Quando cruzar com um caminhão na estrada sorria, você provavelmente está sendo filmado. A presença de câmeras é cada vez mais comum em veículos pesados no Brasil. Hoje, empresas de diferentes portes apostam na videotelemática, que une gravações em vídeo a dados de telemetria para aumentar a segurança das frotas.
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Nos últimos anos, o uso de câmeras evoluiu do simples registro de imagens para sistemas ativos de monitoramento. Em entrevista ao Estradão, Eduardo Canicoba, vice-presidente da Geotab Brasil — empresa que oferece soluções de telemetria para gestão de frotas — explicou que os sistemas atuais têm caráter preventivo e preditivo. “Além da captura de imagens, é possível obter informações contextualizadas sobre velocidade, localização, eventos de risco, entre outros dados.”
Atualmente, existem dois tipos de sistemas de monitoramento por imagens. As câmeras DMS (Driver Monitoring System) ficam na cabine do veículo e acompanham o comportamento do motorista na direção. Já as câmeras externas, frontais e laterais, ou mesmo instaladas na traseira de implementos rodoviários, funcionam associadas aos sistemas de segurança ativa ADAS (Advanced Driver Assistance System), dispositivos eletrônicos de auxílio à condução dos veículos.
E quem fica de olhos nas imagens são softwares de inteligência artificial. Os programas diferenciam, por exemplo, um simples piscar de olhos de um cochilo real e emite alertas imediatos ao motorista. “As soluções da Geotab incorporam IA capaz de detectar fadiga, distração, uso de celular e até realizar reconhecimento facial para confirmar a identidade do motorista. Essa evolução marca a transição de um modelo reativo para um modelo preditivo”, afirmou Canicoba.
Câmera com IA brasileira detecta armas
Um software de inteligência funciona com “machine learning”. Ou seja, ela recebe muitos dados e aprende a identificar padrões. Dessa forma, consegue fazer previsões e tomar decisões baseadas nas regras programadas. Enquanto isso, soluções como as da T4S Tecnologia, empresa de Barueri (SP) especializada em segurança de cargas, ampliam o conceito. Um de seus produtos é o Anjos da Guarda, um sistema de monitoramento por câmeras com um software de IA que aprendeu a identificar armas.

“Nosso sistema de câmeras já é capaz de identificar uma arma no coldre, na calça de uma pessoa, antes de ela ser sacada”, revelou Luiz Henrique Nascimento, diretor comercial da T4S. A IA desenvolvida no Brasil também lê a placa de todos os veículos pelo caminho e identifica modelos suspeitos com base em dados das polícias. “A tecnologia atua antes de o crime se consolidar, transformando o veículo em uma barreira ativa contra o roubo de cargas”, explicou o executivo.
Redução de acidentes e custos operacionais
De acordo com a Geotab, a simples adoção da telemetria reduz em até 40% as taxas de colisão. Quando associada às câmeras, a eficiência cresce, pois os vídeos permitem esclarecer acidentes e fraudes rapidamente, diminuindo custos com manutenção e tempo de inatividade. Além disso, os gestores conseguem orientar os motoristas em tempo real, corrigindo comportamentos como o uso do celular ao volante, condução muito próxima a outro veículo ou sinais de cansaço.
“As câmeras veiculares com tecnologia de IA oferecem dados sobre o desempenho dos condutores, apoiando programas de treinamento, aumentando a segurança da frota e reduzindo custos com danos veiculares”, contou o vice-presidente da Geotab no Brasil.
No caso da T4S, Nascimento relatou que as câmeras funcionam como instrumentos de dissuasão contra criminosos. “As quadrilhas que roubam cargas são engenhosas. São crimes planejados, e eles sabem quais equipamentos de vigilância as transportadoras usam ou não, assim como a capacidade de cada um.”

Desafios de implementação e aceitação dos motoristas
Embora a tecnologia ofereça ganhos, sua adoção ainda enfrenta desafios. Motoristas, em muitos casos, resistem por receio de invasão de privacidade. No entanto, empresas têm contornado essa barreira com transparência. O sistema da Geotab, por exemplo, ativa as gravações apenas quando o veículo está ligado, e o dispositivo da T4S desliga automaticamente as câmeras internas durante paradas e pernoites.
No Brasil, o vice-presidente da Geotab orienta as transportadoras a promoverem programas de treinamento com os motoristas para esclarecer o uso das câmeras. “A solução não tem caráter punitivo, mas visa à preservação da segurança. Quando se demonstra que a tecnologia existe para auxiliá-los, os motoristas passam a reconhecer o benefício de contar com evidências em situações de risco, garantindo respaldo em caso de incidentes e comprovando sua conduta correta.”
A expectativa das empresas de monitoramento e gestão de frotas é de que as câmeras se tornem padrão nas operações, integradas a sensores de freio, aceleração e proximidade, permitindo decisões mais rápidas e estratégias de segurança mais eficazes. Além disso, a adoção tende a ser impulsionada por seguradoras, que devem incentivar o uso da tecnologia para aumentar a segurança no transporte.