A recuperação judicial da Nikola Corporation, protocolada em fevereiro deste ano, escancarou os desafios da cadeia de suprimentos para caminhões movidos a célula de combustível de hidrogênio nos Estados Unidos. Fabricante dos modelos Tre FCEV, a empresa não resistiu à crise financeira e deixou em alerta transportadoras que confiaram na promessa de uma frota eficiente e de zero emissão. De acordo com uma reportagem do site norte-americano Transport Topics, a situação afetou diretamente a operação de empresas que haviam apostado na eletrificação com hidrogênio.
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A Nikola buscava, sem sucesso, um investidor para manter as atividades em curso. Mesmo após negociações com fabricantes interessados, a falta de acordo frustrou os planos da diretoria e de seus clientes. Com a entrada no processo de falências dos EUA, os operadores passaram a enfrentar uma realidade preocupante: caminhões estacionados, hidrogênio mais caro e manutenção comprometida.
Transportadoras lidam com custos crescentes e paralisações
A IMC Logistics, uma das maiores transportadoras da América do Norte, adquiriu 50 caminhões pesados Nikola FCEV, a maior frota desse tipo nos EUA. Até o fim de junho, 40 veículos ainda rodavam, mas a empresa precisou buscar um novo fornecedor de hidrogênio para seguir operando. O problema, no entanto, foi o custo. O preço por quilo do combustível saltou de US$ 7,50 para US$ 29.
Jim Gillis, presidente da IMC para a Região do Pacífico, afirmou ao site que a empresa “segue trabalhando com planos E, F e G” após meses de incertezas. Além do aumento nos custos, a transportadora não recebe atualizações de software nem suporte técnico da Nikola, o que aumenta os riscos de paralisação. A manutenção, por enquanto, está sendo realizada por parceiros, mas sem garantias de continuidade.

Outra transportadora que comprou caminhões da Nikola, a 4Gen Logistics estacionou seus 15 modelos por precaução. De acordo com Brad Bayne, vice-presidente de Iniciativas Estratégicas da empresa, o temor de ficar sem peças e assistência técnica pesou mais do que o desejo de manter os veículos rodando. A alta do hidrogênio, que quadruplicou com o fim do fornecimento pela Nikola, também influenciou na decisão, relatou o executivo.
Nikola tenta vender ativos
Em meio ao colapso, a Nikola iniciou leilões paralelos para vender seus ativos físicos e intangíveis. No total, 103 caminhões novos com célula de combustível estão disponíveis para compradores interessados. Já a propriedade intelectual da empresa. como patentes, software, dados de pesquisa e marcas, também foi colocada à venda. A sede da companhia, em Coolidge, no estado do Arizona, foi comprada pela startup de carros elétricos Lucid, em abril.

Apesar das dificuldades, os executivos da transportadoras mantêm um certo otimismo. Eles acreditam que autoridades estaduais e operadores portuários podem ajudar a manter ativa a infraestrutura de hidrogênio em regiões estratégicas como Long Beach, na Califórnia. “Estou confiante de que o estado não quer abrir mão disso”, disse Gillis ao site.