De Norte a Sul do Brasil, mercadorias e insumos passam pelas mãos da Rodonaves antes de chegar às prateleiras e outros destinos. Com mais de 3.000 caminhões, a transportadora completou 45 anos neste mês mantendo um modelo de gestão familiar. Dirigida pelo casal João e Vera Naves, a empresa com sede em Ribeirão Preto (SP) reúne hoje 10.000 funcionários e projeta expansão para os próximos anos.
- VEJA MAIS:
- Setor de implementos rodoviários recua 5,6%, mas Anfir vê estabilização do mercado
- Caminhões elétricos da Volvo superam marco de 250 milhões de km percorridos
- Inteligência artificial combate o roubo de carga, mas também representa riscos
João Naves, fundador e presidente da Rodonaves, foi um dos pioneiros no Brasil no que hoje se conhece como “last mile”, a última etapa da entrega de encomendas ao cliente. “Eu recebia os pacotes que chegavam de ônibus na rodoviária de Ribeirão Preto e distribuía pelas casas com a minha bicicleta”, contou Naves em entrevista ao Estradão. “Eu faturava um cruzeiro por pacote. O negócio ficou bom mesmo depois que eu comprei uma Kombi e comecei a receber dois cruzeiros por entrega.”
Em 1980, época da Rodonaves Transporte e Encomendas — a primeira fase da empresa —, um cruzeiro equivaleria hoje a algo entre R$ 0,25 e R$ 0,30. “Eu nunca fui careiro. Sempre cobrei o preço justo por um serviço de qualidade. E assim o negócio foi crescendo”, disse Naves, que comprou a primeira Kombi da empresa em 1981. "Em três anos, já tínhamos três Kombis e um caminhão pequeno", continuou João. A bicicleta, a 'Charmozinha', acabou aposentada, mas foi preservada pela companhia como uma relíquia.

De Ribeirão Preto para o Brasil
O trabalho que começou com uma bicicleta e depois com uma Kombi logo abriu novas rotas. “Chegou um momento em que Ribeirão Preto ficou pequena para nós”, recorda João Naves. “As encomendas começaram a vir de cidades vizinhas. Além disso, eu mesmo passei a dirigir os caminhões nas entregas mais distantes. Deixou de ser um serviço local para se transformar em uma transportadora regional.”
Entre 1980 e 1990, a Rodonaves operou em um pequeno box na rodoviária de Ribeirão Preto. Nesse tempo, a empresa realizava entregas com veículos próprios e também de parceiros. Foi nesse período que Vera Naves, esposa de João, passou a atuar mais diretamente no negócio, ajudando a organizar a parte administrativa e a profissionalizar os processos. Hoje, ela é vice-presidente da Rodonaves. “Eu cuido da conversa e ela dos números”, conta João. Vera rebate com bom humor: “Ele vai rasgando e eu vou costurando.”

O crescimento da Rodonaves acelerou a partir de 1987, quando a empresa firmou parceria com outra transportadora. A união abriu caminho para mais rotas de entrega e deu à empresa o impulso para sair das fronteiras do interior paulista. “A gente sempre acreditou em fazer junto, somar forças. Foi assim desde o começo”, lembra João.
Nos anos 1990, o volume de encomendas aumentou tanto que o pequeno box na rodoviária já não comportava a operação. A empresa se mudou para um prédio maior, no bairro Vila Virgínia, em Ribeirão Preto, e a parceria de antes se transformou em sociedade. “Era o sinal de que estávamos no caminho certo. A gente reinvestia tudo o que ganhava”, conta Vera.
Vendaval inspirou novos negócios
A partir de 1997, a Rodonaves ampliou sua atuação para Goiás e o Distrito Federal, abrindo as primeiras filiais fora de São Paulo. No mesmo ano, nasceu a Rodonaves Corretora de Seguros, criada para atender à demanda dos clientes em reforçar a segurança das operações. “Criamos a corretora depois do grande vendaval em Ribeirão Preto, em 1994, que arrasou nossa base. Sentimos como era essa dor, de precisar de um bom seguro”, explicou João.

Em 1998, o casal inaugurou a primeira sede própria da Rodonaves, com uma plataforma de 4.000 m² e área total de 14.000 m² no bairro Lagoinha, em Ribeirão Preto. “Era a casa que a gente sonhou construir para a empresa”, resume Vera.
Centros de distribuição, locação de caminhões, concessionárias
A partir dos anos 2000, a Rodonaves viveu uma nova fase de expansão e estruturação. A transportadora ampliou sua atuação para Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2006, inaugurou o novo Centro de Transferência de Cargas (CTC) em Americana (SP), com 5.000 m² de plataforma e 14.000 m² de área total, além de uma unidade de atendimento em São José do Rio Preto (SP). “Infraestrutura é o que dá sustentação ao crescimento. Sempre investimos antes de precisar”, revelou João Naves.
Em 2009, o casal inaugurou a nova sede da matriz em Ribeirão Preto. De acordo com a companhia, o espaço foi projetado para reunir eficiência operacional e conforto aos colaboradores. “Queríamos que o ambiente refletisse o tamanho da empresa e o cuidado com as pessoas que fazem parte dela”, explica Vera Naves.

A partir de 2011, o grupo diversificou os negócios. A criação da Rodonaves Iveco marcou a entrada no setor automotivo, oferecendo caminhões, peças e serviços de manutenção. Atualmente, a empresa possui três concessionárias. “A transportadora nasceu na estrada, então faz todo sentido entender também do veículo que carrega o nosso trabalho”, diz João. No ano seguinte, surgiram as empresas de locação e manutenção de caminhões, integrando novos serviços ao grupo.
Essa estrutura de apoio deu à Rodonaves mais agilidade e controle sobre a operação. “Tudo o que implantamos teve um propósito: manter a qualidade, bem como garantir que cada entrega chegasse com a nossa assinatura”, ressaltou Vera.
Hoje, a companhia administra uma rede com 427 unidades entre filiais, parceiros e 15 Centros de CTCs por todo País. Em 2024, a empresa transportou mais de 723 mil toneladas de cargas e realizou em média 84 mil coletas e entregas por dia.
Rodonaves volta às origens, mas com os olhos no futuro
Com 45 anos de estrada, a Rodonaves investe para se tornar o principal ecossistema logístico independente e integrado do Brasil até 2030. O plano estratégico inclui a ampliação dos negócios em transporte, armazenagem e tecnologia, além de investimentos em eficiência operacional e sustentabilidade. Dessa forma, a companhia projeta atingir R$ 6 bilhões em faturamento até o fim da década.

Para João Naves, o crescimento da empresa é resultado da união entre tradição e inovação. “A gente nunca parou de sonhar, mas também nunca perdeu o pé no chão. Tudo o que construímos veio de trabalho e de acreditar nas pessoas certas”, afirma. Vera complementa: “Nosso desafio agora é continuar crescendo sem perder a essência. A Rodonaves nasceu próxima das pessoas e é assim que queremos seguir.”
Entre as novas iniciativas, a divisão Rodonaves Express prepara um projeto de entregas urbanas com bicicletas elétricas, voltado às operações de última milha nas grandes cidades. A proposta é como um retorno às origens da companhia — que começou justamente com João Naves fazendo entregas de bicicleta em Ribeirão Preto —, mas com soluções sustentáveis e tecnologia de ponta. “É como fechar um ciclo”, diz João. “Voltamos à bicicleta, mas com um propósito ainda maior.”