O Brasil vive um ponto de inflexão na transformação de sua frota de caminhões. De acordo com o relatório “Dez razões para o Brasil liderar o uso de caminhões elétricos na América Latina”, divulgado pela associação internacional Gigantes Elétricos, o País combina matriz energética limpa, base industrial consolidada e políticas públicas de incentivo que o colocam em posição estratégica na corrida pela eletrificação do transporte pesado.
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O documento reúne dez fatores que explicam por que o Brasil pode liderar a transição regional. Os temas vão do ambiente regulatório aos investimentos da indústria. O relatório também destaca os ganhos ambientais, sociais e econômicos dessa mudança. Segundo a associação, o País vive um processo de transformação acelerada. Além disso, a entidade aponta que essa conjuntura cria uma oportunidade concreta para unir inovação tecnológica, sustentabilidade e geração de empregos de qualidade.
Ambiente regulatório favorável à eletrificação
O relatório aponta que o Programa MOVER (Mobilidade Verde e Inovação) cria as bases para acelerar a adoção de caminhões elétricos no Brasil. O plano prevê R$ 19 bilhões em incentivos até 2028, incluindo créditos fiscais para pesquisa, desenvolvimento e descarbonização. Embora as normas específicas para veículos pesados ainda estejam em elaboração, a associação ressalta que essa fase de definição representa uma oportunidade para o País influenciar padrões técnicos e regulatórios na região.
Indústria automotiva em transformação
O documento observa que a indústria automotiva brasileira atravessa um ciclo intenso de reestruturação e investimento. Montadoras como Scania, Volkswagen e BYD anunciaram aportes bilionários para produzir ou desenvolver caminhões elétricos no Brasil. Esse movimento, segundo a Gigantes Elétricos, indica que o setor privado já lidera a transição logística, apesar dos custos iniciais elevados para pequenas empresas.
Crescimento do interesse de investidores
A eletrificação também desperta confiança crescente entre investidores. De acordo com o relatório, o mercado de caminhões elétricos no Brasil deve crescer em média 25,6% ao ano entre 2025 e 2031, segundo projeção da consultoria 6W Research. Além disso, a expansão da infraestrutura de recarga — estimada em 15 mil pontos até o fim da década — e as novas linhas de crédito do BNDES reforçam a viabilidade econômica da transição.
Eletrificação da logística já começou
O levantamento da Gigantes Elétricos mostra que a adoção de veículos elétricos comerciais já está em curso. Entre 2019 e 2024, o número total de elétricos em circulação no país subiu de 41 mil para 177 mil unidades, e deve atingir 300 mil até 2029. Empresas de logística e varejo, como Mercado Livre, Ambev e JBS, ampliam rapidamente suas frotas elétricas, aproveitando reduções de até 50% no custo por quilômetro rodado em comparação aos modelos a diesel.
Ganhos ambientais e de saúde pública
Segundo o relatório, a substituição progressiva dos caminhões a diesel por modelos elétricos pode reduzir drasticamente a poluição do ar nas grandes cidades. A Sociedade Brasileira de Pneumologia estima que as emissões de motores a combustão estão associadas a até 102 mil mortes por ano no Brasil. A eletrificação, portanto, traria benefícios diretos à saúde pública. Dessa forma, a Gigantes Elétricos calcula que regras mais rígidas de emissões poderiam evitar cerca de 14 mil mortes e gerar economia de R$ 62 bilhões em saúde nas seis maiores capitais brasileiras em apenas três anos.
Potencial de geração de empregos
Conforme o relatório, a transição energética também cria novas oportunidades de trabalho qualificado. O International Council on Clean Transportation (ICCT) projeta que a eletrificação pode dobrar o número de empregos no Brasil até 2050. Segundo a Gigantes Elétricos, o crescimento da produção nacional de baterias e veículos elétricos tende a impulsionar setores intensivos em mão de obra, especialmente o de serviços, que representa mais de 60% dos empregos formais no País.
Eficiência logística nas cidades
A associação aponta que 65% das cargas brasileiras ainda são transportadas por rodovias, o que reforça a importância de soluções mais limpas e eficientes para o ambiente urbano. Em 2024, 90% das vendas de caminhões elétricos no mercado nacional corresponderam a modelos leves e médios, ideais para entregas de curta e média distância. De acordo com o relatório, essa tendência reflete a adequação dos veículos elétricos ao perfil logístico brasileiro, com ganhos de eficiência e redução de ruído nas cidades.
Oportunidade para ampliar exportações
Com 79% dos caminhões pesados produzidos no País destinados à exportação, o Brasil já ocupa posição relevante no mercado regional. A Gigantes Elétricos afirma que a produção local de modelos elétricos pode expandir a pauta exportadora nacional, agregando valor por meio de baterias, sistemas de recarga e tecnologia embarcada. Assim, o País pode consolidar-se como fornecedor estratégico de veículos sustentáveis na América Latina, prevê a associação.
Vantagem energética única
O relatório salienta que o Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, sustentada por fontes hidrelétricas, solares e eólicas. Essa característica permite reduzir até 76,5% dos custos operacionais dos caminhões elétricos em comparação aos modelos a combustão. Além disso, a disponibilidade doméstica de lítio e energias renováveis protege o País da volatilidade do petróleo, tornando-o mais resiliente diante de crises internacionais de energia.
Redução progressiva de custos
Por fim, o relatório aponta que o mercado de caminhões elétricos se expande rapidamente no Brasil. O número de modelos disponíveis saltou de 14 em 2020 para 101 em 2023, impulsionado pela produção nacional e pelos incentivos do Programa MOVER. Desde 2008, o custo das baterias caiu cerca de 90%. Ademais, a Gigantes Elétricos estima que, nos próximos anos, o custo total de propriedade dos caminhões elétricos se equipare ao dos modelos a diesel, confirmando a viabilidade econômica da transição.