A Marcopolo, uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo, vive um momento estratégico de expansão global. Depois de 16 anos afastada da Europa, a companhia volta a atuar no continente com o Paradiso 1200 G8, modelo rodoviário de alto padrão que já soma mais de 5 mil unidades vendidas desde seu lançamento em 2021.
Além disso, a empresa consolida sua presença na Austrália e amplia a oferta de tecnologias de propulsão limpa. Do mesmo modo, fortalece parcerias com montadoras de chassis em diferentes continentes.
O movimento reflete a busca da Marcopolo por protagonismo em mercados mais maduros e regulados, que exigem avanços em segurança, conectividade e emissões. Todavia, ao mesmo tempo em que se adapta às normas europeias e australianas, a fabricante mantém foco no Brasil, onde desenvolve soluções inovadoras, como o ônibus híbrido a etanol, e projeta um cenário de renovação de frota em atraso no país por pandemia e cenários econômicos.
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Nesta entrevista ao Estradão, o CEO André Armaganijan explica as razões da volta à Europa, e comenta a importância de estar na Austrália. E detalha as diferentes rotas tecnológicas que a empresa aposta para continuar relevante no mercado mundial de ônibus.
O retorno à Europa

Por que a Marcopolo deixou o mercado europeu em 2009 e o que motivou o retorno agora?
Naquele momento, o mercado europeu era altamente competitivo. Os fabricantes de chassis ofereciam soluções completas, com carroceria e tudo mais. Isso dificultava a entrada de uma empresa como a nossa.
Mas hoje o cenário mudou. As montadoras de chassis concentram esforços no desenvolvimento de novas tecnologias e procuram parceiros de carroceria. Como já somos parceiros globais desses fabricantes em vários países, encontramos uma oportunidade de voltar. Além disso, a Europa é uma vitrine mundial, e estar lá reforça a nossa marca.
O Paradiso 1200 G8 foi o modelo escolhido para a reestreia. Por quê?
Porque ele já se mostrou um produto de sucesso global. Lançamos em 2021 e já vendemos mais de 5 mil unidades no mundo. É um ônibus rodoviário com forte apelo de design, conforto, conectividade e segurança. No entanto, fizemos ajustes técnicos para atender às exigências regulatórias da União Europeia, como normas de emissões, cibersegurança e itens de segurança ativa. Além disso, esse é um segmento em que a diferenciação é clara, o que facilita a aceitação do produto.
Estratégia comercial e expansão
Quais mercados europeus terão prioridade?
Começaremos pela Península Ibérica, especialmente Espanha e Portugal. Mas vamos estrear na Itália e na França. Esses países têm grande afinidade com nosso tipo de produto e modelo de negócios. Contudo, não se trata apenas de vender. Precisamos de uma rede de assistência técnica robusta e parceiros comerciais confiáveis. Estamos trabalhando nisso caso a caso.
Vocês pensam em ampliar a gama de modelos oferecidos na Europa?
Por enquanto o foco é no Paradiso 1200. A Marcopolo tem um portfólio amplo, que vai de urbanos a rodoviários pesados. Mas decidimos começar com o que melhor se diferencia. No futuro, poderemos expandir. Todavia agora a prioridade é consolidar esse modelo.
A produção será local ou continua no Brasil?
Hoje o desenho é produzir no Brasil e exportar. A Marcopolo tem fábricas na Colômbia, no México e parcerias em outros países. Mas decidimos seguir com o Brasil como base. Se o mercado crescer e justificar, podemos discutir alternativas, inclusive uma produção mais próxima da Europa. No entanto, no primeiro momento a estratégia é atender a demanda usando nossa estrutura atual.

O câmbio e os custos logísticos impactam a competitividade da Marcopolo no mercado europeu?
Tema tarifário sempre reduz a competitividade do nosso produto. No entanto, entendemos que, nessa estratégia de expansão, o melhor caminho para validar a aceitação do Paradiso G8 é estar próximo do cliente, oferecendo o produto certo com nível de serviço e suporte ideais. Mesmo que isso signifique perder competitividade no curto prazo, acreditamos que vale a pena.
Além disso, se o mercado europeu crescer como esperamos, aí sim podemos discutir alternativas para melhorar nossa competitividade. Seja com ajustes logísticos ou até avaliando a viabilidade de uma produção local.
Austrália e outros mercados
A Marcopolo também reforçou sua presença na Austrália com o G8. Como está esse movimento?
A Austrália é um mercado importante para nós há décadas. Temos uma operação consolidada lá, com produção local de modelos urbanos feitos de alumínio. Agora levamos também o Paradiso G8, produzido na China, para atender ao segmento de fretamento e turismo. Além disso, lançamos uma versão a hidrogênio. O que reforça nosso compromisso com soluções limpas.
O produto vendido na Austrália é diferente do europeu?
As exigências técnicas variam. A Austrália tem normas similares às da Europa em muitos aspectos, embora existam particularidades. Além disso, a logística pesa. Por isso, optamos por produzir na China os modelos que vão para a Austrália, aproveitando a proximidade geográfica. Porém, em termos de qualidade e conceito, mantemos o padrão global do G8.
Tecnologias de propulsão
Quais são as frentes tecnológicas em que a Marcopolo está investindo?
Trabalhamos em várias soluções. Ou seja, elétricos, híbridos, a gás e até hidrogênio. Já vendemos mais de mil ônibus elétricos em mercados como Brasil, Austrália, Colômbia e México. Contudo, cada país tem uma matriz energética distinta e isso influencia a escolha. Em alguns lugares o gás faz mais sentido, em outros, a eletrificação é prioridade.
E quanto ao etanol híbrido?
Essa é uma solução promissora, especialmente para o Brasil. O ônibus combina motor elétrico com propulsão a etanol, reduzindo a necessidade de infraestrutura de recarga, que ainda é um gargalo da eletrificação. Além disso, aproveita a matriz energética local, já que o etanol é amplamente disponível no País. Apresentamos o modelo no ano passado e seguimos em testes. Queremos lançar comercialmente em breve.
Perspectivas para o Brasil
O mercado interno de ônibus foi afetado por juros altos e pela concorrência do transporte aéreo no caso dos rodoviários. Como você enxerga 2026?
Apesar dos juros, a demanda por transporte de passageiros segue ativa. O envelhecimento da frota no Brasil cria uma necessidade de renovação, pois veículos mais antigos aumentam custos de manutenção. Além disso, a eleição municipal de 2026 pode estimular compras. Portanto, acreditamos que o próximo ano será semelhante a 2025, com chance de melhora em função desse contexto. Nesse sentido, estamos em linha com a Anfavea.
O ciclo eleitoral de 2026 pode influenciar o mercado de ônibus?
Sim, principalmente no segmento de escolares. Em anos de eleição municipal, os governos locais costumam renovar frota. Isso pode trazer um impacto positivo e até tornar 2026 um pouco melhor que 2025.