A alta dos juros e o aumento no preço dos caminhões têm levado transportadoras a repensarem seus investimentos. Neste ano, muitos empresários decidiram não adquirir novos veículos, optando por alternativas como locação, terceirização ou intensificação da manutenção da frota atual, estendendo, assim, a vida útil dos caminhões.
A diretora administrativa da Zorzin Logística, Gislaine Zorzin, afirma que, se houver necessidade de ampliar a frota, a empresa recorrerá à locação. Atualmente, a transportadora já opera com seis caminhões alugados por meio da LM Locações, da Volkswagen Caminhões.
- VEJA MAIS:
- Cidade de São Paulo estuda uso do ônibus a gás da Scania
- Bloqueio de celular de caminhoneiro visa reduzir acidentes de trânsito
- Mercedes-Benz lança micro-ônibus LO 916R de uso misto
A Zorzin renovou parte da frota entre 2022 e 2023, aproveitando os preços mais acessíveis dos modelos Euro 5, descontinuados com a chegada da tecnologia Euro 6. Já em 2023, a empresa adquiriu unidades da nova geração, antecipando os reajustes provocados pela alta do dólar.

“Este ano, eu precisaria aumentar a minha frota. Porém, desde a metade do ano passado, decidimos não investir mais na compra de caminhões. Para nós, é uma pena, porque sempre compramos veículos — a empresa foi construída assim. No entanto, os juros estão altos e está difícil manter os financiamentos”, explica Gislaine.
Locação pode ser até 25% mais vantajosa
Segundo a executiva, o valor do frete não acompanha o aumento dos custos do transporte, como caminhões e óleo diesel. Por isso, se surgirem novos contratos em 2025, a empresa pretende alugar os veículos.
Apesar de abrir mão da posse dos ativos, a Zorzin Logística vê vantagens na locação. A principal delas é que a manutenção fica sob responsabilidade da locadora. À transportadora cabem apenas o abastecimento, a operação e o seguro dos veículos. Como resultado, o custo operacional de um caminhão alugado pode ser até 25% menor que o de um veículo próprio ainda financiado.
“Temos caminhões pesados cujo financiamento custa R$ 30 mil por mês, cada um. Além disso, há os custos de manutenção — mesmo sendo novos, exigem troca de filtros, óleo etc. Já na locação, um modelo equivalente sai por R$ 17 mil mensais”, detalha Gislaine.
Venda do usado dificulta renovação
A Ghelere Transportes também precisou rever seus planos. A empresa previa comprar 40 caminhões em 2024, usando parte do valor obtido com a revenda de modelos usados da frota — cuja idade média é de 3 anos. A ideia era usar esse valor como entrada para a aquisição dos novos veículos e financiar o restante.
No entanto, os preços dos usados também subiram, dificultando a revenda. Como consequência, a empresa deve adiar a renovação e pode até ver a idade média da frota aumentar, também em função da alta da Selic, que encarece as parcelas de financiamento.
“Além disso, não estou vendo as montadoras recuarem nos preços. Os fabricantes aceitam o caminhão usado como parte do pagamento, mas oferecem cerca de 20% abaixo da tabela Fipe, e ainda cobram mais caro pelo modelo 0 km. Assim, para nós, não compensa. É melhor revender no mercado e usar esse dinheiro como entrada”, afirma o CEO Eduardo Ghelere.

Diante disso, a manutenção, que sempre foi feita regularmente, agora ganha prioridade, já que os caminhões mais antigos seguirão operando.
Ainda assim, antes da Fenatran, a Ghelere comprou 112 novos caminhões pesados, que se somam à frota de 400 veículos. Além disso, adquiriu 70 novos implementos para acoplar em caminhões de motoristas agregados — atualmente, 50 atuam para a empresa. Essa estratégia permite manter os contratos sem extrapolar o orçamento. A empresa também considera ampliar esse modelo de parceria.
Fim de contratos com baixa rentabilidade
Outra medida adotada pela Ghelere Transportes foi o encerramento de contratos com clientes que não pagam em dia ou não aceitam reajustes. Somente neste ano, quatro contratos foram encerrados.
“Há fretes que não cobrem os custos operacionais. Tínhamos cliente cuja carga e descarga demorava muito, e o valor pago não compensava. Com o aumento dos custos, é melhor encerrar o contrato do que operar no prejuízo”, avalia Ghelere.
Tomasi Logística reduz plano de expansão para 2025
A Tomasi Logística também revisou suas projeções. Tradicionalmente, a empresa define no fim do ano a quantidade de veículos a ser adquirida no ano seguinte. No entanto, ao final de 2024, decidiu reduzir pela metade o volume previsto de compras para 2025.

O plano original previa a aquisição de 100 novos caminhões. Agora, serão apenas 50. Segundo o diretor executivo Diego Tomasi, 80% da compra seria destinada à ampliação da frota, e o restante, à renovação.
Além da alta dos juros, a empresa projeta uma retração do PIB, o que deve impactar diretamente as operações de transporte.
“Entendemos que não haverá uma demanda tão aquecida para caminhões. Por isso, optamos por uma compra mais conservadora”, explica Tomasi.
Expectativa moderada no setor
A Tomasi Logística atua em diversos segmentos, como transporte alimentício, de materiais acabados e peças automotivas. De acordo com Diego Tomasi, com base nas projeções dos clientes, alguns setores devem registrar apenas um crescimento orgânico em 2025, especialmente devido ao aumento do dólar.
“Vamos manter os contratos atuais. Mas não prevemos a abertura de novas rotas nem aumento na demanda”, conclui o executivo.