Tecnologia

Dados de telemetria e gestão minuciosa ditam o avanço de frotas de veículos comerciais elétricos

Segundo especialistas, sistemas de telemetria e ferramentas de gestão são essenciais para obter a máxima eficiência de veículos comerciais elétricos

Thiago Vinholes

05 de mar, 2025 · 9 minutos de leitura.

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Gestão de veículos elétricos requer apoio tecnológico especializado em variadas frentes
Crédito:Ford/Divulgação

A adoção de veículos comerciais elétricos impõe desafios significativos às frotas. Além da necessidade de infraestrutura de recarga, a gestão da autonomia e a disponibilidade de peças são fatores críticos para a operação eficiente desses modelos. Durante o Geotab Connect 2025, em Orlando, nos Estados Unidos, especialistas desse setor na América do Norte e Europa compartilharam algumas de suas experiências e aprendizados com esse modal de transporte que ainda está em desenvolvimento.

Em uma apresentação durante o evento, Lars Lee-Potreck, Chefe Global de Contas e Gestão de Canais da Siemens, comentou que a infraestrutura de recarga ainda não está no nível adequado para garantir a operação ininterrupta de veículos. No entanto, segundo o executivo, com dados de telemetria é possível se adaptar e criar estratégias para evoluir nesse ambiente.

“Com a telemetria sabemos o estado da bateria, informações sobre a autonomia do veículo e outras métricas importantes, como a pressão dos pneus, que impacta no alcance. Podemos ainda calcular rotas conforme a autonomia disponível, quanta energia um veículo precisará para o próximo dia e analisar o estilo de condução do motorista. A partir disso, criamos muitos dados e valor para o cliente”, disse o especialista da Siemens, empresa alemã que atua na produção motores elétricos e outros negócios.

Ainda nesse contexto, a Siemens oferece Depot 360, uma ferramenta de gerenciamento direcionada para veículos comerciais elétricos. O software da empresa alemã também pode operar atrelado a plataforma de telemetria da Geotab, o MyGeotab.

Frotas elétricas ainda sofrem com longas distâncias

Um dos principais desafios para os gestores de frotas elétricas é a dificuldade de operar rotas de longa distância. Nesse sentido, a transportadora Purolator, que atua no Canadá, vem remediando esse problema com gerenciamento minucioso de rotas e recargas.


"Temos parcerias com empresas de infraestrutura e gerenciamento de recarga para cobrir nossas rotas, sobretudo as mais longas", explicou Jeff McAleese, gerente sênior de TI da Purolator, em apresentação no Geotab Connect 2025. “Ajustamos nossos veículos às estruturas em nossas rotas. Em alguns casos, tivemos que reformular as estruturas de nossas rotas para os nossos veículos”, afirmou.

Purolator, veículos elétricos
A Purolator é a principal transportadora com sede no Canadá - Purolator/Divulgação

De acordo com McAleese, um veículo elétrico com autonomia de 400 quilômetros não consegue percorrer essa distância em um dia de trabalho. “Simplesmente não é prático porque você não será capaz de sustentar esse alcance diário sem uma rede de recarga rápida estabelecida. Atualmente, nossa frota elétrica de última milha tem uma faixa de rodagem entre 60 e 150 quilômetros por dia”, contou.

A transportadora canadense gerencia seus veículos elétricos por meio da plataforma Flipturn. Disponível na América do Norte, esse sistema também funciona combinado a rede de telemetria da Geotab.

“O Flipturn permite que você defina suas preferências sobre a recarga de veículos elétricos, além de monitorar em tempo real quais veículos estão sendo ou não recarregados, bem como outros detalhes da frota elétrica. O sistema pode sugerir quando priorizar a recarga de veículos específicos em relação a outros ou locais de recarga cadastrados em relação a outros. O programa também faz o gerenciamento e os gastos com eletricidade”, explicou Sashko Stubailo, CTO da Flipturn, na conferência nos EUA.


Tempo de recarga de elétricos exige planejamento avançado

Para garantir eficiência, os gestores de frotas precisam planejar a recarga dos veículos elétricos, que pode levar horas. A CBRE, empresa de serviços imobiliários comerciais com atuação global, por exemplo, adota estratégias especiais para minimizar esse impacto. "Temos focado em recarga de nível 2 (de até 19,2 kW), pois nossos veículos permanecem parados à noite, permitindo um carregamento mais eficiente", comenta Amy Allen, gerente de veículos elétricos da empresa.

A CBRE também enfrenta desafios com a adaptação de veículos elétricos conforme suas capacidades. A empresa utiliza três modelos principais: vans, caminhões e veículos de passageiros, mas a autonomia dos elétricos limita sua aplicação. "Só colocamos o Ford e-Transit em rotas de até 80 milhas (128 km) diárias, o que é desafiador, pois muitos de nossos motoristas percorrem centenas de milhas", explica Allen. Para trajetos mais longos, a companhia utiliza a picape Ford Lightning, com autonomia de 200 quilômetros.

CBRE
A CBRE opera mais de 5.000 veículos no mundo todo; empresa quer eletrificar 100% da frota até 2035 - CBRE/Divulgação

Outro obstáculo é o reembolso para os funcionários que recarregam os veículos em suas próprias casas, já que muitos motoristas moram em apartamentos sem estrutura para carregamento. Para resolver isso, a CBRE firmou parceria com a MoveEV, que possibilita um reembolso preciso, baseado no consumo real de energia, evitando problemas fiscais. "Cada motorista tem uma taxa única de reembolso e conseguimos garantir que o dinheiro seja devolvido antes do vencimento da conta de eletricidade", destaca Allen.

Importância da tecnologia na gestão de frotas elétricas

A tecnologia tem papel essencial nesse processo. A integração da plataforma de gerenciamento de reembolsos com o sistema de telemetria da Geotab permite rastrear os eventos de recarga, otimizando custos. "Com os dados fornecidos pela telemetria, conseguimos orientar os motoristas a escolherem tarifas mais vantajosas de energia, reduzindo gastos operacionais", acrescenta Tara Spencer, Diretora de Vendas da MoveEV.


Diante desses desafios, as empresas que operam modelos elétricos buscam alternativas como a implementação de sistemas de telemetria avançada e o desenvolvimento de parcerias com fornecedores de infraestrutura de recarga. Organizações como a FlipTerm e a MooVV também atuam para auxiliar na transição, oferecendo soluções para gestão de carregamento e gastos com recarga. Assim, o avanço do setor dependerá do desenvolvimento dessas soluções e de investimentos contínuos para viabilizar a operação eficiente dos veículos comerciais elétricos.

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