Ao apresentar o estudo Caminhos da Descarbonização, o presidente da Anfavea, Igor Calvet, disse que o Brasil ocupa posição de liderança mundial na redução das emissões por caminhões e ônibus. Segundo o líder da associação das montadoras, isso é resultado direto da combinação de matriz elétrica 90% renovável, uso de biocombustíveis e política industrial alinhada à sustentabilidade.
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Segundo Calvet, o País se diferencia não apenas na produção, mas também no uso e no processo de descarte dos veículos. “Temos uma vantagem competitiva em toda a cadeia. Ou seja, da fabricação de caminhões e ônibus ao fim de vida do produto. A nossa matriz energética é 50% renovável e a matriz elétrica chega a 90%. Isso faz com que cada caminhão e ônibus feito e utilizado no Brasil tenha uma pegada de carbono menor do que em qualquer outro grande mercado do mundo”, afirma.
A afirmação é baseada em um estudo feito pela Anfavea feito em parceria com o BCG. Assim, no caso dos caminhões urbanos, por exemplo, um modelo com motor a diesel abastecido com 15% de biodiesel (B15) emite menos CO₂ do que um caminhão elétrico equivalente rodando na China. Isso porque boa parte da eletricidade gerada no país asiático é proveniente da queima de carvão.

Caminhões e ônibus mais limpos do planeta
Conforme o estudo, um caminhão que usa 100% de biodiesel (B100) pode ser equiparado a um elétrico no quesito emissões. Dessa forma, o argumento reforça o potencial dos biocombustíveis como solução imediata para a descarbonização do setor de transporte de carga. De acordo com Calvet, o Brasil tem os caminhões urbanos com o menor nível de emissões de CO₂ do planeta.
“Quando olhamos os dados, percebemos que o nosso caminhão a diesel com 15% de biodiesel emite menos que o elétrico chinês. Isso mostra que o País pode seguir descarbonizando com as ferramentas que já possui. Ou seja, sem depender exclusivamente da eletrificação”, afirma.
Nos caso dos ônibus urbanos, a vantagem brasileira é ainda mais expressiva, conforme o estudo da Anfavea. Assim, o modelo a diesel B15 tem o menor nível de emissões do mundo. Enquanto o ônibus 100% a biodiesel apresenta resultado melhor que o do elétrico que roda na China ou nos Estados Unidos.

“O elétrico brasileiro tem o melhor desempenho global. Mas o B100 já é uma alternativa eficaz e realista para o transporte público urbano”, avalia o presidente da Anfavea. Esses resultados reforçam que o Brasil não parte do zero na transição energética. Mas sim de uma base sólida construída com décadas de investimento em biocombustíveis.
Transição sob medida para cada realidade
Calvet comenta que a eletrificação é viável e desejável. Porém, ainda depende da expansão da infraestrutura energética e da disponibilidade de pontos de recarga. Por isso, a transição precisa ser ajustada à realidade de cada aplicação.
“A eletrificação faz mais sentido para caminhões urbanos, com rotas curtas e previsíveis. Já nas longas distâncias, os biocombustíveis continuam essenciais”, explicou.
Ademais, o presidente lembra que, nos caminhões rodoviários, o biometano é hoje a alternativa mais limpa no mundo. Embora seu uso ainda seja limitado.
“Nós provamos que é possível descarbonizar com soluções já disponíveis. O biometano e o biodiesel garantem resultados concretos enquanto a eletrificação avança”, completa.
Competitividade sustentável

Na avaliação de Calvet, a sustentabilidade deixou de ser um diferencial e se tornou um fator central de competitividade global. Por isso, o executivo defende que o Brasil deve seguir investindo em rotas múltiplas de descarbonização, aproveitando a infraestrutura já existente e a liderança em combustíveis renováveis.
“A descarbonização não depende apenas das montadoras, mas de toda a cadeia produtiva. O estudo mostra que independentemente da tecnologia, o Brasil emite menos. E isso precisa ser entendido como um ativo estratégico”, afirmou.
Calvet reforça que o País deve continuar apostando no biodiesel, biometano e eletrificação. Ou seja, sem optar por uma única rota tecnológica.
“O mundo não vai esquecer o elétrico. Mas o Brasil pode fazer diferente. Podemos descarbonizar com o que já temos. E essa é uma vantagem competitiva que nenhum outro país do G20 possui.”