A Carteira de Habilitação Nacional (CNH) de categoria C é a porta de entrada para quem deseja trabalhar como caminhoneiro no Brasil. Este tipo de habilitação permite dirigir veículos de carga não articulados. Ou seja, caminhões toco ou trucados com mais de 3,5 toneladas de peso bruto total. Depois de conquistar a habilitação, os motoristas podem se desenvolver e migrar para as categorias D e E, que permitem dirigir caminhões pesados, carretas e ônibus.
Contudo, o interesse dos brasileiros em ter a CNH de categoria C diminuiu nos últimos anos. Um levantamento do Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC), feito com base nos dados do Denatran, mostrou que, desde 2015, o número de habilitados cai em torno de 5,9% ao ano. Antes, o País registrava crescimento em torno de 1,4% a cada 12 meses.
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O número de registros de novos motoristas de caminhões em São Paulo mostra quedas ainda mais acentuadas que a média nacional. O Estado com a maior frota de veículos do País chegou a registrar retração de 8,9% de profissionais com CNH categoria C entre 2017 e 2018.
Em 2022, o Brasil chegou ao menor número de habilitados na categoria C, com retração de 1,67% na comparação com 2021. Ou seja, 4,3 milhões pessoas habilitadas para dirigir caminhões. Em 2015, existiam 5,6 milhões. Assim, há 1,2 milhão de motoristas a menos que 2015.
Baixos salários e altos custos desencorajam busca pela CNH
A queda no número de habilitados pode estar relacionada à baixa remuneração dos motoristas, bem como à falta de uma boa estrutura de trabalho. Prova disso é que a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) apontou que os caminhoneiros precisam trabalhar 13 horas por dia para ter uma renda mensal de R$ 4 mil. Além disso, ganham pouco em relação ao custo de manutenção do veículo, que não para de subir.
Segundo a CNTA, o diesel representa até 50% dos gastos mensais com o caminhão. Assim, é o item que mais inflacionou nos últimos dois anos. De acordo com a associação, outro fator que afasta o interesse pela CNH de categoria C é a desvalorização constante do frete.
Como resultado, é difícil para os caminhoneiros autônomos contratarem fretes com preços justos. "Quem não quiser carregar pelo valor oferecido é substituído por outro autônomo que aceita preços menores", aponta o assessor executivo da CNTA, Marlon Maues, ao Estradão. Segundo ele, isso está relacionado à dificuldade de os caminhoneiros negociarem diretamente com os embarcadores.
Jovens rejeitam a profissão
O interesse dos jovens pela profissão de motorista de caminhão também vem despencando no Brasil. Atualmente, 60% dos profissionais do setor têm mais de 50 anos. O dado é da Associação Nacional do Transporte & Logística (NTC). Como não há renovação na categoria, em breve haverá falta de motorista com CNH para dirigir caminhão no mercado.
Presidente da NTC, Francisco Pelucio, diz que até pouco tempo atrás era comum o filho do caminhoneiro seguir a profissão do pai. Contudo, ele afirma que isso mudou. "Hoje, não existe mais", diz Pelucio. Da mesma forma, fatores como baixos salários, falta de qualidade de vida e distância da família afastam os jovens da profissão. Pelucio lembra que o alto índice de roubo de cargas também assusta. "O número (de casos) vem diminuindo, mas preocupa".
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