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Greve de caminhoneiros não deve ocorrer, segundo autônomos

Segundo autônomos e especialistas, com a alta do preço do diesel e de insumos, há um grade risco de parte dos caminhoneiros não consiga trabalhar mais

Aline Feltrin

23 de mai, 2022 · 9 minutos de leitura.

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auxílio emergencial caminhoneiros
Crédito:Volvo/Divulgação

A escalada do preço do diesel, a alta dos custos de insumos e a desvalorização do frete criaram uma onda de insatisfação entre caminhoneiros, sobretudo autônomos. Porém, não há consenso se esse cenário pode gerar uma nova greve de caminhoneiros. Tem havido manifestações de associações de motoristas sobre essa possibilidade. Porém, não há nada certo no horizonte.

Seja como for, vários líderes falam sobre fazer um movimento parecido ao de 2018. Na época, houve uma greve de caminhoneiros que durou 10 dias e parou o Brasil. Para conter os ânimos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) editou uma medida provisória que permite revisão na tabela do frete.

Assim, a MP cria um novo gatilho que permite o reajuste do preço do frete toda a vez que houver alta de mais de 5% no valor do diesel. Até então, isso ocorria quando a variação era igual ou superior a 10%. De qualquer modo, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (ABRAVA), Wallace Landim, diz que isso é insuficiente. Segundo ele, o Brasil precisa criar soluções de curto prazo para frear a deterioração dos autônomos.

Dificuldades para rodar

Assim, o Estradão conversou com os motoristas para entender o impacto da alta do diesel e dos insumos. E se há algum movimento de greve de caminhoneiros em vista. Maicon Fabio Ferreira (foto abaixo) diz que está difícil fechar a conta no fim do mês. “Posso dizer que estou pagando para trabalhar, porque meu lucro caiu pela metade”, diz.


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De acordo com Ferreira, os fretes que ele pega são oferecidos pelas transportadoras. Segundo ele, não tem havido um repasse justo dos aumentos dos custos. “Não temos como negociar um valor melhor, assim como essas empresas fazem com os embarcadores”, diz.

Ferreira diz que está cada vez mais difícil fazer a conta fechar no fim do mês


Além disso, Ferreira diz que as transportadoras têm condições melhores de acertar um preço mais baixo do diesel com os postos. Porém, isso não ocorre com os motoristas que trabalham por conta própria. Na visão do autônomo, a categoria está disposta a parar.

Contudo, afirma ele, os representantes das associações só ameaçam. Mas não vão adiante com um movimento de greve de caminhoneiros.

Alves alerta para a falta de condições para a categoria se manter rodando

O caminhoneiro Danilo Alves Moraes (acima) compartilha a opinião. Além disso, acrescenta que, caso haja uma paralisação, ela seria motivada pela falta de condições de trabalho. Ou seja, não se trataria de uma ação de protesto. Ele também reclama da falta de fiscalização da tabela de frete pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). “O tabelamento existe desde 2018, mas nunca foi para frente”, diz.

Sem cheiro de greve

Seja como for, o autônomo Anderson Zamperlini (abaixo) conta que, apesar do cenário difícil, ele não tem observado nenhum movimento de greve de caminhoneiros. “Fiquei os últimos 15 dias na estrada e não ouvi nada a respeito”, afirma.

Anderson Zamperlini diz que não viu nenhum movimento de greve

Segundo Zamperlini, toda a sociedade deveria se mobilizar para protestar contra os aumentos do preço do diesel. Isso porque a alta reflete na vida de todos. “Daqui para frente, os caminhoneiros que vão parar serão os que não têm mais condições de rodar”, acredita.

Profissão em decadência

Conforme o presidente da Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA), Marlon Maues, os aumentos de custos são apenas um dos fatores que mostram a precarização da profissão. De acordo com ele, há mais mão de obra disponível do que oferta de frete.

Assim, isso dificulta a negociação por um valor de frete mais justo. “Quem não quer carregar pelo preço oferecido é substituído por outro autônomo que aceita”, afirma Maues. Segundo o presidente da CNTA, isso também está relacionado à dificuldade de o caminhoneiro negociar diretamente com o embarcador.


Sem acesso aos embarcadores

“Os intermediários, como transportadores e agenciadores, não pagam o preço justo aos caminhoneiros”, afirma. Conforme ele, isso ocorre porque os autônomos não têm um contato com as embarcadoras que demandam o frete. “Eles não conseguem vender diretamente. Por isso, os intermediários” se apropriam do frete e repassam ao caminhoneiro uma quantia pequena”, explica.

O presidente da CNTA revela que há um projeto de conectar o embarcador diretamente ao transportador autônomo. É uma forma de equalizar o sistema, de acordo com Maues. Além disso, está em andamento uma campanha de conscientização para que os caminhoneiros não aceitem fretes muito baixos.

“Não há respeito pela categoria”, diz. Segundo dados da ANTT, há 850 mil transportadores autônomos do Brasil. Assim, eles representam 65% do transporte rodoviário de carga no País. Segundo Mauer, o que existe não é risco de paralisação para tratar de reivindicações. Ou seja, o que poderá haver é que muitos não vão mais conseguir se manter na profissão.


“Pode ocorrer algo muito parecido com o houve nos Estados Unidos. Os motoristas cruzaram os braços e conseguiram se reorganizar”, diz. Porém, o especialista lembra que a economia norte-americana é forte. Ou seja, a demanda é maior que a oferta.

O caminho é a capacitação

Segundo o presidente da CNTA, o único caminho possível para mudar essa situação é o da educação. Ou seja, o preparo da categoria. Desta forma, quem buscar conhecimento se manterá na profissão. Isso inclui saber negociar melhor para manter a saúde financeira.

Maues diz que esse o cenário difícil está causando o amadurecimento no setor. “Eles estão passando pela dor do conhecimento”, diz. Conforme o especialista, uma parte dos caminhoneiros autônomos está em situações mais favorável justamente porque conseguiu se capacitar.


De acordo com Mauer, a CNTA está ouvindo mil autônomos das cinco regiões do Brasil. Assim, uma das conclusões desse estudo é de que 80% têm caminhões próprios e quitados. “Eles atuam em setores que valorizam mais o profissional”, diz. O presidente da CNTA cita o segmento de transporte de combustíveis.

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