A Medida Provisória 1175/23, que reativou o mercado de automóveis com o pacote de descontos do carro popular, ainda não teve grande adesão entre os caminhões e ônibus novos. Segundo alguns concessionários consultados pelo Estradão, golpistas se passam por despachantes na tentativa de "vender serviços" a empresas do setor, como transportadores e revendas. Além disso, há dúvidas e restrições para obtenção do bônus federal.
Diretor da concessionária Quinta Roda Scania, Roberto Mota diz que, até o momento, nenhum frotista procurou uma de suas lojas para fazer negócio por meio do programa federal. Porém, segundo ele, alguns poucos caminhoneiros até mostraram interesse. Mas sem sucesso, porque o desconto é pequeno frente ao valor de um veículo 0-km no atual padrão Euro 6.
"O cliente chega na loja com o caminhão com mais de 20 anos, que custa entre R$ 80 mil e R$ 90 mil. Mas os outros custam R$ 800 mil! Ou seja, o caminhoneiro precisa ter crédito e bens para dar de garantias ao banco na hora do financiamento", explica Mota.
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Ainda há dúvidas sobre a entrega do caminhão usado
Além disso, ficou a cargo do concessionário dar o destino final aos caminhões velhos. "Até o momento não sabemos como proceder. Porque não é simplesmente entregar o caminhão ao desmanche. Deve-se desmontar e tirar as partes de vidro, de borracha, plástico, óleos, etc. Para depois dar o destino correto", diz o diretor da revenda da Scania.
Ademais, Mota revela que concessionários e clientes têm recebido ligações de empresas que se passam por despachantes. Para se valer do pacote de descontos do governo, os golpistas oferecem facilidades para a aprovação de crédito. "Obviamente, cobram uma comissão", acrescenta o concessionário. Em razão disso, a Associação de Concessionários Scania (Assobrasc), por meio de comunicado, vem alertando os clientes sobre os golpes.
Desafios para viabilizar o programa
Diretor de marketing de portfólio de produtos da Iveco, Marcus Souza, diz que o programa do governo foi elaborado levando em conta um pleito dos fabricantes. Afinal, desde o início deste ano as vendas de caminhões 0-km estão em queda. Sobretudo, em razão das altas taxas de juros e do pouco crédito na praça. Porém, o executivo reconhece que a viabilidade do plano não está ajudando a impulsionar as vendas de caminhões. Parte culpa dos altos juros.
"O programa é bom. Mas ele só fará sentido por meio de uma triangulação. Ou seja, primeiro localizar onde está esse caminhão com mais de 20 anos. Depois dar acesso para que o proprietário desse veículo mais velho consiga comprar um modelo seminovo do transportador", pontua.
Ônibus há mais movimento
Entretanto, vale lembrar que essa triangulação não é o negócio do empresário de caminhão. Já para o frotista de ônibus, faz mais sentido. De acordo com Souza, o ônibus usado tem valor, porque roda pelo interior do País. Ou seja, muito mais fácil de ser localizado. Além disso, faz parte da operação do frotista negociar veículos.
"Por isso, entre os ônibus percebemos algum movimento. Porém, ainda tímido. As empresas estão buscando chassis antigos. Mesmo porque ônibus com mais de 20 anos não tem mercado. E sabemos onde está localizado. Por outro lado, o caminhão com mais de 20 anos trabalha. Ou seja, há mercado para ele. E o valor pago nesse programa para a troca ainda é pequeno", completa Souza.
Seja como for, de acordo com Mota, da Quinta Roda, a Assobrasc, assim como representantes de concessionárias de outras marcas, devem agendar novo encontro com o governo. A intenção é encontrar meios de fazer o programa funcionar. "O projeto tem pouco dinheiro, o que dificulta a sua viabilidade. Quem vai dar um caminhão velho por 80,3 mil e pegar um novo com parcela de R$ 18 mil no financiamento?", indaga Mota.
Conforme publicado pelo Estradão, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) enviou ao governo três propostas de emendas para a MP que concedem descontos nos preços de caminhões. Uma delas é que o caminhoneiro tenha uma linha de crédito especial.