como for, atualmente eu estou comprador. Mas não estou fechado a propostas para venda.
Soluções tecnológicas
A Amppli Tecnologia oferece um aplicativo de gestão de frota. Há planos de ampliar o serviço para outros segmentos de logística?
Sim. E estamos prestando esses serviços. Além de oferecer ferramentas de gestão de frota, também temos soluções voltadas à área administrativa. Assim, também conseguimos oferecer consultoria para outras empresas.
Por que o cliente compraria uma solução da Amppli sabendo que ela pertence a um concorrente?
Posso garantir que não tenho acesso aos números dessas empresas. Nesse sentido, a Amppli tem sua própria estrutura. Além disso, há um contrato de confidencialidade. Bem como regras de compliance. Isso é comunicado aos clientes. Trabalhamos muito a comunicação por meio do marketing.
Além disso, antes de oferecer essas soluções ao mercado, nós fizemos avaliações dentro das nossas operações. Ou seja, o cliente compra um serviço confiável e testado na prática.
Frota
As aquisição de uma frota elétrica já permite colher frutos?
Para 2022, estamos vendo que o mercado está mais reprimido. Mesmo assim, nossa intenção é partir para uma possível aquisição de mais veículos. Isso inclui modelos elétricos.
O grupo estuda oferecer veículos menos poluentes, com os a gás?
Há novas tecnologias vindo ao Brasil, como caminhões eletrificados com melhor desempenho. No caso de operações de longas distâncias, vamos optar pelo biogás. A ideia é ter um ecossistema de transporte sustentável. Ou seja, vamos atuar no agronegócio e usar a matéria-prima do produto que vai ser transportado para produzir biogás. Já temos um projeto para movimentar esse mercado.
Produtor de biogás
A intenção é ser produtor do próprio combustível?
Queremos ir por esse caminho. Seja como parceiros de empresas que produzem o biogás ou mesmo trazer a produção para dentro da companhia. Ainda estamos estudando isso e temos um time atuando. Portanto, até junho de 2022 queremos ter caminhões rodando com biogás.
Nesse sentido, estamos em conversas com a Iveco, que deve trazer um caminhão a gás em breve. Mas também há a Scania, que já tem modelos rodando. Assim, podemos avaliar as opções.
Alta dos preços
Como está sendo o impacto da alta do diesel nas operações?
Somos resistentes em repassar os aumentos de custos, mas não tem jeito. Alguma coisa tem de ser repassada. Sobretudo nesse momento de altas constantes. Além disso, nossa estratégia sempre foi fazer a gestão dos números. Por causa desse frequente aumento dos preços, estamos nos apegando aos detalhes.
Isso implica alterar contratos que estão em andamento?
Sim. Trabalhamos com o chamado gatilho, que visa repassar aumentos de preços de insumos básicos. Ou seja, mesmo que isso não esteja previsto no contrato. Porém, sou partidário do diálogo e da transparência dos números. Por exemplo, temos contratos anuais com embarcadores. E há cláusulas que nos impedem de fazer renegociações. No entanto, diante das sucessivas altas de alguns custos, conseguimos fazer o repasse. Até porque se isso não fosse feito, a conta não fecharia.
Mercado
Qual é a média de crescimento da companhia?
Desde 2019, estamos crescendo, em média, 50% por ano. Nossa carteira de cliente no mesmo período aumentou em 25%.
E quais são as projeções para 2022?
Queremos crescer, no mínimo, mais 50%.
Como será o comportamento do mercado em 2022?
Creio que 2022 será um ano mais desafiador do que 2021. Haverá uma pequena recessão, impactado pela alta do custo na logística. Ao mesmo tempo, o mercado está muito carente de empresas profissionalizadas. Além disso, haverá mais exigência em relação à soluções relacionadas à novas matrizes energéticas. Porém, existe uma grande resistência dos clientes em pagar por isso. O desafio será fazer mais com menos.